Governo recruta mais de dois mil docentes para preencher lacunas

O Ministério da Educação Nacional, Ensino Superior e Investigação Científica (MENESIC) atribuiu guias a cerca de 2600 professores para preencher as lacunas existentes em várias escolas públicas do país.

Mas mesmo com essas colocações o diretor-geral dos Recursos Humanos admitiu que muitas crianças vão ficar fora do sistema.

Em entrevista ao Nô Pintcha, Moisés da Silva disse que a segunda fase de colocação de professores visa responder às exigências de alunos um pouco por todo o país em diferentes escolas. Aliás, o concurso aplicado aos professores para o preenchimento de vagas veio na sequência da recomendação saída da reunião de Conselho de Ministros, no sentido de permitir a conclusão do presente ano letivo 2023/2024, ou seja, os restantes três meses.

“Dos cerca de cinco mil docentes aprovados no concurso conseguimos colocar nesta segunda fase cerca de 2600 nas vagas identificadas. Do conjunto, o Ensino Básico detém 70 por cento e 30 a nível do ensino secundário”, precisou.

O diretor-geral dos Recursos Humanos disse que há muitos concorrentes aprovados, vindos de escolas superiores de formação que ainda não foram colocados, porém, esperançou que em janeiro de 2025 esses poderão preencher novas vagas que irão surgir na sequência das novas matrículas.

“Os candidatos aprovados podem ficar tranquilos, porque já estão inscritos no banco de dados, inclusive os contactos telefónicos, para que qualquer momento a pessoa possa ser contactada para o efeito de colocação”, tranquilizou.

Aquele responsável disse, por outro lado, que, neste momento, o ministério aguarda a recolha dos relatórios de cada unidade escolar sobre os professores colocados, e se houver recusas de colocação em certas zonas vão imediatamente convocar os interessados para o preenchimento de eventuais vagas.

“No âmbito das reformas, o Fundo Monetário Internacional (FMI) estipulou um número máximo de docentes que podemos recrutar para não disparar a massa salarial da Função Pública e, em respeito à essa exigência, o Governo não pode ultrapassar essa quantidade, tendo em conta a limitação dos recursos financeiros de Estado”, salientou Moisés da Silva.

Aquele responsável sublinhou que, após últimas eleições legislativas de 2023, os pais e encarregados de educação acreditaram na estabilização do sistema do ensino e fizeram voltar massivamente os seus educandos nas escolas públicas, e esse facto aumentou a necessidade de contratar mais professores, sobretudo para o Ensino Básico, mas, infelizmente, o Governo não vai admitir ingressos que ultrapassem a capacidade de resposta.

Problemas persistem

Moisés da Silva afirmou que algumas escolas vão continuar a deparar com falta de professores, pelo facto de não beneficiarem dessas colocações, devido ao fator financeiro já referido.

De facto, a nível do Ensino Básico há um número muito alto de crianças fora do sistema, pelo menos no presente ano letivo 2023/2024, concretamente nas regiões de Bafatá, Gabu e Oio.

Da Silva disse que o número de professores recrutados (2.600) não pode cobrir as vagas existentes. “A quantidade de docentes que trabalham efetivamente no terreno ronda 12.000, entre efetivos e novos ingressos, contrariamente ao número anterior de 15000, ou seja, uma inspeção profunda descobriu que cerca de 3000 eram pagos sem trabalhar.

Por outro lado, revelou que 205 docentes encontram-se em situação crítica de saúde e muitos outros ausentes nas salas de aula por motivos diversos. Com esse recrutamento de 2600 professores, o país passa a dispor, no cômputo geral, cerca de 14.600 docentes em pleno funcionamento.

Fuga de professores

Sobre os motivos que levam os professores a abandonar as salas de aula são vários, mas os principais têm a ver com as dificuldades encontradas em certas zonas geográficas do país e, na dificuldade de adaptar-se, o docente acaba por abandonar o sistema.

Um outro motivo prende-se com a necessidade de elevação do nível académico no estrangeiro e, consequentemente, melhorar o salário para poder sustentar a família.

Moisés da Silva confirmou o défice de professores nas disciplinas práticas, nomeadamente matemática, física, química e educação visual. Disse que, apesar de recrutamento de muitos, a insuficiência de docentes nessas áreas é um problema mundial que a Guiné-Bissau não escapou.

“Apesar do fecho do processo de novos ingressos, abrimos exceção para as disciplinas práticas, pelo que ninguém deve estranhar-se ao saber de preenchimento de uma nova vaga nas ciências exatas”, explicou.

Enquanto isso, o coordenador nacional da disciplina de física, Adulai Djaló, vulgo Guerras, confirmou ao Nô Pintcha, que há uma grande insuficiência de professores de disciplinas práticas na Guiné-Bissau, sobretudo os de física.

“Os professores saem com guias de matemática e física para irem lecionar, mas boa parte deles quando chegarem, acabam por lecionar matemática. Normalmente, os grandes físicos são bons matemáticos, mas nem sempre os grandes matemáticos são bons físicos”.

Adulai Djaló disse esperar um crescimento gradual, em termos de número de docentes de física, e acredita que a nova política de docência introduzida na Escola Normal Superior “Tchico Té”, que tem a ver com a separação de matemática da física, os formados sairão a lecionar a disciplina de formação.

Para o coordenador nacional da física, o Governo deve investir seriamente na formação de professores de qualidade, pois, “um professor mal preparado é um povo mal preparado”. Por outro lado, defendeu a disponibilização de condições necessárias aos coordenadores nacionais, permitindo-lhes efetuar visitas instantâneas no terreno, para constatar as dificuldades e tentar superá-las atempadamente.

O professor “Guerras” (como é conhecido entre colegas) chamou a atenção ao Executivo, no sentido de preparar uma geração de docentes capazes de suceder a atual geração.

“Muitos de nós estamos quase na fase de reformas. Recentemente, fui à Suíça para um seminário, e aí recebi proposta de numa escola no Porto, Portugal, para ir lecionar física, mas ainda declinei o convite por amor à querida Guiné, que estou a servir há 38 anos, porém, se as minhas condições laborais não melhorarem, serei obrigado a responder favoravelmente à solicitação de Portugal”

Prejuízos a alunos

Sobre o défice de professores no ensino público, a reportagem do Nô Pintcha ouviu a Confederação Nacional das Associações Estudantis da Guiné-Bissau (Conaeguib).

Assim, o secretário-geral dessa organização, Augusto Na Psau, apelou ao Governo, no sentido de negociar com os sindicatos seriamente, evitando as paralisações projetadas para depois das férias de Pascoa. Segundo ele, os alunos são os mais prejudicados, e esses prejuízos acabam por afetar negativamente a qualidade do ensino.

Na opinião de Augusto Na Psau, o sistema de ensino deve ser profundamente revisto, lembrando que passaram muitos anos letivos em que o programa curricular não tivesse sido concluido.

Para ele, nota-se a falta de volta de política para um investimento sério no setor educativo.

“Aquando da fundação do nosso Estado, as autoridades políticas tinham garantido ensino gratuito de 1º a 9º ano de escolaridade, o que não tem sido o caso, aliás, passados cerca de meio século ainda persistem problemas graves. Até quando”, questionou?

Augusto Na Psau revelou que, neste primeiro semestre do ano letivo, em muitas escolas os alunos foram atribuídos notas administrativas, devido à falta de professores. No seu entender, a colocação de docentes que se efetuou recentemente é muito tardio, pois o momento ideal para o preenchimento das vagas deve ser feito nos meados de setembro ou outubro.

Aliu Baldé

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