Canchungo é uma cidade situada no norte da Guiné-Bissau, que, administrativamente, pertence à Região de Cacheu. No passado, foi tida como a ‘segunda capital’ da região, mas atualmente, devido à sua localização geográfica e a importância económica, ocupa um lugar de destaque, albergando, no entanto, o maior número de serviços administrativos sedeados naquela zona nortenha.
A cidade apresenta uma bela arquitetura, com rotunda que faz ligação com todos os bairros periféricos, além de uma avenida impar, que atrai atenção de qualquer visitante, que termina no hospital regional, que em tempos era considerado de referência, resultado da cooperação com a República Popular da China, nos anos 80.
A metrópole tinha casas cobertas de tijolo de barro, construídas na era colonial, e outras com chapas de zinco e tanque. Portanto, era através dessa configuração que se diferenciava classes sociais, mas hoje em dia, essa realidade não existe, porque desabou tal estratificação.
Canchungo, à semelhança de outras cidades do interior, está a retroceder-se em termos de desenvolvimento, com ruas e bairros praticamente intransitáveis, devido à degradação acentuada das principais vias de acesso.
Atualmente, há zonas que os carros não conseguem circular, devido a dois motivos: degradação de vias e construção de casas sem respeito ao plano urbanístico. Agora, só os moto-taxis que fazem ligações interurbanas.
Outra situação deplorável é a deterioração dos edifícios públicos, com paredes em ruínas, coberturas escancaradas e tetos arrombados. A situação semelhante apresenta o mercado que, neste momento, está em péssimas condições de saneamento e a falta de segurança.
Segundo relatos de feirantes, são eles mesmos que se organizam através da sua associação para garantir a mínima segurança ao mercado.
A zona é habitada maioritariamente por etnia manjaca, com uma crença, cultura e tradição baseada no mito. Mais tarde, alguns vieram a praticar o cristanismo.
Passado o tempo, islamismo entrou nesse território, com a influência do Senegal e dos fulas que se viriam instalar-se na zona oriundos da Guiné-Conacri. Os manjacos, como é sabido, vivem-se essencialmente de agricultura, extração de óleo de palma, pesca e um pouco de caça.
Melhoria de vida

Sobre a situação em que se encontra a cidade de Canchungo, o administrador do setor considerou de razoável o nível de vida da população, fundamentando que os habitantes daquela zona são trabalhadores, razão pela qual a pobreza não é extrema.
Albino Camepilim Mendes assegurou que existe uma colaboração sã entre a comunidade e a administração. Foi na base dessa cooperação que se criou um espaço de concertação e de reflexão sobre a vida do setor, confirmando que a iniciativa está a dar frutos, em prol da melhoria de condições de vida dos citadinos e da população em geral.
“Herdei uma situação bastante difícil. Fui nomeado em maio de 2023, período de quebra de receitas, mas o mais lamentável é a situação da própria administração que estava de joelho, sem capacidade de respostas aos desafios”, lamentou.
Para fazer face a esses problemas, o administrador informou que pretende levar a cabo um conjunto de ações para melhorar as vias urbanas e edifícios públicos, isto para devolver à cidade a beleza que tinha outrora.
Segundo Camepilim Mendes, iniciaram com os trabalhos da limpeza em todos os lugares públicos e principais artérias da cidade, um gesto que, segundo ele, pode parecer pequeno nos olhos das pessoas, mas tem um significado importante, na medida que vai ajudar na mudança do visual da cidade e de comportamento das habitantes.
O passo seguinte, explicou, vai ser a melhoria de ruas e vias de acesso com aterro, um trabalho que vai envolver associações juvenis, funcionários públicos e privados, comerciantes e empresários, uma ação que vai ser extensiva as outras localidades do setor, e que tudo vai depender de meios necessários para execução dos trabalhos.
De acordo com o administrador, a ideia de envolver os citadinos no processo de requalificação da cidade tem a ver com o facto de as autoridades somente não podem desenvolver essa ação, tendo em conta os parcos meios disponíveis, pelo que pede a colaboração da diáspora.
Reabilitação do clube desportivo

Albino Camepilim Mendes informou que outro projeto que a administração local tem em manga é a reabilitação do clube de futebol de Canchungo, que se encontra numa situação desagradável, com a cobertura totalmente escancarada, paredes em avançado estado de degradação.
Para levar avante essa iniciativa, o administrador revelou ter sido criada uma comissão de angariação de fundos, que já está a fazer recolha de contribuições das pessoas para salvar aquele património desportivo.
Disse que decidiram iniciar com o clube, porque o estado em que se encontra aquela infraestrutura não é da melhor, pelo que requer uma intervenção urgente.
Se tudo correr como previsto, adiantou, o lançamento da pedra para a reabilitação daquela infraestrutura vai ser para breve.
“Como pode constatar, os trabalhos de recuperação do clube já iniciaram. Neste momento, já dispomos de areia para fazer blocos e há dias fizemos limpeza do espaço. Portanto, depois do clube, vamos prosseguir com os trabalhos de reabilitação de outros edifícios públicos, que se encontram em péssimas condições, principalmente a sede da administração, que quando chove, o local transforma-se num pântano autêntico, e o mais lamentável é a minha própria residência, que está completamente degradada”, ressaltou o administrador.
Disse que as condições em que se encontram os edifícios do Comité de Estado não dignificam o Estado. Aliás, no seu ponto de vista, é conjunto dessas situações que leva que à perda de autoridade do Estado.
Esta situação, de acordo com Albino Mendes, contribui também no retrocesso dos setores, em termos de desenvolvimento. “Mas nós aqui, enquanto administração, mesmo sem grandes meios, vamos tudo fazer para mudar o visual da cidade. Portanto, o meu sonho é deixar legado”, manifestou.
Para pôr cobro à situação, Mendes defende a adoção de uma política nacional de recuperação das infraestruturas administrativas, porque daqui a alguns anos não haverá edifícios para o funcionamento dos serviços estatais.
Relativamente a Canchungo, aquele responsável informou que a maior dor de cabeça para a administração tem a ver com a remoção de lixo, uma situação que, segundo ele, está fora do controlo, porque a quantidade de varredura que é produzido diariamente ultrapassa a capacidade de resposta das autoridades competentes. Por isso, pede a colaboração da população.
Sobre a situação de segurança na zona, o administrador manifestou-se preocupado com o aumento de roubo de gado à mão armada, tento pedido à colaboração da população para desencorajar essa prática.
“Se desconfiarmos de alguém, sobretudo um hóspede, devemos informar às autoridades competentes para tomar a providência necessária”, aconselhou.
Por outro lado, reconhece que os nativos de Canchungo não são ladrões, mas, atualmente, alguns colaboram com os gatunos.
Insegurança no mercado

Adama Sira Canté, feirante, disse que nos últimos tempos, houve um bocado de quebra em termos de venda no mercado, uma situação que mexe com os rendimentos, porque tem criado prejuízos enormes.
Lembrou, no entanto, que todos os produtos que vendem são adquiridos a partir de Bissau ou Senegal e, para os fazer chegar a Canchungo, faz-se grandes despesas, que, neste momento, não conseguem cobrir, devido à fraca capacidade de compra da população, uma situação que reconhece ser conjuntural.
Para essa senhora, a maior preocupação dos feirantes tem a ver com a falta de segurança. A isso, junta-se às péssimas condições de casas de banho, isso para não falar do saneamento básico do mercado.
“Quase todos os dias sofremos assaltos no mercado, mas não há ninguém para pôr cobro à situação. Pagamos todas as contribuições ao Comité de Estado e ninguém se digna em colocar agentes segurança. Se a situação continuar, vamos recusar de pagar a taxa”, ameaçou.
Alfredo Saminanco