Guiné-Bissau vai à deriva devido ao comportamento dos políticos

O país comemora 47 anos após a independência declarada a 24 de setembro de 1973, nas colinas de Boé, concretamente na montanha de Lugadjol, conhecida na história como “ montanha de independência”. Após cerca de 11 anos de uma intensa e calorosa luta armada, os valorosos combatentes do PAIGC, dirigido por Amílcar Cabral libertaram o país da ocupação colonial portuguesa.

Casa museu Amílcar Cabral

Apesar da conquista da independência nacional até ao presente momento o país não conheceu melhores dias e vai à deriva devido ao comportamento dos políticos.

Este ano, sob o lema “Fortalecer a unidade nacional, resgatar os valores da luta e promoção do progresso”, o ato central terá lugar no Estádio 24 de Setembro, contando com as presenças de alguns Chefes de Estado da nossa sub-região.

À margem desta comemoração, o jornal “Nô Pintcha” esteve na Região de Bafatá, a cidade onde nasceu o fundador das nacionalidades guineense e cabo-verdiana, Amílcar Cabral, para uma visita à casa onde funciona o Museu Amílcar Cabral, bem como saber das condições em que se encontram as diferentes estruturas que compõe a região.

A visita ao museu acima referido foi conduzida pelo seu responsável, Mamudo Djatá, que explicou à equipa que, após a morte de Amílcar Cabral, a casa ficou abandonada vários anos. Em 2011, o governador da altura conseguiu reabilitá-lo e, após alguns anos, foi transformado em museu pelo Estado da Guiné-Bissau.

A casa compõe-se de dois quartos e duas salas, sendo um dos quartos ocupado por Amílcar Cabral e o outro pelo pai, Juvenal Cabral. Desde a sua recuperação, foi mobilada com artigos históricos referentes à vida e percurso do líder imortal, passando a servir de passagem obrigatória de personalidades oficiais, nacionais e estrangeiras, de estudantes em visita de estudo, entre outras.

No que se refere ao pai de Amílcar Cabral, o guia disse à nossa reportagem que ele foi professor na Secção de Geba, Setor de Ganadu, Região de Bafatá, para onde ele fora transferido em 1915, vindo da Região de Bolama-Bijagós.

Estruturar um plano de relançamento da região em todos os aspetos

O governador da Região de Bafatá perspetiva estruturar um plano de relançamento da região em todos os aspetos, que passa necessariamente por atrair investidores a nível nacional. Por isso, criou uma equipa com atores estatais e não estatais da região, através do Gabinete de Plano já existente.

Governador da Região de Bafatá, Caba Sambu

Cabá Sambu classifica a Região de Bafatá, após 47 anos de independência, de estar aquém do desejado, porque os que lhe antecederam falharam e muito, dando exemplo de um pai que deixou o filho com uma casa e este nem consegue fazer a manutenção da mesma. “Não conseguimos pôr fim aos males que Amílcar Cabral sempre denunciou, neste caso, a corrupção, nepotismo e o desleixo.”

O jovem governador está confiante na juventude, pois são os jovens a esperança para a renovação da Guiné-Bissau, acrescentando que devem encarar a data como a de relançamento e renovação do nosso país.

Esclareceu a dado passo que, assim que a pandemia da covid-19 for eliminada, perspetiva a realização de uma conferência em que serão convidados todos os filhos influentes da Região de Bafatá a nela participar, amigos, investidores, atores sociais, setor privado e demais cidadãos, para lhes mostrar que existe uma possibilidade de investimento em várias áreas.

Falou de infraestruturas em ruína, concretamente a Fábrica de Algodão, a Cerâmica de Bafatá, o DEPA de Contuboel, o maior centro horizícola do país, prometendo recuperar as vias de comunicação da região, com a criação de um plano para a reciclagem de lixo.

No que refere as dificuldades, o governante disse encontrar ter encontrado tudo muito degradado, sobretudo em termos de infraestruturas. As casas abandonadas, as vias de acesso em extrema degradação, se não em ruína, situação que arrepia qualquer um.

Em termos de desenvolvimento não humano, não obstante termos uma população à altura de lutar para combater a pobreza, existem enormes barreiras em termos de acesso aos serviços essenciais porque, num universo de quase 200 mil habitantes, segundo o último senso de 2014, há menos 20 centros de saúde e um único hospital regional deixado pelos colonialistas portugueses.

Mais adiante, informa que a região tem um contraste enorme no domínio da agricultura, com uma grande capacidade de produção de arroz entre duas e três vezes por ano, mas acontece que uma boa parte de bolanhas não é aproveitada por motivos diversos. A região sofreu grande devastação de florestas através de abate de árvores.

“Encontrei o Comité de Estado numa situação bastante deteriorada, necessitando de reestruturação, equipamentos e dívidas salariais com funcionários”, disse.

Egoísmo impediu desenvolvimento da Guiné-Bissau

Mamadu Fofana, ex-condutor de Guerra Ribeiro, famigerado administrador da Região de Bafatá no período colonial, explicou à reportagem os microfones do “Nô Pintcha” que os dias de hoje são totalmente diferentes dos daquela época pois, na altura, existia muito rigor no trabalho e na gestão da coisa pública.

Mamadu Fofana, ex-condutor do de Guerra Ribeiro

No entender desse velho, o egoísmo impediu o desenvolvimento da Guiné-Bissau, porque toda a gente quer assumir o protagonismo de ser ela a desenvolvê-lo, enquanto devia ser um trabalho de equipa.

Questionado se valeu a pena a nossa independência, disse de forma perentória que sim, porque os guineenses foram sacrificados e maltrados pelos portugueses, dando como exemplo um conhecido agente policial chamado Malgueta, que era muito cruel e desumano, porque não tinha pena de ninguém.

Mamadu Fofana afirma que conheceu Amílcar Cabral na Casa Gouveia, quando lá trabalhava. Insistidamente explicou que ele nasceu aqui e o pai era professor na Secção de Geba, uma pessoa de fácil convivência.

Concluiu a curta entrevista afirmando que trabalhou com vários combatentes da liberdade de pátria, entre os quais Tchico Bá, Braima Dacar, Braima Bangura, Sara Cumbassa, entre outros.

Degradação do ensino deve a mudança de metodologia.

Adama Seide, diretor regional da Educação, defendeu que o processo de globalização influenciou negativamente a aprendizagem das crianças, pois anteriormente o ensino baseava-se na intimidação e aprendizagem obrigatória. Hoje, tudo mudou por causa de métodos inovadores de pedagogia, em que as crianças aprendem o que quiserem.

Adama Seide, diretor regional de Educação

Promete dignificar a classe dos professores, concretamente na reestruturação da educação na região, para poder competir com as outras regiões.

Segundo o ponto de vista do diretor regional, a Região de Bafatá está a evoluir bastante no que respeita à inclusão das meninas no ensino, porque, outrora, as mesmas não frequentavam a escola por motivos diversos.

Segundos dados do ano letivo 2019/20 a que tivemos acesso, inscreveram-se cerca de três mil alunos do sexo masculino e 28.988 do sexo feminino.

A região conta com 303 escolas e 859 professores que, com atempada colaboração entre a instituição e os parceiros, concretamente o FEC, PLAN e PAM, conseguirão ter tudo a altura, correspondendo às expetativas das necessidades do setor. Neste ano enfrentaram problemas sérios no que se refere a inundações de escolas, em número aproximado de três dezenas. A situação que pode atrasar o início do ano letivo nessas zonas que, segundo as orientações do Ministério da Educação Nacional e Ensino Superior está marcado para o dia 5 de outubro próximo.

O ano letivo 2019/20 terminou com um bom registo de aproveitamento, porque a região funcionou com dois períodos completos e chegou ao fim com provas que não tinham sido concluídas. Para o início do ano letivo 2020/21 está tudo preparado em termos de prevenção da doença que efeta o mundo inteiro, porque através dos conselhos diretivos todos os pais e encarregados de educação estão informados das diligências a serem tomadas relativamente à prevenção da covid-19. Fomos informados pelo Ministério da Educação Nacional e Ensino Superior que, através dos parceiros, conseguiram adquirir alguns materiais que serão distribuídos a nível das regiões e às direções compete complementam o resto das exigências.

Falta de alguns aparelhos de diagnóstico para detetar algumas patologias

O diretor regional da Saúde, Armindo Comando Sanhá, informou que o único hospital da região não consegue dar resposta às necessidades da população, pois faltam aparelhos para detetar as patologias. Quando surgem casos que necessitam de diagnósticos mais exigentes, são evacuados para Bissau, facto que lamenta bastante.

Armindo Comando Sanha, diretor regional de Saúde

Na sua perspetiva, há necessidade de ampliação dos centros de saúde e das residências para os técnicos da instituição, uma vez que a população da zona cresce dia após dia.

Em termos de comportamento da população da região referente às medidas de prevenção da covid-19, esclareceu que se verificam desacatos no que refere ao uso da máscara, situação que promove a propagação  e o aumento de casos.

A região conta com 14 áreas sanitárias e 16 estruturas sanitárias para 290.592 habitantes.

Em termos de perspetivas futuras, o responsável promete a reciclagem permanente dos quadros existentes, a fim de estarem a altura da evolução do mundo em termos de saúde.

Elci Pereira Dias

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