Instituto da pesquisa agrária aposta na retoma da produção de arroz

Nos últimos anos o Instituto Nacional da Pesquisa Agrária, INPA, está empenhado na recuperação das capacidades produtivas dos perímetros das bolanhas de Contuboel, nas margens do Rio Geba, outrora valorizadas pelo então DEPA.

Mas, esse esforço está a minar-se progressivamente, devido à falta de apoios para poder continuar as iniciativas empreendidas desde a campanha da época seca 2016/2017 onde foram valorizadas 27 hectares de produção orizícola, que resultou numa colheita de mais de 37 toneladas de semente do arroz.

Fazendo um balanço exaustivo à reportagem de Nô Pintcha que esteve no local, o responsável técnico do INPA, Lássana Cambai, disse que a capacidade produtiva do Instituto tem vindo a reduzir-se anualmente, donde, na presente campanha agrícola 2022, foram apenas valorizados 9 hectares, cuja previsão de rendimento será na ordem de 15 toneladas.

Segundo o técnico, a situação deve-se à falta de apoio e insuficiência de meios materiais, de tal ordem que, este ano contaram apenas com um trator que foi recuperado graças ao apoio técnico chinês. As atividades de lavoura também iniciaram-se com certo atraso, aliado à inundação dos espaços produtivos, devido à enorme quantidade de precipitação chuvas.

Contudo, Lássana Cambai disse que, ao nível do Centro a produção está bem e dispõe de 4 variedades, nomeadamente: Nérica S-19, Nérica L1 com um ciclo vegetativo de 125 dias e muito produtivo, Nérica 2 com boa capacidade produtiva e Sabe12. Disse que tanto a Nérica L19 como Sabe 12 têm uma capacidade produtiva média de 6 a 7 toneladas por hectar e muito saborosas e adaptáveis ao contexto.

Relativamente aos camponeses produtores de sementes, vão ter, segundo o técnico, fracos resultados, devido à falta de condições para produzirem atempadamente. Isto é, quando a Direção Regional da Agricultura de Bafatá enviou o trator para o local, já era um pouco tardio.

Por outro lado, a baixa de rendimento terá a ver, segundo Lássana Cambai, com a falta de adubos químicos para a fertilização do solo, nomeadamente a Ureia e NPK que só se consegue no Senegal a preço de 30 mil Francos cfa a saco, sem contar com os custos de transporte.

Na ausência desses adubos, os camponeses fizeram recurso a adubação orgânica com fezes de morcegos dos espaços produtivos, que deu bons resultados de boa produtividade.

Lássana Cambai disse que, para atingir a autossuficiência alimentar, é preciso reunir todas as condições básicas necessárias para uma produção mecanizada, ter fertilizantes, meios de produção e produzir a tempo.

De acordo com Lássana Cambai, os resultados da produção no Centro são postos à disposição do Ministério da Agricultura que vende o produto aos interessados e as receitas geradas são revertidas para apoiar a produção da próxima campanha, investindo na aquisição de combustível e outras despesas do funcionamento do Centro.

Recursos humanos

Lássana Cambai disse que o Centro depara-se com insuficiência de recursos humanos, contando apenas com 6 técnicos efetivos e 4 contratados que também não estão motivados com salários. Disse que nenhuma instituição pode avançar sem recursos humanos, exortando, por isso, o Governo a dar maior atenção ao setor agrário como única alternativa para tirar o país da pobreza e garantir a segurança e soberania alimentar da população.

Para a salvação do setor agrário nacional, Cambai aponta como saída a criação da escola nacional agrícola para formar novos quadros jovens, porque a maioria dos quadros do setor estão já em idade de reforma e não há substitutos.

Os poucos quadros jovens existentes abandonaram o setor devido às más condições laboral. Por isso, apontou também como solução a melhoria das condições laborais dos quadros e técnicos da agricultura, através de melhoria salarial e de incentivos.

Lássana Cambai disse que o setor agrícola nacional está fortemente ameaçado, devido ao mau salário praticado, onde um quadro superior continua a ganhar pouco mais de 50 mil francos cfa e sem promoção. Além de mais, não há aposta de jovens na formação no domínio da agronomia.

Estes e mais outros aspetos constituem sérios riscos no desmoronamento do sector. Isto requer uma reflexão séria para a tomada de consciência, visando mudar o rumo das coisas antes que seja tarde.

, Cambai apelou o Governo no sentido de repensar o setor da agricultura que é bastante fundamental para o desenvolvimento sócio económicos do país.

Aquele técnico lamenta o fato da Guiné-Bissau considerar teoricamente o setor agrícola como prioritário mas que na prática, não se reflete, caso concreto no orçamento geral do Estado. Lembrou que a Conferência dos Chefes de Estados e de Governos em Maputo, Moçambique, recomendou que seja afetado 10% do OGE ao setor da agricultura, mas a Guiné-Bissau nunca cumpriu com esta recomendação que, se for cumprida, o país poderá superar a sua pobreza e lançar-se rumo ao desenvolvimento, sublinhou.

País pode desenvolver-se só com a agricultura

Na visão desse técnico, a Guiné-Bissau pode desenvolver-se só com a agricultura. A convicção de Lássana Cambai deve-se ao facto do país dispor de enormes potencialidades que a natureza lhe oferece. Um país com terra arável e favorável à prática da agricultura, com vários cursos de água, chuvas, enfim, tudo a natureza nos deu. Daí, disse que, só apostando na agricultura vamos superar a nossa pobreza e garantir a soberania e segurança alimentar.

Cambai acredita que a Guiné-Bissau pode exportar arroz para a sub-região como antigamente e libertar-se de importação de muitos produtos. Mas é preciso um compromisso nacional capaz de revolucionar o setor agrícola.

Lembrou que a maioria da população guineense é camponesa e vive da agricultura, pecuária, e da pesca. Com boas estratégias e investimentos sérios, tudo isso pode tirar o país do fosso da pobreza e colocá-lo nos patamares de desenvolvimento. Pois, a Guiné-Bissau pode criar cooperativas que podem proporcionar emprego para os jovens, criar indústrias de transformação do leque de produtos existentes.

Cambai disse que o país perde muito dinheiro com a falta de transformação dos produtos localmente. Referiu s casos de frutas de caju, manga, limão, laranja, banana, ananás, fole, farroba, veludo, cabaceira, entre outras que, se forem bem aproveitadas podem libertar o país de importação de sumos e outros produtos, criar empregos para os jovens e gerar riquezas. Mas é preciso uma visão estratégica, e uma política de industrialização e de formação profissional, criando capacidades nacionais.

Falando especificamente do solo das bolanhas de Contuboel, este técnico agrícola disse que continua muito fértil e bom para a prática da agricultura, apesar de ser explorado a longo de anos. Explicou que o posicionamento das bolanhas facilita o arrastamento de areias e detritos com microrganismos durante as chuvas, que realimentam os espaços em termos de substâncias orgânicas. Isto tem contribuído significativamente na manutenção da fertilidade do solo nestes perímetros, explicou Cambai.

Degradação do centro

Outro aspeto que mereceu a abordagem de Lássana Cambai tem a ver com a degradação paulatina das instalações do centro DEPA, hoje conhecido por INPA, que, segundo ele, foi vandalizado no conflito político-militar de 7 de Junho de 1998.

Disse que, no fundo do coração, sente pena da situação em que se encontra atualmente o centro onde trabalha há mais de 20 anos que, outrora, era local de referência do país e muito atraente.

Disse que, ao longo de anos, não vê engajamento sério do Estado na manutenção desse Centro que é extremamente importante para a dinamização do desenvolvimento da agricultura no país. Que o digam aqueles que outrora conhecia esse Centro.

Cambai apela por isso, o novo ministro da agricultura, Botche Candé de quem se espera que muito poderá fazer algo de positivo para o sector, no sentido de prestar atenção na recuperação da dinâmica desse Centro.

Aos colegas ainda que resistem as dificuldades, Cambai renova apelo para continuarem com maior engajamento e apostar na esperança de que dias melhores virão.

Constatações

Entretanto, a reportagem do Nô Pintcha foi informado de fontes fidedignas, que as bolanhas de Contuboel têm várias vocações em termos de culturas agrícolas, nomeadamente: milho bacil, milho cavalo, milho preto, mancara, feijão, hortaliças e outras que são programas secundários, o que lhes confere um potencial de capacidades produtivas que, se forem bem aproveitadas, serviriam de alavanca essencial de luta contra a insegurança alimentar e nutricional da população local e do país em geral.

Aliás, no passado, os campos de estação experimental de Contuboel, vulgo DEPA, foi o local de grandes produções de sementes orizícolas e que conferia uma forte dinâmica a vila, devidas as grandes intervenções em termos de produção do arroz, empregando um número considerável de mão-de-obra local, na sua maioria agricultores familiares e técnicos agrários.

Mas, nos últimos anos, esta localidade, à semelhança de outros centros de produção agrícola instalados na altura, nomeadamente Coli, Caboxanque, Bissorã e Carantaba, degradou-se e as suas infraestruturas também arruinaram-se.

Atualmente, o INPA, com o apoio do Governo e parceiros, está empenhado na recuperação desta dinâmica, através de intervenções em termos de cultivo dos perímetros, produção de variedades de sementes e sua vulgarização noutras partes do país, assim como no aprofundamento das pesquisas para a seleção progressiva de variedades com maior capacidade produtiva.

As bolanhas locais têm uma superfície de 141, 7 hectares de áreas cultiváveis, divididas em 6 planos. Além da produção de arroz, possui outros programas que são de pesquisas para seleção de variedades e tipos de adubos a utilizar.

No que concerne as variedades de sementes, atualmente já foram selecionadas 7 variedades de sementes de arroz, nomeadamente Nérica L1, Nérica S-19, Sabi 12, Banimalu, Sahel 317, BW 24 e BZ 81.

Estas variedades, segundo informações que o Nô Pintcha teve acesso em reportagens anteriores, são qualidades de grande capacidade produtivas e saborosas, pelo que estão sendo vulgarizadas em todo o país como forma de aumentar a produtividade.

Djuldé Djaló

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