Um dos assuntos que tem merecido debate económico normativo atual é a problemática da inflação (aumento generalizado do índice do preço ao consumidor).
Ora, a par da crise da pandemia de Covid-19, os recentes conflitos entre a Ucrânia e a Rússia contribuíram sobremaneira para o aumento de inflação na europa e, em consequência, nos principais mercados mundiais. No entanto, com a nossa adesão à UEMOA, em maio de 1997, e em virtude dos critérios da Política de Convergência que vigora nesta organização comunitária, a Guiné-Bissau passou a ter um relativo “controlo” da inflação que gira em torno de 3% tendo em vista às exigências da UEMOA.
Internamente, atendendo às situações mais recentes das crises e com Inflação galopante, coloca-se a pergunta seguinte: como é que a esmagadora maioria das famílias guineenses poderá enfrentar os efeitos dela, a curto prazo e médio prazo?
De um lado, a resposta indica uma tendência NEGATIVA;
– a) se tomarmos em conta à reduzida capacidade de Poupança das Famílias guineenses;
– b) tendo em conta Fraco Investimento público em setores essencialmente produtivos i.e., AGRICULTURA; c) Tendo em conta à Partidarização do Aparelho do Estado que contribui para a sua ineficiência; d) tendo em conta à descapitalização do setor privado.
Por outro lado, creio que se não houvesse o papel económico “informal” das nossas (Mulheres e Jovens), provavelmente as Poupanças das Famílias guineenses seriam muito mais reduzidas, na medida em que graças ao papel-chave de mulheres “Bideiras” e Jovens se consegue ainda mitigar/reduzir os efeitos da pobreza extrema que atinge cerca de 66% da nossa população.
Portando, a nossa inflação é essencialmente importada, ou seja, ela é muito vulnerável a choques externos i.e., um aumento de custo de petróleo no mercado internacional impacta ao consumo final dos produtos alimentares às famílias guineenses; impacta o custo de transporte dos produtos dos países produtores de origem ao Porto de Bissau.
Em outros termos, a nossa dependência estrutural explica-se pela falta de Investimento no setor produtivo (agricultura; infraestrutura; indústria, entre outros), exigindo por conseguinte ações de curto termo, à saber:
1. Complementar a trabalhar na melhoria da cadeia de valor do caju, é essencial aumentar a produção de arroz, o alimento principal na dieta da população. A produção de arroz depende muito da queda de chuva, sendo portanto extremamente volátil. A produção interna satisfaz apenas cerca de 60% das necessidades de Consumo Interno, o que faz com que o arroz seja o segundo bem importado mais importante do país depois dos produtos petrolíferos. Isto é particularmente preocupante, uma vez que os rendimentos da população dependem muito dos preços internacionais altamente voláteis do caju “in natura”.
O aumento da produtividade e da produção de arroz pode combater diretamente a pobreza e a escassez de alimentos nas comunidades rurais.
Dado que a maioria dos produtores de caju são também produtores de arroz em terrenos separados, aumentar a produtividade do arroz pode melhorar o poder negocial dos agricultores quando comercializam caju.
Estudos recentes confirmam que a produção de arroz “mangrove” e irrigadas na Guiné-Bissau é competitiva e que é necessário Investimento para aumentar a sua produção, tirando partido da experiência do programa de cooperação do Governo Chinês e dos projetos agrícolas apoiados pelo Banco Mundial. Além disso, as melhorias das técnicas de plantação do caju podem permitir intercalar a cultura de arroz de sequeiro com a produção de caju. As intervenções no sentido de promover a produção de arroz irão ajudar a combater a pobreza não apenas por si só, mas, também, ao melhorar a resistência das comunidades rurais a eventuais choques.
Em suma, o “controlo” de preço de bens essenciais (arroz e outros produtos alimentares) pelas autoridades competentes implica, em grande medida, contribuir para o aumento da capacidade de Produção Interna, porquanto penso que não é ESTRATÉGICO e não é SUSTENTÁVEL continuarmos a importar produtos essenciais/básicos dos países vizinhos, (i.e., Senegal, Guiné Conacri) entre outros, o que tem contribuído para reduzir nossa “paupérrima”.
Poupança Interna e estrategicamente vai comprometendo a nossa capacidade de Investimento (seja público e/ou privado) sobretudo no setor Agrícola, provocando o nosso crónico Círculo Vicioso – (Fraca Poupança, Fraco Investimento, Fraco Consumo Interno de produtos locais).
Bissau, 15 de Julho de 2022
Santos Fernandes, economista