O estado avançado de degradação do “prédio libanês” no mercado de Bandim, apoquenta os proprietários dos armazéns, feirantes e utentes. O edificio depara com muitas fendas nas paredes desgastadas, a água da chuva penetra dentro dos armazéns, motivada pelo desgaste das paredes, por não dispor de tetos desde a sua construção, em 1996.
Os utilizadores daquele mercado alertam que “apesar do edifício estar a ameaçar ruir-se a qualquer momento”, nele ainda se encontram a permanecer muitos vendedores ambulantes.
Perante a situação daquele maior centro comercial do país, Malam Fati, um dos comerciantes mais antigos naquele mercado, disse que o mercado não dispõe de água (boca de incêndio) que sirva para abastecer as viaturas dos bombeiros em caso de incêndio, não há portões suficientes para facilitar a saída de pessoas, em caso de emergência, é algo “preocupante em termo de segurança”.
Durante a nossa entrevista, aquele comerciante acusou a Câmara Municipal de Bissau de só saber “cobrar e roubar, mas não se preocupa com os riscos de vida das pessoas que utilizam o mercado”, e diz ainda que são obrigados a pagarem a Câmara Municipal de Bissau, milhões e milhões de francos CFA mensalmente, que poderiam servir de manutenção daquele prédio libanês.
Lembrou que o referido prédio, foi construído desde 1996 e começou a funcionar no ano seguinte (1997) mas, até à data presente, as obras nunca chegaram ao seu término e, muito menos, o proprietário do edifício e a Câmara Municipal de Bissau fizeram pequenas manutenções.
Fati disse que muitas vezes alertaram o município sobre a desgraça que aquele prédio pode vir a ceifar a vida de centenas de pessoas, “mas, até agora, as autoridades camarárias nunca deram ouvidos, para prevenir a eventual desgraça.
Apesar de várias diligências do Nô Pintcha junto das entidades camarárias para obter esclarecimentos sobre a situação do prédio degradado e das acusações dos comerciantes, infelizmente, ninguém se dignou reagir sobre o assunto.
Surgimento
O investigador, professor universitário, Fernandes Santos, concluiu que o mercado de Bandim caracteriza-se pela sua rápida evolução. Contudo, o seu surgimento remonta ao início da década de 60. O entreposto recebeu, numa primeira fase, a denominação de ‘’beco de Bandim’’, alterada alguns anos mais tarde, com o incremento das trocas comerciais, para a ‘’feira de curva de Bandim’’.
Nos finais dos anos 40, entretanto, iniciou-se um processo de intensificação dos laços tradicionais e comerciais entre o regulado de Bôr e o reino de Intim, em decorrência das vantagens emergentes da autorização dada pelo Governo colonial português para a criação de postos comerciais junto aos terminais de transporte localizados, ao longo das principais artérias que ligavam os reinos de Bissau – Bôr – Prábis – Biombo.
No cume do planalto do reino de Intim (Alto Crim) e ao longo da via que dá acesso ao reino de Bôr, foram criadas três grandes terminais de transportes.
O primeiro, localizado no alto Crim, junto aos armazéns comerciais da, então, Casa Gouveia, onde hoje se situa o supermercado Titina e Assembleia Nacional Popular;
O segundo, junto à então taberna de Caracol, no nó viário de acesso ao reino de Bandim e à Chapa de Bissau, onde atualmente se localiza o polo secundário do mercado de Bandim – conhecido por feira de caracol. E o terceiro e último, situado no nó viário intermediário que liga a estrada de Bôr à entrada de Bandim e que dá acesso aos estaleiros do, então, Porto de Paralta (Curva de Bandim). É nesse local que nasceu o atual mercado de Bandim.
Por conseguinte, o mercado de Bandim não surgiu na base de uma planificação urbanística previamente concebida pelas, então, autoridades municipais de Bissau. O seu surgimento deveu-se, principalmente, a imperativos de ordem económica, ditados pela necessidade dos habitantes de Bôr de aproveitarem as melhorias das vias de comunicação com Bissau, visando dinamizar as relações comerciais, no que concerne à evacuação dos seus produtos.
Dada a crescente dinâmica das transações comerciais, devido a intervenção das autoridades coloniais, particularmente no domínio das infraestruturas rodoviárias, em Bissau e nas localidades limítrofes como Bôr, Biombo, etc., a Feira de Curva de Bandim começou a apresentar novas exigências. Para já começou a colocar-se um problema de espaço, mas também, se levantava o problema da segurança das pessoas que frequentavam a zona da feira.
Uma vez que a feira se situava junto à estrada, a aglomeração de cada vez mais pessoas, devido à intensificação das trocas comerciais, associada ao aumento dos acidentes de viação, a situação levou as autoridades coloniais a prestarem uma certa atenção à sua evolução. A solução encontrada veio a ser a mudança da feira para um novo espaço, mais seguro, onde atualmente se situa o mercado de Bandim.
É evidente que essa transferência do mercado cedo começou a pôr em relevo o problema de espaço, sobretudo, porque o novo espaço do mercado fazia parte de uma importante aldeia do regulado pepel de Intim: Crim. Nesse território, havia lugares sagrados de veneração da etnia pepel, onde, ao mesmo tempo, se realizavam e comercializam bens.
A Guiné-Bissau tem, segundo o censo de INEC – 2009, uma população estimada em 1.548.000 habitantes, entre os quais cerca de 1/3 vivem na cidade capital – Bissau, esses por sua vez dependem, direta ou indiretamente, do mercado de Bandim para o seu sustento, em termos de alimentação, sobrevivência, rendimento individual ou familiar.
Há, por conseguinte, uma necessidade premente de melhorar a qualidade de instalações físicas do mercado de Bandim, tanto para o benefício dos seus utentes (comerciantes), quanto para os seus “beneficiários” de bens e serviços oferecidos no mercado mais popular guineense, na medida em que, estamos perante o maior centro comercial do país que movimenta milhões de dólares anualmente para a economia nacional.
É preciso, no meu ponto de vista, criar, estruturar e implementar a planificação e organização urbanística do mercado de Bandim para fazer face aos novos desafios. Ou seja, que acompanhe a evolução urbana, populacional e comercial dos dias atuais.
Fulgêncio Mendes Borges