“Compramos doenças e morremos lentamente”

O diretor dos serviços da Saúde Ambiental e Higiene Pública afirmou que, na Guiné-Bissau, “estamos a comprar doenças, morremos lentamente e somos doentes e mortos-vivos”, a propósito de cuidados preventivos e saneamento, adiantando que o país não está minimamente preparado.

Em entrevista ao Nô Pintcha, Paulo António Monteiro justificou, apontando a falta de controlo e segurança dos alimentos, sobretudo aqueles que estão a ser vendidos em diferentes localidades. “Não há cuidados mínimos nas comidas e verifica-se muita falta de higiene”.

Disse que, na maioria dos casos, os produtos não são cobertos, estando suscetíveis a transmitir doenças, através de poeira, moscas e outros insetos. Segundo ele, há pessoas que produzem alimento para vender e aquilo fica mais de três dias, só é aquecido e dura pouco para se infetar.

Em relação aos pães, deixou algumas questões: “de onde vem a farinha? Qual é o seu tempo de vida e como é que o alimento é levado para o local de venda, depois da produção? Que tipo de padaria, quem trabalha aí e com que condições”? E recomenda o uso de equipamentos apropriados para evitar resíduos (como suor, por exemplo) nos alimentos.

Paulo Monteiro manifesta-se preocupado com o facto de não haver certeza de que as pessoas que preparam os alimentos não padecem de doenças que possam contaminar.

Por isso, prometeu a tomada de devidas diligências, com vista a inverter esse comportamento, através de campanhas de sensibilização aos “pequenos comerciantes”, nomeadamente para submeter-se a exames que confirmem que não estejam contaminados com doenças transmissíveis.

A seu ver, os empresários que trabalham em diferentes setores, sobretudo os que produzem água, necessitam de melhorar as suas pequenas indústrias.

Neste particular, aquele especialista em saúde ambiental disse que a água precisa ser testada para saber se ela é apropriada para o consumo humano e animal, porque caso contrário, o líquido é capaz de matar milhares de pessoas num curto espaço de tempo.

“Na Guiné-Bissau, temos o hábito de falar em água potável, mas isso passa pelo teste laboratorial e comprovada. Cada empresa que fornece água deve ter o seu próprio laboratório”.

Chamou a atenção da EAGB, que até pode tratar bem a água que fornece à população, mas no transporte até ao destino final pode ser infetada, através dos dutos (tubos) que a leva, pelo que “é preciso muita cautela”.

Neste sentido, aconselhou também para a higienização regular das estações elevatórias (mãe di iagu).

Referiu que a Guiné-Bissau não tem estação de tratamento de lixo e este quando apodrece vai à profundeza do subsolo e acaba atingindo o lençol freático, o que contamina a água.

Fez saber que a falta de controlo do lixo provoca doenças. Por isso, “é necessária a construção de um aterro sanitário, que também pode criar muitos empregos”.

Sem condições mínimas

Sobre se o país tem condições mínimas para fazer face a eventuais doenças, Paulo Monteiro confirmou que não existem, mas quando acontece algo de género, o Ministério da Saúde recorre aos seus parceiros, principalmente à OMS, para procurar soluções.

Reconheceu que deveria haver um serviço permanente de prevenção para eventuais casos. “Não existe nenhuma célula do Ministério que esteja pronta para esse tipo de coisas”.

Ele é da opinião que há que prevenir: “Qualquer Estado que investir um dólar na prevenção, arrecada quatro dólares no seu cofre. Caso contrário, você investe mais de quatro dólares em tratamento”, sublinhou.

Por outro lado, o diretor apelou à sociedade, no sentido de colaborar com o Ministério da Saúde, porque os técnicos do setor estão disponíveis para trabalhar com empresários e empreendedores, mas para isso, o governo tem de criar as mínimas condições em matéria de prevenção.

Ibraima Sori Baldé

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