Movimento “Mindjer i ka Tambur” exige fim da violência contra mulheres

Nos últimos tempos assistimos ondas de violência contra as mulheres um pouco por todo país. Em 15 de julho último um jovem ceifou a vida de uma idosa, na tabanca de Mamparo, Secção de Sintchã Imabé, Região de Gabu.

O Jornal Nô Pintcha entrevistou a socióloga e coordenadora do Movimento Mindjer i ka Tambur, Yolanda Victor Monteiro Garrafão, que exigiu ao Estado a assumir a sua responsabilidade, a fim de desencorajar essas práticas, fazendo programas de sensibilizações com as ONG’s juntamente com o “Movimento Mindjer i ka Tambur” e não só, pois a violência é muito gritante no país.

Gostaria que nos falasse da violência contra mulheres que tem assolado o país nos últimos tempos?

Para falar da violência no país, devo dizer que se trata de um fenómeno que é naturalizado, onde as pessoas resolvem os problemas por meio da violência, que é algo inadmissível, sobretudo quando se trata de crianças e mulheres. É muito visível atos de violência física e psicológica e até caso de feminicídio – tirar vida à mulher, pelo facto de ser mulher. 

Estamos num país que ainda em construção, que tem precaridade quase em todos os setores e a justiça não é exceção. Portanto, isso acaba estimulando violação dos direitos humanos. Por exemplo, nas zonas mais longínquas do de Bissau os agentes policiais não são suficientes para cobrir todas as tabancas, os setores e regiões. Por outro lado, carecemos de um processo de educação, no sentido de formação de homem e mulher novos, como dizia Amílcar Cabral que seriam pessoas recheadas de conhecimento e ideologias, de que realmente é ser guineense e ter um sentimento cidadão, para assim possamos, de mãos dadas, consolidar a cultura de paz.

Isso nos tem faltado muito e, em consequência, as comunidades acabam vivendo coladas às leis costumeiras, cujas várias delas acabam sendo nefastas na vida das mulheres.

Nos diagnósticos feitos a nível da Guiné-Bissau percebe-se que quase todos os grupos étnicos com a exceção dos bijagós, as praticas culturais e suas normas são extremamente discriminatórias para as mulheres. O exemplo disso é o caso da “Nair Sigá”, que foi espancada por não aceitar o casamento forçado e, consequentemente, foi espancada a sangue fria até a morte. É só para termos a ideia do nível do pensamento e de mentalidade tão cruel que ainda é verificado no nosso país no país.

Onde se verifica mais o fenómeno?

Acho que na capital Bissau, talvez pelo numero da população. Sabemos que não temos muitas estruturas e a cidade está superlotada de gente, o que tem favorecido o surgimento de muitos casos, e o interior não escapa. Tal como acontece recentemente no sul do país e no leste, que é uma das campeãs, o fenómeno acontece nas outras regiões, embora não aparecem ao público.

Há meios para apoiar as vítimas?

Na verdade, a violência baseada no género é um problema de saúde pública, ela acaba ceifando a vida das mulheres, mas pelo que se dá entender, o problema não preocupa o Estado, que poderia dar alguns apoios para ações de sensibilização e promoção dos direitos humanos em geral.

Aliás, as ONG’s acabam sendo apoiadas apenas pelos organismos internacionais, com destaque para agências das Nações Unidas. O Estado que tem função de garantir segurança aos cidadãos deveria ter isso como prioridade, mas, infelizmente, não se verifica na prática.

Como vê a impunidade aos violadores?

Isso é um dos grandes défices na nossa luta que é extremamente gigante, o ideal era que as nossas estruturas jurídicas tivessem dado a resposta a essa prática. A impunidade é uma das causas inclusive da violência, porque em vários sítios não existe policiais e se existir não são dados incentivos, não ganham salário condigno, não têm materiais de transportes para manter a ordem. Tudo isso estimula a impunidade no país.

Como a justiça tem estado a lidar com as denúncias de casos de violências?

Apesar da morosidade e dos obstáculos da Justiça, mas tivemos alguns sucessos. Refiro-me ao julgamento da Nhalim Seide e da Vitória Gomes, entre outros casos. Para nós, existem ainda grandes obstáculos em matéria de justiça, embora acreditamos e fazemos a fé, pressionando para que os casos pendentes sejam julgados e sentenciados.

Realmente devemos parabenizá-los em parte, mas queremos que a justiça fale mais alto, porque existem muitos casos que acabam ficando só nos bastidores e não vem ao público.

De recordar que o Movimento “Mindjer i ka Tambur” é uma organização de jovens mulheres ativistas, com o propósito de mitigar violência baseada no género, conscientizar a sociedade guineense e promover os direitos humanos, através de incentivo das denúncias às práticas nocivas contra mulheres e meninas na Guiné-Bissau.

Adelina Pereira de Barros 

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