Stress é principal causa de perturbações mentais

A diretora do Centro Mental “Osvaldo Máximo Vieira” disse que o aumento de número de pessoas com perturbações mentais deve-se ao stress quotidiano do guineense, e não apenas o uso excessivo de Liamba como muitos pensam.

Finhamba Quessanguê fez esta constatação no âmbito de reportagem feita pelo Nô Pintcha sobre o aumento exponencial de pessoas com perturbações mentais na via pública.

Na verdade, a circulação de pessoas com perturbações mentais nas artérias e bairros da capital Bissau tem crescido consideravelmente nos últimos anos.

Hoje em dia, o Mercado de Bandim constitui o ponto de concentração desses doentes, que deambulam de um lado para outro, sendo alguns agressivos, colocando em risco a segurança dos utentes, enquanto outros intoxicam a própria saúde com o consumo de comida vazada no lixo.

A grande preocupação é que maioria desses doentes são jovens. Esses individuos, muitas vezes, são violentados verbal e sexualmente nas comunidades, sobretudo as mulheres, ficando sob cuidado dos familiares por resto de vida. Aliás, um número considerável deles já foi atropelado na via pública.

O mais lamentável de tudo isso é que muitos famíliares dos doentes em questão são carenciadas e, economicamente, não têm condições de assegurá-los, razão pela qual muitos deles ficam abandonados a sua sorte nas ruas.

Em relação às causas do aumento da perturbação mental na sociedade guineense, a nossa reportagem falou com a diretora do Centro Mental “Osvaldo Máximo Vieira”, sito no Bairro de Enterramento.  Na ocasão, Finhamba Quessanguê sublinhou que esse fenômeno é o resultado das dificuldades sociais, sobretudo  de manter o sustento diário da família, alojamento, isso para não falar da educação e saúde dos filhos.

Quessanguê afirmou, por outro lado, que a sua instituição já recebeu muitos homens e mulheres com perturbações mentais, por causa da impossibilidade financeira para assegurar o sustento da casa. Mas graças à rotina de tratamento ambulante que é aplicada,  essas pessoas passam a recuperar progressivamente.

“Na verdade, há também várias situações suscetíveis de conduzir a perturbação mental, nomeadamente o consumo excessivo de liamba, bebidas alcóolicas e de droga denominada MD”, salientou aquela psicóloga.

No entanto, aproveitou a ocasião para denunciar que esse tipo de drogas são consumidas nas discotecas e maioria das vezes são colocadas nas bebidas sem consentimento das vítimas e, de seguida, são roubadas e, às vezes, aproveitadas para fins alheios,  caso das meninas.

Demonstrou o quanto está preocupada com a facilidade que os adolescentes e jovens adquirem esse produto.

Entretanto, explicou que o Centro Mental é uma instituição vocacionada ao tratamento de problemas ligados ao fórum psiquiátrico, e dispõe de serviços de consulta externa onde atendem pessoas com problemas psíquicas.

“Nesse serviço em concreto, se faz a triagem a cada pessoa recebida, com o propósito de descobrir para qual serviços do centro precisa ser encaminhada conforme o seu quadro clínico”, informou.

Segundo ela, tomamos essa inciativa porque os familiares, muitas das vezes, não compreendem o real problema do seu paciente.

Lamentou o facto de o Centro Mental não dispor de um médico psiquiátrico para atendimento de pessoas com transtorno mental, mas essa lacuna é preenchida por três clínicos gerais e dois enfermeiros. “Esta situação é do conhecimento do Ministério da Saúde enquanto tutela”.

“Os médicos são coadjuvados pelo serviço de assistência social,  encarregue pela orientação e seguimento dos pacientes em regime de tratamento ambulatório”, disse.

Contudo, acrescentou, a Direção do Centro Mental gostaria que os trabalhos da Assistência Social não limitasse apenas em atender os pacientes no centro, mas também efetuar acompanhamento domiciliario, que não tem sido feito por falta de meios.

A diretora informou que mesmo não havendo internamentos,  funcionam os serviços da psicologia, enfermagem, laboratório e farmácia, que vende medicamentos a preços razoáveis.

“O centro sendo instituição do Governo, pede 1500 francos CFA a quem procura o nosso serviço pela primeira vez. Mesmo assim, afluência é muito pouca, devido à fraca capacidade financeira das famílias guineenses associada à relativa distância das instalações”, justificou Finhamba Quessanguê.

Perante esta situação, disse que o Governo precisa assumir o funcionamento efetivo do centro e, consequentemente, alargar seus serviços ao Interior do país.

“O funcionamento do centro não tem tido apoio do Governo, razão pela qual temos enormes dificuldades em suprir as nossas despesas fixas, relacionadas nomeadamente ao pagamento regular dos salários da contabilista, do pessoal contratado, da segurança, do pessoal de limpeza, aquisição dos materiais de escritório, entre outros”, esclareceu.

Aliás, informou que várias vezes comunicou o Ministério de Saúde sobre a necessidade de reforço de segurança. Por isso, acrescentou, a direção faz tudo para garantir o salário dos seis seguranças, porque lidam com pacientes agressivos”.

Afirmou que a Direção do Centro Mental sente-se abandonada pelo Governo, uma vez que pouco esforço tem sido para a promoção da saúde mental, apesar de constituir problemas sérios de saúde pública nos últimos tempos.

Quanto aos medicamentos, assegurou que o seu serviço não tem acesso fácil aos remédios, inclusive há situações em que o centro é obrigado a entregar receitas médicas aos familiares dos pacientes, a fim de encomendá-las ao Senegal ou em qualquer parte, quando escasseia no país.

“Na verdade, os constrangimentos ligados à falta de alguns medicamentos no país reflete negativamente na recuperação dos pacientes, tendo em conta a impossibilidade financeira de muitas famílias”, concluiu.

 Julciano Baldé

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