A Guiné-Bissau assume a presidência rotativa da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) para os próximos dois anos. O mandato foi confirmado na XV Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo, realizada, dia 18, no país, sob lema “CPLP e a Segurança Alimentar: Um caminho para desenvolvimento sustentável”.
Depois da escolha, o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, proferiu um discurso, no qual disse que a CPLP não é apenas uma organização intergovermental, mas uma família, uma comunidade global presente em quatro continentes e unida pela riqueza da língua portuguesa e por um património comum que continua a evoluir de Lisboa à Luanda, de Bissau à Brasília, de Maputo à Díli e de Praia ao São Tomé e Malabo.
Segundo o Chefe de Estado, esses países estão ligados pelos valores da paz, da cooperação e do respeito mutuo.
Por outro lado, afirmou que a Guiné-Bissau vai assumir a presidência com responsabilidade no sentido de fortalecer a comunidade, de forma a enfrentar juntos os desafios comuns, como o desenvolvimento sustentável, a segurança alimentar, a educação, as mudanças climáticas, a mobilidade e a inclusão comunitária.
O Presidente da República disse que as prioridades desse mandato assentarão fundamentalmente em três pilares, a saber, aprofundar e estreitar as relações políticas e diplomáticas para a defesa da paz, democracia e multilateralismo nas respetivas regiões e no plano global.
Segundo, promover a integração económica através da elevação do investimento no apoio à juventude e às atividades de empresários dos países lusófonos e, por último, organizar o património cultural e linguístico que visa promover a língua portuguesa como instrumento global do conhecimento, de identidade e conexão.
“Reconheço o imenso potencial da nossa diáspora, de artistas, cientistas, estudantes e empreendedores, portanto, é o tempo de transformar esse potencial em ações concretas e que a CPLP seja não apenas espaço viável, mas sim uma plataforma de oportunidade”, realçou.
No entanto, agradeceu ao presidente cessante, ao secretariado executivo e ao parlamento dessa organização pelos trabalhos feitos em prol da comunidade. Neste sentido, Embaló prometeu continuar com o legado deixado por Carlos Vila Nova, Presidente da República Democrata de São Tomé e Príncipe.
Celebração de uma comunidade unida

Discursando na sessão de abertura da cimeira, o Presidente da República disse que estão reunidos em Bissau para celebrar uma comunidade unida por laços históricos, culturais e linguísticos.
Assim, agradeceu à presença de todos no solo pátrio de Amílcar Cabral, o que, para ele, é uma demostração clara do compromisso com os valores fundamentais da CPLP, que são amizade sincera, o respeito mútuo, a solidariedade fraterna e a cooperação.
“A Guiné-Bissau sente-se muito honrada por acolher os ilustres Chefes de Estado e de Governo aqui presentes.
O nosso povo abre os seus braços a cada um dos Estados-membros, aos observadores associados, aos nossos parceiros de desenvolvimento e a todos os que contribuem para tornar a CPLP mais forte, mais coesa, mais relevante e solidária”, realçou.
Saudou, particularmente, o convidado de honra, o Presidente da República do Senegal, Bassirou Diomaye Diakhar Faye, a quem dirigiu mensagem de muito obrigado pela presença na cimeira.
“Face aos desafios que o mundo enfrenta, sejam eles geopolíticos humanitários, económicos, sociais e climáticos, a CPLP deve servir de exemplo de concertação, cooperação e solidariedade entre os seus nove Estados” exorta Umaro Sissoco Embaló.
Disse que durante esta cimeira, os países membros tiveram a oportunidade de refletir sobre os avanços que foram conseguidos, reforçando os compromissos e traçar caminhos mais ambiciosos para o futuro da comunidade.
“Da segurança alimentar à mobilidade, da educação à inovação, da cultura à economia azul, enfim, as possibilidades de cooperação são tão vastas quanto a nossa vontade e determinação coletiva”, sublinhou.
Missão cumprida

O Presidente da República Democrática de São Tomé e Príncipe afirmou que o seu país cumpriu com toda determinação a missão que lhe foi confiada, durante a presidência da CPLP.
Carlos Vila Nova reconheceu que ao assumir a presidência da organização em 2023, sabia que desafios que teria pela frente não seriam fáceis de superar, sobretudo num mundo marcado por rápidas transformações, crises muito dimensionais e incertezas de geopolíticas. “Nesta perspetiva, seria necessário que a CPLP mantivesse firme nos seus propósitos”.
Disse que a sua presidência procurou exatamente isso, convergir ainda mais, com o foco no reforço da coesão interna, na valorização da mobilidade e cidadania, promoção da língua portuguesa como laço comum e aprofundamento de solidariedade entre os povos.
Apesar das limitações do mandato de dois anos, afirmou que deixou com convicção a presidência da organização, e apela à CPLP que coloque a juventude no centro das atenções, porque é uma aposta que reflete a necessidade de preparar o presente e com os olhos postos no futuro.
“Colocar a juventude no centro da agenda da CPLP, estamos abrir um espaço de protagonismo para jovens que sonham, criam, inovam e que vivem numa comunidade mais inclusiva, mais justa e mais atenta às suas aspirações, promovendo a sua capacitação, empreendedorismo, incentivando igualmente construção de politicas públicas consistentes voltadas para sociedades”, salientou.
Em relação ao lema dessa XV Cimeira da CPLP, Carlos Vila Nova afirmou que a organização está a abrir um novo capítulo que os convoca a um debate central para o presente e o futuro dos povos, principalmente na altura em que a segurança alimentar ameaça milhões de pessoas em todo o mundo.
Acrescentou que falar da segurança alimentar é falar da justiça, da dignidade de vida, colocar o direito à alimentação como pilar fundamental de qualquer agenda do desenvolvimento, e disse que é muito pertinente que a nova presidência traga esse lema para ação da CPLP nos próximos anos.
Laços históricos

O Presidente da República do Senegal, Bassirou Diomaye Diakhar Faye, disse que o convite que lhe foi formulado pelo seu homólogo guineense, Umaro Sissoco Embaló, demonstra o sinal de reconhecimento dos laços históricos que unem os dois países e povos.
Entretanto, saudou o Presidente Embaló pelo trabalho que tem vindo a fazer para o desenvolvimento económico e social do país.
Disse que a sua presença não só serve para testemunhar, mas também para alargar os laços da cooperação com a Guiné-Bissau e todos os países da CPLP, de forma a construir uma parceria que vai ser benéfica para os Estados.
Segundo Diomaye Faye, o Senegal está interessado em cooperar com a CPLP nos domínios de agricultura, educação e formação. “A organização, apesar de desafios que o mundo enfrenta, tem-se adaptado rapidamente às novas exigências mundiais”.
Texto: Alfredo Saminanco
Fotos: Aliu Baldé
