País sem estudo sobre prevalência do VIH/Sida há 11 anos

A Guiné-Bissau não realizou nenhum estudo propriamente dito sobre a prevalência nacional do VIH/Sida há 11 anos, sendo que o último foi feito em 2010. De lá para cá, são apenas estimativas de zonas mais afetadas.

Esta informação foi avançada por Waldir Madany Jaló, médico especialista, colocado no Centro de Tratamento Ambulatório (CTA) do Hospital Nacional Simão Mendes. 

Em entrevista exclusiva ao “Nô Pintcha”, aquele técnico considerou que a situação do Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) continua preocupante, visto que o número de novos casos vai aumentando a cada dia, assim como o preconceito de estigma.

A isso, junta-se ainda ao baixo nível de acesso à informação sobre a transmissão, as medidas de prevenção e a existência de tratamento. No entanto, não avançou dados concretos dessa alegada subida, fez apenas menção mediante os casos atendidos no CTA.

Chamou a atenção de que nem todos os portadores do VIH têm Sida. Isto porque, segundo ele, a Sida é a fase mais avançada do VIH, que é um vírus que ataca a nossa imunidade que, quando fica baixa, leva a que as anteriores doenças com que tivemos contacto no passado – as chamadas de doenças oportunistas –, voltem a manifestar-se e, a partir dai, a pessoa fica doente.

“O que leva os indivíduos a chegarem à fase da Sida, adoecer ou até de morrer é porque não sabem que são portadores do VIH ou não estão a medicar. Quem sabe e toma medicamentos como deve ser tem uma vida normal como qualquer um, inclusive não transmite o vírus via sexual. Significa que pode casar-se e ter filhos saudáveis, sem infeção à doença”, explicou.

Waldir Jaló acrescentou que quem toma os medicamentos, depois de seis meses tem carga viral indetetável, que é um vírus que circula no sangue e que os aparelhos usados para ver a quantidade do vírus no sangue não conseguem detetar. Quando é assim, disse, a pessoa não transmite vírus via sexual.

No entanto, garantiu que o uso correto de medicamentos não só reduz a probabilidade de não ficar doente, mas também de passar a infeção ao seu parceiro.

O médico aproveitou para clarificar que há remédios próprios para a prevenção do VIH, quando alguém tiver “um contacto sexual ou um acidente com material biológico com possível risco de contaminação”. Por isso, repisou que o nível de acesso à informação condicionou a subida do número de novos casos.

Camada mais vulnerável

Neste sentido, referiu que o baixo nível de informação não só tem a ver com os órgãos de comunicação social, mas constitui também um tabu no seio de muitas famílias.

A seu ver, temas sobre VIH/Sida devem fazer parte do curriculum escolar para que os alunos tenham noção, até porque a camada mais vulnerável é a juventude, com maior incidência nas raparigas. “Isso tem a ver com o facto de a nossa sociedade ser machista. As meninas sofrem de descriminação, desde o ingresso na escola, falta de formação, casamentos precoce e forçado e fazem a primeira experiencia sexual com pessoas mais velhas. Ou seja, alguém com maiores riscos de contrair a infeção, apesar de o sexo não ser a única via de transmissão”, indicou, contrariando o preconceito de que ter VIH é sinónimo de ter muitos parceiros, “uma ideia errada” transmitida ao longo dos anos.

Lutar contra desigualdade de género

Instado a pronunciar-se sobre a reação de pessoas que acusam positivo nos testes, Waldir Madany Jaló referiu que, primeiramente, fazem um pré-teste, em que aconselham sobre o VIH, para que o indivíduo tenha informações básicas e decidir se quer mesmo fazer o exame.

Assim, declarou que de antemão, a pessoa sabe que há três desfechos possíveis: negativo, positivo e indeterminado, deixando-a mais preparada e, mesmo assim, recebe outros aconselhamentos antes de receber o resultado final, além do apoio de psicológicos do CTA.

Sendo o VIH uma doença como qualquer outra, Madany Jaló não vê o porquê de as pessoas reagirem mal, porque às vezes o que mata não é a doença, mas sim o preconceito, o estigma e a auto discriminação. “Muitos que acusam positivo passam a prestar atenção a pequenos detalhes sobre si mesmo”.

Por outro lado, considera que tratando-se de um fenómeno transversal, a problemática do VIH não deve ser deixado apenas aos técnicos sanitários ou ao Ministério da Saúde Pública. Outras entidades como a Comunicação Social, Ministério da Educação e da Juventude, todas devem envolver-se nesta luta. 

Convidado a deixar alguns conselhos à sociedade guineense em relação ao VIH/Sida, o médico exortou para o combate daquilo que nos torna vulnerável à doença, lutar contra a pobreza e desigualdade de género. Apelou também às pessoas a fazerem testes com vista a conhecer o seu estado serológico e melhor lidar com a situação.

O Centro de Tratamento Ambulatório trabalha no atendimento, aconselhamento e acompanhamento de pacientes, não só do VIH/Sida, mas também de outras doenças infeciosas como a hepatite B. Dispõe de uma equipa multidisciplinar, juntando médicos especializados, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais.

Texto e fotos: Ibraima Sori Baldé

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