Há uns anos, agricultura em Mansoa desempenhava um papel crucial na subsistência da população, mas, atualmente, o assoreamento do rio, a erosão e o corte desenfreada de matas estão a ameaçar fortemente a produção e a produtividade naquela zona nortenha.
A cultura de arroz, de milho e feijão são as principais atividades agrícolas, praticada por dois grupos étnicos maioritários, balantas e mandingas. O primeiro dedica-se mais na lavoura de bolanhas enquanto a outra agricultura itinerante (pam-pam).
Sobre a colheita do presente ano agrícola, o administrador do Setor de Mansoa, Fernando Iala, disse que não dispõe de dados fiáveis para proceder ao balanço sobre a produção, mas assegurou que a colheita não foi nada boa, devido a vários fatores.
“Os que trabalham na bolanha tiveram uma colheita razoável e aqueles de campo (pam-pam) não tiveram a mesma sorte. Aliás, esta situação é sistemática, ou seja, acontece quase todos os anos”, esclareceu.
Perante este facto, disse o administrador, os populares recorrem à exploração dos recursos florestais para sobreviver, como extração de óleo e vinho palma, lenha, caça, entre outros. Segundo suas palavras, neste momento, mais de 70 por centos de famílias sofrem de fome, devido à má campanha agrícola.
“Agora a maioria está a espera da campanha de caju para poder sacudir de fome, que tem transformado num problema endémico não só em Mansoa, como todo o território nacional. Esta situação levou os produtores de caju a assinar um pré-acordo com os comerciantes, sem ter em conta os prejuízos”, observou.
Na sua opinião, para fazer face à fome, o Governo deve investir seriamente na agricultura, porque só mecanizando-a é que de facto pode resolver o problema de segurança alimentar.
Por outro lado, Iala disse que caju tornou-se um meio de subsistência para maioria de famílias guineenses, mas também está a ser um obstáculo à diversificação da cultura. Segundo aquele responsável, atualmente caju resolve cerca de 70 por cento de necessidades das famílias, superior ao rendimento da pesca artesanal, que é menos de 45 por cento.
“Se conseguimos mecanizar a agricultura, garanto que não só vamos combater a fome, mas também a corrupção, porque vai refletir na renda de famílias” afiançou.
Apoio dos projetos
Por sua vez, o ex-delegado regional da Agricultura, Sauda Na Calte, disse que a produção agrícola foi relativamente boa, graças aos apoios de alguns projetos, que não só ajudaram com semente melhorado, mas também deram assistência técnica.
Apesar dos trabalhos que estão a ser desenvolvidos, há certas bolanhas que são abandonadas por causa das inundações, embora admite a possibilidade de poderem ser recuperadas.
No ponto de vista desse técnico, além da situação de inundação e salinidade, há um outro problema que tem a ver com a falta de ordenamento, sem o qual será difícil falar numa boa produção agrícola.
Assim, Sauda Na Calte pediu ao Governo, no sentido de mobilizar meios necessários para abertura do canal do Rio Mansoa, a partir de Insalma, para facilitar a passagem da água.
Igualmente, manifestou a sua preocupação em relação à insuficiência de engenheiros agrónomos, razão pela qual apelou à criação de um Instituto Técnico Superior Agrícola para formar novos quadros.
“A maioria de técnicos do Ministério da Agricultura já estão na idade de reforma, pelo que é urgente adoção de uma política capaz de atrair os mais novos, se não, dentro de poucos anos, a Guiné-Bissau ficará sem agrónomos”, alertou.
Alfredo Saminanco