Banda Desenhada faz sucesso no cinema

Assistiu-se a uma onda de adaptações cinematográficas de obras de autores consagrados de banda desenhada (bd), do género super-heróis, passando pelo policial, ao épico, com epicentro nos Estados Unidos da América (EUA). A Europa segue a tendência através de obras franco-belga e não só. Pretexto para passarmos em revista este fenómeno cuja raiz remonta há décadas.

A banda desenhada (bd), e o cinema sempre tiveram uma espécie de relação simbiótica. Denny O´Neil – nascido a 03 de maio de 1939 falecido a 11 de Junho de 2020 – consagrado argumentista norte-americano que escreveu historias praticamente para todos os personagens das duas grandes editoras concorrentes: Detective Comics (DC) e Marvel, revelou no seu livro em que ensina a arte de escrever para comics – ou bd como se diz aqui – que «muitos dos criadores de histórias aos quadradinhos eram frequentadores assíduos de cinema». E muitos realizadores e escritores de Hollywood, «por sua vez, liam banda desenhada».

Esta afinidade «estendeu-se para além de influência mútua», recorda O´Neil, na obra intitulada «Guia oficial de DC – Roteiro» (edição brasileira da Ópera Gráfica). No início de 1940, apenas dois anos após a estreia de «Super-Homem» – criado pelos jovens argumentista Jerry Siegel e o desenhador Joe Shuster – no primeiro número da revista Action Comics, «ele apareceu numa série de desenhos animados realizados e produzidos pelos irmãos Fleisher».

A partir de então surgiram inúmeros super-heróis inspirados neste personagem que veio do fictício planeta Kripton, disfarçando-se na Terra como um tímido repórter chamado Clark Kent. Marcando, com efeito, o início da «Idade de ouro de super-heróis». Com destaque para o mítico «Batman» – criado por Bob Kane e Bill Finger, em Maio de 1939.

Em 1966, uma hilariante série televisiva proporciona ao «Batman» grande popularidade, espalhando onda de batmania pelo mundo inteiro. Este herói milionário que quando jovem teve os pais assassinados por um bandido, decide então vingar e combater o crime sob a máscara de «Batman», passou a ser usado até a exaustão, em todos os meios de difusão nos EUA, chegando ao ponto de sofrer desgaste.

A revista Batman tornou-se uma mera cópia da série de TV, deixando os fãs consequentemente desapontados. Foi preciso chamar o consagrado argumentista Denny O´Neil, os desenhadores Neal Adams, Irv Novick, Dick Giordano, dirigidos pelo editor Julius Schwartz, para restituir o vigor e reputação que caracterizava Bruce. Se estes e outros grandes nomes contribuiram para que este justiceiro continue manter a lei e ordem em Gotam City, foi o desenhador/argumentista Frank Miller, na década de 80, que mais contribuiu para a sua redefinição com as obras-primas: «Batman: Ano Um», «Cavaleiro das Trevas»… E ao conceito dos super-heróis, transformando-os em publicações sérias e de leituras obrigatórias para adultos.

O «Homem-Aranha» (criado pelo argumentista Stan Lee e o desenhador Steve Ditko), cuja primeira história foi publicada em 1962, na última edição da revista Amazing Fantasy. O sucesso foi imediato que, a dupla decidiu criar no ano seguinte, uma revista própria para o aracnídeo. Foi nessa altura que, também, criaram os principais personagens que povoam o universo deste super-herói, da editora Marvel.

A onda das adaptações

Apesar de altos e baixos que vem se registando na indústria de nona arte, decorrente da crise económica mundial, o século XXI é, no entanto, marcado pelo «boom» de adaptações da bd para o cinema. Nos últimos cinco anos, assistiu-se as estreias nas salas de cinemas da nova saga do «Quarteto Fantástico» (criado por Stan Lee e Jack Kirbi, nos anos 60, cuja primeira adaptação foi em 2005. Seguiu-se a trilogia «Homem-Aranha 3», filme de acção e efeitos especiais realizada por Sam Raimi, considerada a mais cara de sempre: 175 milhões de euros.

As novas tecnologias permitiram igualmente a transposição do papel ao grande ecrã da obra épica «300», de Frank Miller (disponível em português numa edição da Norma Editorial), que conta a história da Batalha das Termópilas, que em 480 AC, trezentos espartanos lutaram para conter um poderoso exército invasor persa do Imperador Xerxes I constituído de milhares de homens, realizada por Zack Snyder, cuja estreia nas salas aconteceu em Abril de 2006.

Esta história já tinha sido contada pelos autores chilenos Alberto Braccia (desenhos) e Hector Oesterheld (argumento); e em 1962, foi feito o primeiro filme intitulado «The 300 Spartans», pelo cineasta polaco Rudolph Maté, com a chancela de Hollyood. Voltando ao Frank Miller que, na sequência da fracassada experiência de adaptação pela Hollyood dos seus trabalhos «Robocop» 2 e 3, nos anos 90, havia jurado a pés juntos nunca mais trabalhar na área de cinema. Tem outra bd policial adaptada em 2005: «Sin City – A Cidade do Pecado», realizada pelo cineasta Robert Rodriguez, que conseguiu convencer Miller a voltar atrás na sua decisão e tomar parte na realização.

E dessa colaboração aliada ao advento das novas tecnologias que facilitou muito a produção, resultou numa perfeita transposição das páginas da bd ao grande ecrã. Estando em preparação, segundo publicações de especialidade, as sequências desta novela gráfica. Entretanto, Frank Miller é apontado como o realizador da primeira adaptação da novela gráfica «Spirit», do falecido mestre de comics americano, Will Eisner, prevista para o ano de 2008.

Em 2005, foi a estreia mundial de uma nova saga «Batman Begin», realizado pelo cineasta Christopher Nolan. O primeiro filme de Homem-Morcego, surgiu nas salas de cinemas em 1989, com sucesso de bilheteira, a que se seguiram outras adaptações como «Batman, o Retorno» (em 92), «Batman Eternamente», (95) e «Batman e Robin» (97) dirigidos respectivamente por Tim Burton,. Estando em preparação um novo intitulado «Cavaleiro das Trevas», que chegou às salas de cinema neste ano de 2008.

Ainda em 2005, chegou às salas de cinemas mais uma obra de culto daquele que é considerado pela crítica e pelos fãs, o mais iluminado argumentista de nona arte, o britânico Alan Moore. Trata-se de «V de Vingança», desenhada pelo conterrâneo David Lloyd (traduzida para português pela editora brasileira Via Lettera), que retrata de forma cruel o totalitarismo da era da dama de ferro, Margarette Tacher, na Grã-Bretanha.

A adaptação desta obra pelos irmãos Wachowski, não foi satisfatória aos olhos do autor, apesar dos aplausos da crítica e dos fãs. Em 2003, a sua «Liga de Cavaleiros Extraordinários», que congrega alguns personagens do mundo literário do século passado nomeadamente Capitão Nemo, Mr. Hyde e Sharlok Holmes, num universo ilustrado pelo artista Kevin O´Neil. Também foi adaptada para o grande ecrã pelo cineasta Stephen Norrington, com um elenco liderado por Sean Connery (ex-007), mas apesar de tudo, o filme não conseguiu chegar à altura da obra. Foi um fiasco que Moore teve razões de sobra para repudiar.

Lay Korobo

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