Embaixador russo afirma que as relações entre Guiné-Bissau e Rússia estão no topo

O embaixador da Rússia afirmou que nos últimos anos a cooperação entre o seu país e a Guiné-Bissau tem registado grandes projeções, apontando como exemplo as visitas de trabalho que o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, efetuou à Rússia em outubro de 2022 e em maio do corrente ano, aquando das celebrações do Dia da Vitória, que tiveram lugar na Praça Vermelha, em Moscovo.

Em entrevista ao jornal Nô Pintcha, Alexander R. Egorov lembra também que o Chefe de Estado guineense participou, em 2023, nos trabalhos da Segunda Cimeira “Rússia-África”, em São Petersburgo.

No âmbito da última visita, o diplomata russo destacou as negociações com o Presidente da Federação da Rússia, Vladimir V. Putin, bem como com os Chefes de Estado do Tartaristão e da Chechénia, respetivamente Rustam N. Minnikhanov e Ramzan A. Kadyrov. Nesses encontros, foram abordados as possibilidades de cooperação em diversas áreas de interesse mútuo.

Segue-se o conteúdo da entrevista.

Senhor Embaixador, em 12 de Junho foi celebrado o Dia da Rússia. Reunimo-nos, sobretudo, para discutir o estado atual das relações russo-guineenses. Como poderia caraterizá-lo?

Desde os primeiros anos da luta para a independência e formação do Estado Guineense os nossos laços bilaterais têm-se desenvolvido no espírito da amizade e parceria. Em 2023 celebrámos o 50º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre os nossos dois países. A propósito, a União Soviética foi um dos primeiros países a reconhecer a independência da Guiné-Bissau.

Os últimos anos foram marcados pelo aumento em flecha dos mais diversos contatos. Só para ilustrar, em Outubro de 2022 e no mês de Maio do corrente o Presidente da República da Guiné-Bissau Sua Excelência Senhor Umaro Sissoco Embaló efetuou visitas de trabalho ao nosso país. No ano passado participou nos trabalhos da Segunda Cimeira “Rússia-África” em São Petersburgo. Pela primeira vez o Chefe de Estado Guineense marcou a sua nobre presença nas celebrações do aniversário da Vitória na Segunda Guerra Mundial na Praça Vermelha.

No âmbito da visita foram realizadas as negociações com o Presidente da Federação da Rússia Sua Excelência Senhor Vladimir V. Putin, bem como com os chefes da República do Tartaristão, Senhor Rustam N. Minnikhanov, e da República da Chechénia, Senhor Ramzan A. Kadyrov. Foram abordadas as mais diversas áreas de interesse mútuo, bem como possibilidades de reforçar a nossa cooperação. A Parte Guineense anunciou também que o Presidente da República pretende realizar ainda este ano uma visita de estado à Rússia a convite do seu homólogo.

Além disso, só neste ano a delegação do Ministério dos Recursos Naturais, encabeçada por Sua Excelência Senhor Malam Sambu, visitou o nosso país já duas vezes. Estamos gratos à Comissão Nacional de Eleições da República da Guiné-Bissau pela participação no programa de observação das eleições presidenciais. Muitas outras comitivas visitaram o nosso país para participar em vários eventos, incluindo o Fórum Económico Internacional de São Petersburgo, Fórum Económico Internacional “Rússia – Mundo Islâmico”, Festival Mundial da Juventude.

No que concerne às atividades práticas, queria destacar que a empresa “Alumínio Russo” (RUSAL) – um dos maiores produtores de alumínio no mundo – já anunciou o início dos seus trabalhos na Guiné-Bissau. A RUSAL pretende desenvolver o projeto dos jazigos de bauxite na região de Boé. A participação de uma empresa tão grande num projeto na Guiné-Bissau abre perspetivas de crescimento económico e afetará o desenvolvimento de uma série de indústrias na economia do país, incluindo a criação de postos de trabalho para especialistas de diferentes níveis de competências. Podemos dizer que a história da Guiné-Bissau independente começou nas Colinas de Boé e continuará nas Colinas de Boé.

Este ano celebramos duas datas importantes – o centenário de Amílcar Cabral, herói nacional da Guiné-Bissau. A propósito, em Moscovo existe uma praça que leva o nome dele. Além disso, festejamos o 225o aniversário do nascimento do grande poeta russo Alexander Sergeevich Pushkin. Todos os que estudaram a língua russa conhecem perfeitamente a poesia deste grande mestre da literatura. A data do aniversário – 6 de Junho – é proclamada como o Dia da Língua Russa no nosso país, e foi celebrada também aqui junto com os nossos amigos guineenses. Neste dia organizamos a exibição aberta do filme “A Testemunha”.

— O que sabemos sobre as raízes africanas do Pushkin?

— A maioria dos peritos russos e estrangeiros está confiante de que o tetravô materno de Pushkin era um senhor feudal rico e soberano, quer na Abissínia (território entre a Etiópia contemporânea e a Eritreia) quer nos Camarões. O seu filho foi secretamente levado para Constantinopla como escravo. O antepassado de Pushkin devia a sua feliz libertação ao diplomata russo Sava Raguzinsky que o trouxe a Moscovo em 1704. Assim, o africano ficou nas mãos do Czar russo Pedro, o Grande, que o batizou e lhe deu o nome de Abraão.

O filho de Abraão do seu segundo casamento, Osip Hannibal, casou-se com Maria Alekseevna – avó de Alexander Pushkin. Sua filha Nadezhda casou-se com o poeta amador Sergey Pushkin. Foram eles que deram à luz Alexander Sergeyevich Pushkin, o maior poeta russo.

Em 1827, Pushkin começou o romance histórico “O Mouro de Pedro, o Grande” como uma referência às suas raízes africanas, que também simboliza o surgimento de Pushkin como poeta em prosa. O autor nunca conseguiu concluir esta obra que foi publicada só em 1837, após a sua morte.

— Muito interessante. Testemunhamos nitidamente o interesse crescente dos jovens guineenses à língua russa. Pode-se dizer que a educação é a direção-chave nas nossas relações?

— Sem dúvida. Hoje em dia, o Governo da Federação da Rússia oferece anualmente aos estudantes da Guiné-Bissau na base gratuita 75 vagas.
Claro, pretendemos aumentar este número. Neste ano planeamos enviar para os estudos na Rússia 84 pessoas. Durante todo o período da nossa cooperação neste domínio, formámos milhares de especialistas guineenses. A maioria esmagadora fez carreiras brilhantes na sua Pátria, ocupou postos de alta responsabilidade no Governo, negócios e na mídia do país. Cabe mencionar também a formação dos quadros militares e policiais.

— Qual é o plano do desenvolvimento das nossas relações?

— Pretendemos reforçar a nossa cooperação. No domínio humanitário, planeamos ampliar a lista de especialidades para candidatos às universidades russas. No que se refere à cooperação na esfera comercial e económica, há muitas empresas russas interessadas em desenvolvimento dos laços nesta área. Por exemplo, foram alcançados os acordos sobre as atividades do gigante do petróleo russo “LUKOIL” na área da extração de hidrocarbonetos. Existe um grande potencial da cooperação entre a Rússia e os países africanos. Isto é evidenciado pela Segunda Cimeira Rússia-África que teve lugar em Julho do ano passado em São Petersburgo.

A Redação

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