“Militares perdem identidade e credibilidade quando falham obrigações constitucionais ”

O Presidente da República, afirmou ontem, dia 16, que sempre que as forças armadas falharam com as suas obrigações constitucionais, o Estado entrou em crise, a instituição militar perdeu a sua identidade e credibilidade, assim como respeito do povo e da comunidade internacional.

Umaro Sissoco Embaló, que falava nas cerimónias comemorativas do 58º aniversário das Forças Armadas, realizadas no Estado-Maior-General das Forças Armadas, adiantou que situações do género aconteceram “mais de uma vez” e não podem repetir-se.

Para o Chefe de Estado, as FA representam a unidade nacional, na continuidade das gerações de guineenses do passado, presente e futuro, sendo que essa união serve para a liberdade, independência e o progresso do povo.

Aconselhou a classe castrense a tomar em conta a “Palavra de Ordem” da sua história e do Congresso de Cassacá de 1964, que tomou a decisão de criação das Forças Armadas Revolucionarias do Povo (FARP) para a libertação do país e da subordinação dos militares ao poder político. “Hoje, a lição é ainda a mesma e apresenta-se como imperativo da Constituição da República e do Estado de Direito democrático”, disse, acrescentando que essa cultura deve estar presente em todas as unidades militares, no pensamento de cada soldado, cada oficial e cada general.

Sissoco Embaló é da opinião que o dia 16 de novembro é de festa e de reflexão, sabendo que o percurso histórico das FA não foi fácil e culminou com as independências da Guiné e Cabo Verde.

Transformação das Forças Armadas

Na sua intervenção, o ministro da Defesa declarou que a modernização das forças armadas, com tónica na formação de quadros e disponibilização de meios operacionais são desafios que chamam a todos para a transformação daquela instituição. Marciano Silva Barbeiro disse que a classe castrense guineense está comprometida com a criação da segurança e estabilidade, para o exercício político e democrático, livre expressão dos cidadãos, liberdade de circulação de bens e pessoas e “profundamente subordinada” ao poder político e democrático, legalmente instituído.

A esse propósito, referiu que é notável o empenho e esforço do Presidente da República, do governo e do chefe de Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA) com o intuito de adotar o exército de novas competências, equipa-lo devidamente para que possa fazer face aos desafios que o atual momento impõe, tais como a luta contra o terrorismo, crime transnacionais, drogas, pirataria, produtos ilícitos, entre outras práticas.

Silva Barbeiro informou que, brevemente, 77 elementos das FA deslocam-se à Rússia para formação em vários domínios da técnica militar. Tudo isso, segundo ele, como forma de responder às demandas para colocar a instituição militar em condições de cumprir cabalmente a sua missão, dentro do contexto da atualidade científica e da tecnologia militar.

O ministro revelou que as autoridades nacionais estão empenhadas em transformar a classe castrense em forças armadas produtivas, contribuindo assim para o desenvolvimento socioeconómico do país.

Basta ao golpe de Estado!

O Dia das FARP guineenses ficou marcado com a receção de novos fardamentos para diferentes ramos, que agora passam a ser a farda nacional da Guiné-Bissau.

O Presidente da República aproveitou a ocasião para promover dois dos seus antigos instrutores, que até nessa data tinham as patentes de tenente, passando agora a ter as de capitão.

 Igualmente, a data foi assinalada com o lançamento de um livro intitulado “A Força da Liberdade”, que conta com cinco autores, todos eles oficiais militares.

Entretanto, o CEMGFA agradeceu os esforços empreendidos pelo Presidente Umaro Sissoco Embaló e Primeiro-ministro (presente na cerimónia) para que os militares tenham o fardamento e pediu que continuem a prestar mais ajudas ao setor, que está em progressão.

Biaguê Na N’Tan afirmou que, desde a sua ascensão ao cargo, sempre prometeu respeito à Constituição da República, organização da classe e a formação de quadros jovens, o que segundo ele, está a acontecer até ao momento.

Por isso, apelou aos seus colegas de farda a organizarem-se melhor para poderem estar no concerto das nações e evitar situações de tentativas de subversão à ordem constitucional. Aliás, garantiu que jamais haverá golpes e pediu aos militares para juntos gritarem “basta ao golpe de Estado” na Guiné-Bissau. “Quando não há golpes, podemos conseguir apoios, à imagem do que acontece com os fardamentos e outros”.

Na N’Tan afirmou que não há desenvolvimento sem a paz, que depende sobretudo das tropas, porque quando não houver ordem ninguém vem ao país para se investir.  

Por outro lado, voltou a pedir apoios para a abertura da escola de Cumeré (centro de instrução militar), que sirva de uma academia da Guiné-Bissau, trabalhando para a mudança de mentalidades nas forças armadas, para que estas sejam mesmo republicanas.   

As Forças Armadas Revolucionarias do Povo foram criadas no dia 16 de novembro de 1964, em Tamakené, região de Boké, na vizinha República da Guiné, cuja missão era exclusivamente combater contra o Exército português e libertar o povo guineense da dominação colonial.

Ibraima Sori Baldé

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