Insuficiência de carteiras preocupa autoridades educativas em São Domingos

A insuficiência de carteiras e a falta de giz constituem dor de cabeça para as autoridades da educação do Setor de São Domingos. Acresce a esse obstáculo, a falta de vedação de, praticamente, todos os estabelecimentos públicos de ensino, cuja maioria se situa à beira da estrada.

Uma equipa do jornal Nô Pintcha esteve na vila de São Domingos para, junto das autoridades competentes, tentar saber dos preparativos para o início das aulas. Ao que se conseguiu apurar, está tudo a postos para o arranque, não obstante os problemas supracitados e que se juntam ainda à falta de materiais didático e de limpeza.

No entanto, informações apuradas junto das direções das duas maiores escolas públicas do setor indicam que, tanto no liceu setorial quanto na escola do Ensino Básico “Albino Sousa Nanque”, as aulas arrancaram em pleno. Aliás, não se limitaram apenas às habituais apresentações, mas também começou-se a dar propriamente os conteúdos.

A situação surpreendeu, já que, normalmente, nos primeiros dias de aulas, costuma-se verificar fraca afluência de professores e alunos.

Na semana passada, em quase todas as escolas, os horários já haviam sido distribuídos e fixados para os professores e alunos, respetivamente. Para já, as aulas já funcionam há mais de mês e meio nalguns estabelecimentos privados e comunitários.

Ainda no quadro dos preparativos, o diretor interino do Liceu Setorial de São Domingos deu conta que neste ano letivo, mais de 396 alunos (273 rapazes e 123 raparigas) foram matriculados. O número é ligeiramente inferior ao da época de 2022/23, em que a instituição albergou 478 estudantes.

Boy Guine Djata indicou que o seu estabelecimento de ensino pretende imprimir alguma inovação durante o ano letivo que agora se inicia, com a introdução de aulas gratuitas de informática. “Há 10 computadores disponíveis para o arranque do curso”.

Além disso, há intenção de disponibilizar fotocopiadoras e impressoras para minimizar custos não só aos professores, mas sobretudo aos alunos, que deixarão de caminhar uma certa distância para conseguir os referidos serviços, além de passarem a pagar relativamente mais barato.

Segundo o ditetor interino, que durante largos anos desempenhou as funções de subdiretor desse mesmo liceu, a atual administração tem em mangas a aquisição de novos modelos de quadros, os quais trabalham com feltro e não com giz. Até porque houve constrangimentos no ano escolar transato relacionados à falta de giz.

Em termos de dificuldades, para além das já citadas, nomeadamente a insuficiência de carteiras, a falta de vedação do recinto (que está nos planos a curto prazo), entre outras, Guine Djata fala de ausência de segurança na escola. Aliás, lembrou que, no ano passado, registou-se assalto ao maior liceu público do setor de São Domingos, tendo os gatunos levados alguns equipamentos, entre os quais computadores.

Outra informação avançada pelo diretor interino tem a ver com o facto de no presente ano letivo o liceu não contar com o Terceiro Grupo do curso complementar. Não havendo alunos inscritos para o referido grupo em 2022/23, nem no décimo nem no décimo primeiro ano, a escola não tem como implementá-lo no decurso desse ano escolar.

Relativamente aos professores, disse que os 28 presentes (incluindo um informático) são suficientes, embora precisa de, pelo menos, mais um docente de Geografia.

Escassez de professores formados

Sobre este capítulo, o inspetor setorial de Educação lamentou a insuficiência de professores com formação pedagógica. “Há professores em número suficiente, mas são muito poucos aqueles que têm a formação pedagógica”, referiu José Morais, adiantando que a Plan Guiné-Bissau tem dado grandes apoios no aspeto de formação.

Em relação ao trabalho dos próprios inspetores, disse que esses deparam-se com problemas de locomoção. Apesar de disporem de motorizadas, faltam-lhes combustível e fundo de maneio para serviço de manutenção.

Havendo alguma parte menos boa, José Morais fez a questão de ressalvar o aspeto positivo da educação na zona. Segundo ele, os profissionais da área pouco podem queixar-se de infraestruturas, pois a “boa parceira” existente entre as escolas e as ONG, permitiu que cerca de 98 por cento dos estabelecimentos ensino estejam em condições aceitáveis, não obstante alguns necessitarem de ser melhorados.

Destacou também as ajudas recebidas por parte do Programa Alimentar Mundial (PAM) e da ONG Serviços de Assistência Católica (CRS), esta última virada para ações sociais e humanitárias.

Por outro lado, José Morais não poupou elogios à “boa colaboração” existente entre a comunidade e as instituições de ensino no Setor de São Domingos. “Foi isso mesmo que permitiu um acordo para a comparticipação mensal de cada aluno com um montante de mil francos cfa, para evitar que haja paralisações nas escolas públicas”, disse.

Acrescentou que a iniciativa, que teve início em 2021/22, está a ter efeitos positivos, tendo impedido que os professores adiram às greves decretadas pelos sindicatos.

Ampliação da escola

Na escola de Ensino Básico “Albino Sousa Nanque”, os responsáveis estiveram “sempre preparados” para o arranque das aulas, já que iniciaram as matrículas desde princípios de julho passado, pouco depois do encerramento das aulas.

Até à semana passada, as inscrições ainda estavam em curso, isso no sentido de atingir 800 previstos )número do ano passado) contra 760 ainda inscritos. Nesse ano letivo, de acordo com o subdiretor, Bles Neto Sanhá, a instituição começou a sentir que a procura está a superar a capacidade da instituição. Daí a necessidade de, com fundos internos, começar com a ampliação da escola, através de construção de mais um pavilhão com duas salas de aulas.

Disse que as 10 salas de aulas existentes são já insuficientes para satisfazer a demanda, razão pela qual alguns alunos ficaram de fora no ano letivo transato, naquela que dizem ser a primeira escola da vila.

É nesta ordem de ideias que Bles Neto Sanhá pede apoio para a conclusão da obra de ampliação, pois falta muito para ter um edifício completo. De igual modo, apelou às pessoas de boa vontade no sentido de ajudarem na aquisição de mais carteiras, até porque um carpinteiro foi contratado para “dar jeito” naquelas que poderiam ainda ser aproveitadas.

De referir que a escola do Ensino Básico “Albino Sousa Nanque” leciona do 1º ao 9º ano. Atualmente, conta com 32 professores, dos quais oito são mulheres. Segundo os responsáveis, o número de docentes é suficiente para fazer face à quantidade dos alunos inscritos.

Géneros alimentícios

 Enquanto isso, na escola comunitária El Palmeral D’Elx (Elche), as aulas já decorrem normalmente desde 18 de setembro.

As primeiras semanas foram marcadas com alguma dificuldade, devido às chuvas intensas que se faziam sentir na altura, fazendo com que as crianças chegassem atrasadas à escola. Existem alunos que percorrem cerca de 10 quilómetros de distância.

A escola, apoiada pelos espanhóis (Elche é um município em Espanha), leciona do jardim ao sexto ano e foi criada em 2009. De lá para cá, nunca houve paralisações, porque os professores recebem subsídios pagos pela ONG espanhola.

De acordo com o diretor daquele estabelecimento de ensino, no presente ano letivo, a escola inscreveu 497 alunos, dos quais 224 rapazes e 273 raparigas, lecionados por 17 docentes.

Apesar de reconhecer que a instituição reúne as mínimas condições para o seu funcionamento, com vedação, água canalizada, energia solar, Walter Alberto Jandi também queixa-se da falta de material didático.

Disse que as crianças já começaram a perguntar por géneros alimentícios, habitualmente oferecidos pelo PAM. Walter Jandi confessa que o aspeto alimentar dá muita ajuda às crianças, porque algumas saem de casa sem comer.

Inquietação dos pais

Os pais e encarregados de educação do Setor de São Domingos manifestam-se alguma preocupação em relação ao novo ano letivo. É que eles estão com o receio de que venha a registar-se greves no decorrer da época escolar.

Em conversa com o nosso jornal, Pedro Tchemba, responsável da Associação dos Pais e Encarregados de Educação na escola de semi-internato fala na inquietação dos membros da sua organização em relação aos sobressaltos durante este ano, à imagem do que aconteceu nas épocas anteriores.

Foi essa situação que levou aos pais a formarem uma frente única no ano letivo 2021/22 para criar incentivo aos professores.

Assim, Pedro Tchemba lembrou que, recentemente, o anterior governo, liderado por Nuno Gomes Nabiam, havia anunciado o fim de autogestão nas escolas públicas, decisão que, segundo ele, não se sabe se o atual executivo vai levar em linha de conta, embora “a governação seja continuidade”. “Será que este governo vai continuar a cumprir com o pagamento dos salários a tempo?”, questionou.

Por outro lado, fez saber que a contribuição de mil francos cfa por cada aluno acordados entre as partes, permitiu não só cessar com as greves, mas também ajudar na reabilitação das escolas “que não dispõem de fundos”. Destacou a boa colaboração como fator que tem contribuído na resolução de problemas que vão surgindo.

Entretanto, o Setor de São Domingos conta com um total de 60 escolas, das quais, 36 públicas, 17 privadas e sete comunitárias.

O maior liceu, desde a sua criação em 1996, já teve sete diretores. No entanto, as atuais instalações foram inauguradas em 2012, com o apoio da comunidade local, da ONG Ação para o Desenvolvimento (AD), sendo que outra organização não governamental francesa, a ICASI, ajudou na reabilitação do edifício, após sofrer danos por ventos e chuvas fortes, há cerca de cinco anos.

Além dos seus 18 professore (nenhuma mulher), congrega quatro serventes, pagos com fundos internos.

Ibraima Sori Baldé

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