Presidente do INASA promete dar nova dinâmica à instituição

O Presidente do Instituto Nacional de Saúde Pública (INASA) assegurou que a sua luta enquanto responsável, recém-nomeado, é de recolocar aquela instituição no seu devido lugar como era perspetivado.

Em entrevista ao jornal “Nô Pintcha”, Alage Baldé disse que para mudar esse quadro vai apostar na formação de recursos humanos a altura do desafio contemporâneo, tendo reconhecido que para isso é preciso restabelecer parcerias com outras instituições internacionais.

Informou que já começou a fazer certas reformas no INASA desde que assumiu as funções, e se tudo correr como previsto dentro de pouco tempo esta instituição vai assumir o seu papel dentro do sistema sanitário nacional.

O presidente afirmou que para o INASA cumprir com a sua missão deve ter quadros qualificados com vários anos de experiencias, o que não foi o caso. De facto na altura de criação tinha bons quadros, mas com o tempo, esses acabaram por “refugiar-se” para outros serviços que oferecem melhores condições salariais e laborais, devido à falta de atenção por parte do próprio Estado.

“Até aqui o INASA não tem orçamento próprio, entretanto, sobrevive de apoios dos parceiros mediante os projetos apresentados a esses. Então essa situação de falta de sustentabilidade levou com que alguns técnicos que trabalhavam aqui abandonassem esse serviço”, disse. Eis a entrevista na íntegra:

Como encontrou o Instituto Nacional de Saúde?

Como bem sabem o INASA foi criado com objetivo de ajudar o Ministério de Saúde na tomada de decisão com base nas evidências científicas. Portanto, é uma instituição de investigação científica na área de saúde. Tem sob sua alçada três centros de investigação, nomeadamente o Laboratório Nacional de Saúde Pública, Projeto de Saúde de Bandim e Centro de Medicina Tropical, que a bem pouco tempo estava desativado, mas agora com a minha nomeação comecei a reactivá-lo.

No entanto, para o INASA cumprir com a sua missão precisa de quadros qualificados com vários anos de experiencias, mas não foi o caso. De facto na altura de criação tinha bons profissionais, mas com o tempo, esses acabaram por “refugiar-se” para outros serviços que oferecem melhores condições, devido â falta de atenção por parte do próprio Estado para com a instituição.

Até aqui o INASA não tem orçamento próprio, entretanto, sobrevive de apoios dos parceiros mediante os projetos apresentados a esses. Então, esta situação de falta de sustentabilidade levou com que alguns técnicos que trabalhavam aqui abandonassem o barco.

Encontrei o Instituto Nacional de Saúde Pública praticamente sem fundos, uma situação bastante lamentável e triste.

A minha luta enquanto presidente será de recolocar o INASA no seu devido lugar, como era perspetivado e, portanto, para mudar esse quadro negro devo apostar na formação de recursos humanos a altura dos desafios contemporâneo, e para isso é preciso restabelecer parcerias com outras instituições internacionais, o que já comecei a fazer desde que assumi essas funções, e se tudo correr como planejado dentro de pouco tempo a INASA vai assumir o seu papel dentro do sistema sanitário nacional.

A INISA depara-se com carências, sobretudo de recursos humanos e financeiros. Como pensar ultrapassar esta situação?

Estou convicto que é possível mudar este cenário de falta de recursos humanos e financeiros, aliás, foi por isso que aceitei o desafio do Governo, principalmente do Ministério de Saúde.

Sabe que é difícil gerir uma instituição que quase estava abandonada, onde as pessoas estavam habituadas a um outro tipo de comportamento e para mudá-lo a um outro formato de trabalho, certamente vai haver resistência.

Mas eu sendo novo nessas funções a primeira coisa que quero fazer é proporcionar a essas a pessoas um ambiente agradável de trabalho, a sentirem-se bem e úteis na instituição. Segundo, mostrá-los que é possível mudar o rosto do INASA através de um trabalho sério de equipa e, finalmente, atribuir responsabilidades a cada um deles.

Neste momento, com parcos meios já recuperei o centro de emergência na área de saúde e estamos a encetar contatos com outras instituições, para a requalificação de quadros. E, por outro lado, mostrar a capacidade na gestão de fundos alocados pelo Ministério de Saúde, isto para poder ganhar a confiança a nível interno e externo.

Dentro de pouco tempo estará no país o presidente do Instituto de Saúde de Portugal, com quem vamos assinar vários acordos e tudo isso, insere-se no esforço de reerguer INASA.

O meu desejo é de capitalizar INISA no patamar de outras instituições da sub-região e é possível chegar lá com esforço de todos, principalmente do Governo. Neste momento, o desafio é formar mais pessoas em diferentes especialidades com títulos de mestrado e doutoramento, aliás, para ser um investigador, ao mínimo deve ter grau de mestrado.

Qual tem sido a comparticipação do Estado?

 A contribuição do Estado é invisível, porque não posso dizer que é zero. Mas uma coisa é certa, o INASA está abandonado. É uma instituição que pode servir o país sobretudo nesse período de pandemia da Covid-19, isto é, se o Estado tivesse criado condições para que funcionasse como deve ser, não seria necessário criar Alto Comissariado para Covid-19.

Se forem criadas condições para INASA não vejo razão de criar uma outra entidade para fazer o mesmo trabalho que essa instituição pode fazer perfeitamente.

Agora estou a negociar com o Governo, no sentido de criar as mínimas condições para que possamos funcionar, que é pagar salário aos técnicos, criar unidades de investigações e fundo de maneio.

Fazer o instituto reassumir o seu papel, é preciso ter recursos humanos qualificados com melhores condições laborais. Na minha perspectiva, para mobilizar recursos financeiros é preciso ter recursos humanos a altura dos desafios do país e do mundo, então é isso que vamos fazer.

O INASA podia viver sem apoio do Governo, isto é, através dos projetos bem concebidos e submetidos aos parceiros, mas para isso é preciso ter pessoas a altura para responder este desafio.

No passado, o INASA recebeu financiamentos, mas foram todos mal geridos, isto fez com que alguns parceiros ficassem reticentes em voltar a financiar.

Há quem diga que os quadros do INASA revelam o nível de conhecimento científico muito rudimentar. Concorda?

Não posso responder sim ou não, mas a resposta possível neste momento sobre essa pergunta é que, na realidade, houve fuga de muitos bons quadros a procura de melhores condições de vida. Uma instituição que não consegue assegurar seus quadros vai ser difícil corresponder às expectativas da população. Porém, ainda tem bons técnicos.

O certo é que está com a insuficiência de recursos humanos para satisfazer as necessidades das populações. Hoje, o INASA devia estar cheio de investigadores, ma não é o caso.

Como sabem, a saúde é uma área complexa, é por isso que existe especialização, quem é médico-cirurgião não pode intervir numa outra especialidade, assim sucessivamente. Se o INASA tivesse médico em cada uma das especialidades, iria aconselhar o Ministério de Saúde a tomar decisões baseadas nas previsões científicas.

Para ser sincero, o INASA está muito longe de atingir os objetivos para que foi criado devido aos fatores que já referenciei.

Como explica a fragilidade do sistema do ensino superior no país na ausência de aulas práticas e laboratórios?

É bom reconhecermos, por um lado, esforços que algumas universidades, escolas de saúde e faculdades de medicinas têm vindo a fazer, por outro, dizer que esforços que essas escolas fazem são compatíveis com o próprio Estado.

Na minha opinião, o que devia constituir debate nacional sobre a problemática do ensino superior se de facto é possível melhorar, aí sim, diria que é possível. É bom salientar que as instituições do ensino superior não recebem subvenção do Estado e as propinas que os estudantes pagam não são compatíveis com o nível do ensino que se pretende ter, sendo a Guiné-Bissau um país pobre, não se pode cobrar alunos propinas além desses que são coletadas.

Para fazer funcionar uma universidade é preciso ter uma biblioteca qualificada, rede de informática sofisticada, laboratório, entre outros. Portanto, o dinheiro pago pelos alunos só chega para pagar salário e outras despesas e não para grandes investimentos.

E para conseguir empréstimos nos bancos comerciais é dispendioso, porque os juros são bastantes elevadíssimos, entretanto, esses e outro são fatores de estrangulamento do ensino superior.

Mesmo com esse obstáculo, há bons resultados, porque se não fossem essas escolas de saúde não estaríamos em condições de combater a Covid-19, foi graças aos alunos formados nessas escolas que a Guiné-Bissau conseguiu fazer face a essa pandemia.

Foi registado progresso a nível do ensino superior, porque há uns anos atrás não se falava da biologia molecular e da ADN, mas hoje é uma realidade no país, isso deveria ser o papel de Estado, criar condições para o futuro do ensino guineense e não transferir toda a responsabilidade aos privados. Até porque o Estado não pode fazer investimento direto, mas pode servir do fiador para que as universidades possam conseguir empréstimos como acontece no Senegal, por exemplo.

O país que pensa no futuro do ensino não pode ter um Orçamento Geral de Estado que só serve para pagar salário. Com esta situação vamos continuar longe de atingir níveis de outros países no setor de educação.

Isso também não nos tira a responsabilidade de honrar com os nossos compromissos, porque não se pode ter uma universidade que administra curso de medicina sem ter laboratório de investigação, que permite estudantes ligar a teoria da prática.

Os diplomas e certificados emitidos pelo INASA são reconhecidos pela CEDEAO e a UEMOA?

Penso que sim, porque a Guiné-Bissau já deu provas de certificados de qualidade a nível da Costa Ocidental da África, por isso, não vejo a razão dessas organizações duvidarem das autenticidades desses documentos emitidos pelo INASA.

Aliás, temos uma boa relação com todas elas, o que demonstra que estamos num bom caminho. Internamente devemos esforçar mais para podermos estar em pé de igualdade com outros países da sub-região.

Quantos quadros médicos e enfermeiros que já foram formados pelo INASA?

É difícil precisar o número, porque sou novo na casa, de formas que não tenho dados estatísticos de pessoas já formadas nessa instituição.

Sei que a Escola Nacional de Saúde e Faculdade de Medicina estão sob tutela do INASA, também o Centro de Saúde Bandim faz parte, portanto, é uma instituição com vários departamentos.

As escolas superiores e faculdades de medicinas já têm estudos científicos publicados?

Os investigadores do INASA e alguns académicos fizeram várias obras científicas já publicadas internacionalmente, só que esses estudos não foram escritos em português é por isso que o leitor guineense desconhece dos trabalhos.

Um outro problema que leva a comunidade científica guineense seja desconhece pela população é que estes estudos são financiados pelos parceiros internacionais, quando deveria ser o papel do Estado, como se faz noutras partes do mundo.

Quando é assim, todas as publicações devem ser na língua de financiador se não as nossas publicações não terão valor científico.

Nos testes de admissão de alunos há sempre queixas de favorecimento e desfavorecimento da parte dos estudantes. Que comentário faz sobre o assunto?

Não posso pronunciar sobre esse assunto, por se tratar de matéria que desconheço. Apesar de formalmente a Faculdade de Medicina está sob alçada do INASA, mas é gerida por entidade exterior que é a Faculdade de Medicina Cubana, portanto, o papel do instituto é apenas de fazer ponte entre a faculdade e o Ministério da Educação.

A resposta que tenho sobre esta pergunta é que o ministério está a trabalhar nesse sentido, tornando o processo de teste de admissões mais transparente possível.

Qual será o futuro do ensino superior?

É difícil de imaginar o futuro, devido à fragilidade do sistema do ensino nacional no seu todo.

O sistema enfrenta vários fatores, desde falta de infraestruturas, greves crónicas, centros de preparações de professores e até os conteúdos programáticos.

O que pode dizer sobre a sua vida socioprofissional?

Sou biólogo de formação base, trabalhei nos Estados Unidos da América e em Portugal.

Formei na antiga União Soviética, onde fiz curso de biologia e mestrado, depois fui fazer douramento em Portugal e fiz três pós-doutoramentos. Sou investigador da Faculdade da Ciência de Lisboa e até hoje estou ligado a essa instituição.

Estou aqui como presidente do Instituto Nacional de Saúde Pública e reitor da Universidade Jean Piaget. É com muito orgulho que estou aqui na Guiné-Bissau a dar a minha contribuição, para a nova comunidade científica na área de medicina. Sinto-me muito feliz por estar a formar novos quadros e ter participado nas publicações de muitos estudos sobre coronavírus. Foi nesta base que fui convidado para ir a Cabo Verde para ajudar com mesmos estudos.

Importa lembrar que no final do meu doutoramento, através de um artigo científico que publiquei, tive o convite de uma das universidades nos Estados Unidos da América que interessava num estudo científico sobre a papaia, que na altura sofria de praga de bichos, então a universidade estava a procura de investigadores na biologia molecular, foi aí que fui confiado para chefiar o grupo de trabalho dessa estudo que tinha como objetivo criar uma nova variedade que vai resistir. Este trabalho científico está a dar resultados na produção de papaia nos Estados Unidos.

Texto e foto: Alfredo Saminanco

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