A horticultura é um fator muito relevante no contributo da mulher na sociedade guineense, além de garante da segurança alimentar e nutricional da população, bem como do desenvolvimento dos mercados e da economia.
Este setor, a par do caju (a principal cultura de rendimento do país) e do arroz (produto base da alimentação guineense), é de tal forma pertinente no contexto da Guiné-Bissau, que o governo, assim como os financiadores internacionais e as ONG’s o colocaram na agenda como uma das prioridades nas políticas de desenvolvimento do país.
Essa atividade, praticada pouco mais de 95 por cento pelas mulheres, tanto nas zonas rurais como urbanas, representa uma base essencial da economia, mas devido às limitações de meios materiais, aliada à fraca capacidade técnica das horticultoras, apesar dos esforços das organizações e projetos de apoio, a sua evolução na Guiné-Bissau está ainda aquém das expetativas.
De acordo com o PNIA – Plano Nacional de Investimento Agrícola, essa atividade secular é praticada por todas as etnias do país.
A horticultura começou a evoluir no país a partir da década de 60 e, progressivamente, incluída nas políticas públicas, com estudos e investigações sobre sua importância.
Situação das mulheres
Na Guiné-Bissau as mulheres representam cerca de 51 por cento da população, mas continuam ter menor representatividade na esfera de decisão. São frequentemente vítimas de violações, nomeadamente casamento precoce e forçado, violência doméstica, Mutilação Genital Feminina (MGF), abusos de diversa natureza, violência sexual e assédio nos locais de trabalho.
Ser mulher na Guiné-Bissau significa vida dura, porque a maioria de mulheres guineenses vive em situação de extrema pobreza, e em muitos casos são responsáveis para o sustento familiar, educação, saúde e proteção dos filhos, o que as obrigam a dedicarem-se arduamente aos trabalhos decentes, destacando aqui a agricultura familiar, pequeno comércio e aos trabalhos domésticos.
Para inverter esta situação, as organizações de desenvolvimento estão fortemente empenhadas na conceção e implementação de projetos de apoio, com o objetivos de promover os direitos da mulher, reforçar a sua emancipação social, política e económica.
Aliás, esse compromisso dos parceiros internacionais com a Mulher guineense remonta década de 70, depois da proclamação da independência da Guiné-Bissau, em que vários países amigos têm contribuído para o desenvolvimento do setor agrário, com incidência direta no apoio às iniciativas de mulheres horticultoras, através de financiamento de grandes programas e projetos.
Com a liberalização económica e institucional foi criada, na década de 90, uma estrutura administrativa (SOLIDAMI) para facilitar a criação de organizações da sociedade civil e de base comunitária, abrindo assim um novo horizonte de cooperação descentralizada com países de norte.
Desde este período, o país conheceu a criação e desenvolvimento de inúmeras organizações (ONG`s e associações de base), com o objetivo de apoiar a população na luta pela autopromoção do desenvolvimento comunitário.
Graças a essas dinâmicas, o tecido organizacional das mulheres horticultoras tem conhecido grandes avanços em termos de mobilização e agrupamento em coletividades, para desenvolver trabalhos conjuntos e reforçar a sua emancipação.
Apesar desse compromisso e vontade demostrada no apoio ao desenvolvimento comunitário e resiliente à segurança alimentar e nutricional, o setor hortícola tem conhecido enormes dificuldades, que vão desde a fraca capacidade de gestão organizacional, acesso aos recursos financeiros, tecnologias de transformação e conservação e acesso aos mercados mais competitivos.
Potencialidades e ações das ONG

A horticultura na Guiné-Bissau é uma atividade agrícola importante que desempenha um papel significativo na economia local e na segurança alimentar das famílias. Apesar dos desafios como a seca, as pragas e a falta de infraestruturas adequadas, o setor tem um grande potencial de crescimento.
Atualmente, a horticultura conhece novos rumos e novas estratégias graças ao apoio dos projetos de desenvolvimento, através de intervenções das ONG que continuam empenhadas na mobilização de parcerias estratégicas de apoio ao desenvolvimento comunitário, através de envolvimento e capacitação técnica das organizações de mulheres horticultoras nas diferentes regiões, setores, seções e comunidades.
É nesta senda que a ONG DIVUTEC-Associação Guineense de Estudos e Divulgação de Tecnologias Apropriadas e seu parceiro ACPP da Espanha estão empenhadas na identificação, formulação, mobilização e implementação de projetos de desenvolvimento comunitário, centrados na promoção dos direitos humanos, nomeadamente educação, segurança alimentar e nutricional, saúde, acesso á água potável e reforço de capacidades técnicas das comunidades.
Assim, a componente horticultura constitui grande prioridade da ação da DIVUTEC ao lado de outros domínios como a educação, saúde, água potável, higiene e saneamento, apoiando atualmente a valorização de mais de 20 hortas comunitárias que enquadra cerca de dois mil mulheres horticultoras nas regiões de Quinara, Tombali e Bafatá.
Igualmente, no passado recente, a DIVUTEC e seus parceiros apoiaram e continuam a apoiar vários agrupamentos de mulheres de atividade económica como horticultura, produção agrícola diversa, transformação de produtos e pequeno comércio nas suas zonas de intervenção prioritária, nas regiões de Gabu, Bafatá, Quínara, Tombali, Biombo e Setor Autónomo de Bissau.
Esses apoios têm impactos positivos na vida económica, social e cultura das mulheres, reforçando seu papel na sociedade e na própria família, promovendo seu pleno direito, com voz e vez.
Esses impactos são bem evidentes também na escolarização, saúde das crianças e na melhoria da dieta alimentar das famílias, na promoção da equidade de género, paz e justiça social.
Situação real da atividade hortícola
Apesar dos apoios de parceiros e das novas abordagens do desenvolvimento do setor, a atividade hortícola ainda continua enfrentar enormes desafios de desenvolvimento, motivado, segundo técnicos de desenvolvimento comunitário e ambientalistas, por vários fatores, com destaque para alterações climáticas, ataques de pragas, insuficiência de infraestruturas de apoio à produção, tais como água para irrigação dos perímetros, vedação dos campos, fraco conhecimento técnico das horticultoras, dificuldade de acesso às sementes de qualidade, pesticidas, falta de infraestruturas de conservação de produtos, acesso aos mercados, limitação de financiamentos, entre outros.
Mas, mesmo assim, as horticultoras estão empenhadas e com vontade de trabalhar cada vez mais, o que faz com que o setor da horticultura esteja a progredir paulatinamente, cultivando variedades de hortaliças e frutas como alface, couve, tomate, pimentão, cebola, quiabo, abóbora, salsa, beringela, repolho, djacatu, malagueta, batata-doce, manga, caju, entre outros.
Essa determinação das mulheres contribui de maneira significativa na redução da dependência do país aos mercados estrangeiros para o acesso aos legumes e hortaliças, o que em certa medida também, leva a rotura e especulação de preços.
Benefícios de produtos hortícolas
De acordo com técnicos de saúde e nutricionistas, os produtos hortícolas desempenham um papel crucial na saúde e na nutrição, trazendo benefícios diversos.
É importante consumir os produtos hortícolas, pois, são fontes ricas de vitaminas C, A e B e minerais como ferro, cálcio, etc, e fibras.
O elevado teor de fibras e antioxidantes nos vegetais contribui para a prevenção de doenças crónicas como cardiovasculares, alguns tipos de cancro e diabetes.
O consumo regular de vegetais frescos fortalece o sistema imunitário, ajudando o organismo a combater a malária e doenças diarreicas que afetam o estado nutricional.
Entretanto, os produtos hortícolas são essenciais, não só como um pilar da dieta alimentar saudável para o fornecimento de nutrientes vitais, mas também como um motor económico importante para a subsistência e segurança alimentar das famílias.
Djuldé Djaló
