Palestra: Nô Pintcha recorda diferentes fases da sua história

No âmbito das comemorações do seu 49º aniversário, que se assinala a 27 de março, o Jornal Nô Pintcha realizou ontem uma palestra, no qual foram abordados três temas: convidados os antigos diretores para abranger da narração da referida instituição em três vertentes: “Jornal Nô Pintcha como escola de jornalismo”, “Jornal Nô Pintcha em tempo de monopartidarismo” e “Jornal Nô Pintcha na fase de transição do monopartidarismo para o multipartidarismo”.

Os temas foram apresentados e moderados por antigos diretores deste órgão.

Durante a sua intervenção, Humberto Monteiro, orador do tema “Jornal Nô Pintcha como escola de jornalismo” (moderado por Bacar Baldé), disse que o evento é mais que uma simples comemoração de aniversário, e sim uma soberana ocasião que permite trocas de conhecimentos e de experiências entre as diferentes gerações de profissionais que laboraram no Nô Pintcha.

Humberto Monteiro, assegurou que, desde a sua fundação, o Jornal Nô Pintcha tem sido uma escola onde o testemunho do saber é passado dos mais velhos aos mais novos, com rigor, paciência e persistência. Falou dos passos dados, desde estagiário até diretor.

Adiantou que, acima de tudo, aprendeu a pensar como jornalista quando em presença de facto de qualquer natureza, também a consentir sacrifícios, a ser humilde, a cultivar a vontade de aprender e de evoluir na profissão corrigindo os erros e melhorando a sua performance profissional.

“Depois da independência, o jornal Nô Pintcha veio colmatar o espaço que existia, marcado pela ausência de informações nacionais. Na altura, o contexto económico e social era marcado por uma elevada taxa de analfabetismo, o que fazia com que houvesse situações pouco abonadoras como a ausência de uma opinião pública informada e uma deficiente utilização da comunicação social para a livre expressão de opiniões diversificadas”.

Referiu que, na realidade, o regime saído da luta armada de libertação nacional, orientava a prática do chamado jornalismo militante, que impunha de certa forma a autocensura. “Posteriormente, na fase da transição ao pluralismo democrático, da democratização e da liberalização económica, houve situações claras de censuras e manipulação dos órgãos da comunicação social ao qual o jornal não escapou”, revelou.

Humberto Monteiro afiançou que, o Jornal Nô Pintcha, apesar das limitações de diversa ordem, tem vindo a criar uma nova relação com os seus leitores, ao embrenhar no acompanhamento do que está por trás de tudo o que acontece no país, mas, também, relativamente às diversas crises que ciclicamente afetam o país há longos anos. “Desde os primórdios da sua existência, este jornal tem cumprido o seu papel”.

Satisfazer curiosidades do público-alvo

Por sua vez, Pedro Quade, que apresentou “Nô Pintcha na fase de transição do monopartidarismo ao multipartidarismo”, proferiu que, um jornal governamental num país democrático não deve confundir-se com o da fase do monopartidarismo monopolizante, em que esse era unicamente uma caixa de ressonância do governo e do partido no poder.

Na sua opinião, jornal governamental em democracia procura conquistar leitores e pensionistas de vários quadrantes ideológicos, económicos, sociais e culturais.

Pedro Quade, cujo moderador foi Adulai Djaló (atual diretor de Informação) mostrou ainda que um jornal deve satisfazer a curiosidade e interesses de oito tipos de públicos-alvo: o regime governamental, os políticos da oposição, a classe média, a classe pequena burguesa, o setor privado, as mulheres e os jovens e o público em geral da classe baixa que inclui os subúrbios e o campo, para que os quais as notícias e a maior parte da comunicação devem dirigir-se e dar a voz.

Segundo ele, é preciso separar o jornal do partido no governo, pois deve conseguir ter simples leitores e admiradores dessas oito categorias em número elevado. Caso contrário, significa que a comunicação que faz não reflete as diferentes sensibilidades e terá dificuldades de ser muito procurado, num contexto de sistemas multipartidários e de alta concorrência da imprensa escrita.

Partilhar experiências e tirar ilações

Para Aniceto Alves, orador do tema “Jornal Nô Pintcha em tempo de monopartidarismo”, coadjuvado por Simão Abina, assegurou que a comemoração deste aniversário serve para partilhar experiências e conhecimentos, consequentemente, tirar ilações e não fazer críticas e nem condenar, mas sim para analisar o sistema e os objetivos.

Aniceto Alves confirmou que o significado original da palavra “Nô Pintcha, camaradas,” vem da Luta de Libertação Nacional, servindo-se para galvanizar a autoestima, a moral, a coragem, a determinação, o espírito de sacrifício, para prosseguir a missão até à vitória final, sobre o “inimigo” colonialista português, do regime fascista de Salazar. Isso era uma palavra “Profética”.

Este ex-diretor do jornal Nô Pintcha declarou que os órgãos de informação eram os instrumentos do partido e do Estado para o contacto quotidiano com as populações, que devem ser informadas sobre a vida política, económica, cultural e social do país.

Para ele, esses órgãos têm ainda o papel preponderante de promover a formação política cívica dos cidadãos e não só para destruir a campanha de mentiras que sempre caraterizaram a propaganda colonialista, mas, principalmente, para contribuir para a formação do homem novo.

Na sua opinião, o Nô Pintcha acompanhou e deu todo o revelo possível às realizações do partido e do Estado, sobretudo, a cobertura das iniciativas de politização das populações para as tarefas da produção e da reconstrução nacional e às campanhas de divulgação dos princípios do partido (Palavras de Ordem).

A seguir à palestra, que juntou jornalistas, estudantes do Jornalismo e outros académicos, procedeu-se à inauguração de uma exposição que, por sua vez, agrupa imagens fotográficas desde a época colonial a esta parte.

Cadidjatu Bá

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