Médico confirma aumento de câncer de mama e de próstata

O médico Elísio Júnior Baldé Ferreira confirma o aumento de casos de câncer de mama e de próstata no país nos últimos tempos.

A revelação do especialista em obstétricia foi feita durante uma entrevista concedida nesta quarta-feira, ao Nô Pintcha, para expor, ao pormenor, as razões que estão na origem do aumento dessas patologias.

Eis o conteúdo da entrevista

O que é Câncer?

Câncer é um termo que abrange mais de cem diferentes tipos de doenças malignas que têm em comum o crescimento desordenado de células, que podem invadir tecidos adjacentes ou órgãos à distância. Essas células agrupam-se, formando tumores que invadem tecidos.

A partida, começa com dores de cabeça frequentes, muitas vezes com vômitos, alterações na visão ou mudanças repentinas de comportamento, assim com a perda de apetite ou de peso não planejada. Igualmente, nota-se aparecimento de pintas novas ou manchas na pele, que mudam de tamanho, forma ou cor, entre outras.

Portanto, existem várias razões pelas quais o câncer em adultos e jovens pode não ser diagnosticado imediatamente. Muitas vezes, os primeiros sintomas podem sobrepor aos de doenças ou lesões comuns.

Aliás, os jovens podem ficar abatidos, doentes ou então apresentam inchaço ou feridas suscetíveis de mascarar os primeiros sinais de câncer. Porém, dependendo do tipo de câncer, outros sintomas também são possíveis.

Para já, muitos desses referidos sintomas são provocados por outras doenças e não pelo câncer em si. Ainda assim, caso alguém apresentar sintomas contínuos, convém procurar médico da área para consulta.

O câncer surge quando o corpo perde o mecanismo de auto regulação, devido à acumulação de sangue em diferentes artérias, daí a célula passa a receber informações erradas para suas atividades.

Aliás, as alterações podem ocorrer em genes especiais, denominados proto-oncogenes, que ao princípio são inativos em células normais. Quando ativados, os proto-oncogenes tornam-se oncogêneses, responsáveis por transformar as células normais em células cancerosas.

Quais os tipos de câncer que existem? E qual é o mais frequente na Guiné-Bissau?

Os tipos de câncer mais comuns são separados por sexo. Pelo que em mulheres, os mais comuns são de mama, do pulmão, de cólon e intestino, útero e melanoma. E de homens são de próstata, do pulmão, do fígado, de cólon e reto, bexiga urinária e melanoma. Mas, para maior diagnóstico costumamos retirar com delicadeza uma pequena parte da região cancerosa para examinar.

Na verdade, não é fácil dizer com precisão dada as particularidades geográficas e culturais da nossa população, mas o câncer de mama e o de próstata são os mais frequentes, pois, lidamos todos os dias com os processos oncológicos aqui na Comissão da Junta.

Qual é a camada mais vulnerável ao câncer?

Universalmente, as pessoas da terceira idade são mais vulneráveis à problemática de câncer, e isso não significa que outros grupos etários são protegidos.

Por exemplo, já temos diagnosticado, com frequência, câncer em muitas crianças, graças ao trabalho de despistagem de cancro infantil de um grupo seletivo de técnicos de saúde aqui do hospital.

Portanto, esses técnicos já evacuaram muitos pacientes para Portugal, para efeito de tratamento médico, tudo no âmbito da parceria existente entre os governos guineense e português.

Qual é zona do país com maior índice da doença?

Esta resposta é difícil precisar, mas os casos de câncer se registam com maior frequência no Setor Autônomo de Bissau, tendo em conta, penso eu, a facilidade de acesso aos hospitais e, também, a cultura dos citadinos em procurar médico sempre que se adoecem.

Contudo, não quero com isso afirmar que não existe essa doença crónica e nem é frequente nas regiões, talvez a falta de acesso aos centros de saúde condiciona tais diagnósticos.

Como se contrai câncer?

A maioria dos diagnósticos científicos prova que o câncer é hereditário, embora nalguns casos essas géneses dos progenitores não são suficientes.

Igualmente, a maioria de casos de câncer estão associados a nossa dieta alimentar, razão pela qual recomenda-se mais o consumo de vegetais e tubérculos ao invés de produtos industrializados.

As mudanças provocadas no meio ambiente pelo próprio homem, os hábitos e o comportamento podem aumentar o risco de diferentes tipos de câncer.

Por exemplo, os fatores de risco de cancro de útero estão mais relacionados à conduta sexual, caso concreto de pessoas que fazem sexo desprotegido e com vários parceiros, proporcionando o contágio de vírus de papiloma humano.

As causas internas de câncer estão ligadas à capacidade de defesa do organismo às agressões externas. Apesar do fator genético exercer um importante papel na formação dos tumores, são raros os casos de câncer que se devem exclusivamente a fatores hereditários.

Existem ainda alguns fatores genéticos que tornam determinadas pessoas mais suscetíveis à ação dos agentes cancerígenos ambientais. Isso porque algumas delas desenvolvem câncer e outras não, quando expostas a um mesmo carcinógeno.

O envelhecimento natural do ser humano traz mudanças nas células, que as tornam mais vulneráveis ao processo cancerígeno. O que acrescenta ao fato das células das pessoas idosas terem sido expostas por mais tempo aos diferentes fatores de risco para câncer.

O que está na origem do aumento dos casos de câncer no país?

O aumento de casos de câncer no país nos últimos tempos deve-se, simplesmente, ao avanço da medicina, condição que permite hoje o diagnóstico de vários tipos de câncer, entre maligno e benigno. E isso não significa que, outrora, não existia câncer na Guiné-Bissau.

Os doentes diagnosticados conseguem tratar-se internamente?

Lamentavelmente, não, caso for descoberto tardiamente. Mas se for diagnosticado na sua fase inicial, pode ser tratado a nível interno, através da cirurgia de mama, de colo, de útero e de ovário.

Só que qualquer um desses tratamentos médicos precisa ser acompanhado por um especialista e, de momento, o país não dispõe de um sequer, tão pouco de centros especializados e medicamentos indicados a esse tipo de tratamento.

Julciano Baldé

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