Governo abre mercado improvisado para prevenção do coronavírus

O mercado improvisado no Espaço Verde do Bairro da Ajuda foi oficialmente aberto na terça-feira, dia 21, numa cerimónia presidida conjuntamente pelos ministros da Administração Territorial e do Ambiente, na presença do presidente interino da Câmara Municipal de Bissau.

A abertura foi marcada com uma visita da delegação ministerial, que percorreu todas as dependências do mercado, que começou a operar no sábado passado e que está dividido em três zonas, a saber: uma parte destinada à venda de carne e peixe; outra reservada à comercialização de legumes e, ainda, um lado onde se vende outros produtos de primeira necessidade.

Falando aos jornalistas no final da visita, o ministro da Administração Territorial e do Poder Local pediu a colaboração dos utentes do mercado, seguindo as orientações deixadas pelas autoridades competentes, nomeadamente os limites traçados. Caso contrário, Fernando Dias chama a atenção de que voltaremos a ter um mercado desorganizado como aqueles que foram removidos no Caracol e na subida de Cabana, lembrando que tudo isso é com o intuito de prevenir a contaminação e propagação do novo coronavírus.

A seu ver, há uma imperativa necessidade de todos comparticiparem nesta luta, já que se trata de uma pandemia tida como inimigo comum, tendo como único mecanismo a prevenção.

O governante apelou às pessoas para que continuem a apoiar na medida do possível, garantindo que, da parte do seu pelouro haverá uma concertação com a Câmara Municipal de Bissau (CMB) no sentido de ver o que pode ajudar para melhorar o funcionamento do mercado.

Falando sobre a fraca afluência nesses primeiros dias, o ministro esclareceu que está-se a fazer a deslocação gradual para o Espaço Verde e, sendo uma mudança, há sempre resistências nesse comportamento. “Se calhar há utentes de Caracol que decidiram optar por outros mercados, pelo que é normal que haja pouca afluência nestes primeiros dias. Acredito que dentro de poucas semanas acabaremos por habituar”, perspetivou.

Questionado se o mercado não colocará em causa o Espaço Verde do Bairro da Ajuda, Fernando Dias afirmou que o mesmo nunca irá acontecer visto que no dia em que for declarado o fim do coronavírus no país haverá uma desativação automática da feira.

Aliás, disse que antes de o seu ministério executar qualquer ação, pede parecer técnico ao seu homólogo do Ambiente, na qualidade de um dos parceiros.

Por outro lado, aproveitou para agradecer à Câmara Municipal de Bissau pela execução de orientações à Rempsecao (Rede de Paz e Segurança  das Mulheres no Espaço da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental na Guiné-Bissau), à Cruz Vermelha nacional e moradores do Bairro da Ajuda pelo seu envolvimento, pois só com a CMB não seria possível.

Investir nos sistemas de saúde

Viriato Cassamá, ministro do Ambiente e da Biodiversidade, começou por advertir que a forma mais apropriada de lutar contra o Covid-19 é o distanciamento social e os mercados de Bandim, de Caracol e a subida de Cabana são, possivelmente, um dos focos de contaminação da doença pela aglomeração que se verificava nesses locais. “Tendo um sistema de saúde frágil, temos de apostar na prevenção. Por isso, o governo decidiu procurar outro local que tenha melhores condições para acolher muita gente, optando pelo Espaço Verde”, explicou.

Este governante manifestou-se satisfeito com a forma como o mercado está organizado (respeito pelo espaçamento), mas alertou que as pessoas têm de seguir as orientações e as autoridades devem continuar a controlar para que não volte a haver aglomeração nesse espaço.

Insistiu muito sobre a necessidade de manter a distância exigida de um metro ou metro e meio, como mandam as regras e, se possível, usar máscaras. Segundo ele, vários estudos deram conta de que, mesmo respeitando o distanciamento social, se não se usar máscara, correm-se sérios riscos de contaminação.

Outra razão da sua presença no local tem a ver com as condições de saneamento se estão a ser respeitadas, mas constatou que existem instalações sanitárias (casas de banho) em condições de uso e reparadas pela CMB, em colaboração com a Rempsecao e os moradores do Bairro da Ajuda.

Disse que pediu ao Ministério da Administração Territorial para que colocasse urgentemente pelo menos três contentores para a remoção de lixo no mercado. Um ato que, no seu entender, deve repetir-se todos os dias, além de a limpeza a ser feita por brigadas depois do fecho diário da feira. Tudo isso “para manter o espaço limpo e saudável” contribuindo, assim, no combate ao Covid-19 que “é uma doença invisível”. “Há que prevenir pois, num pequeno erro podemos contrair o vírus, portanto, todo o cuidado é pouco”, avisou.

Reforçou a ideia do seu homólogo da Administração Territorial em como o mercado é transitório, lembrando que noutras regiões do mundo estádios de futebol e hotéis são ocupados provisoriamente devido ao novo coronavírus. Disse que foi apenas uma alternativa encontrada para dar resposta imediata à problemática de acesso aos produtos de primeira necessidade, adiantando que as autoridades estão a procurar mais alternativas, independentemente do Espaço Verde.

Entretanto, aproveitou a ocasião para lembrar que o atual executivo está em funções há cerca de seis semanas e herdou do antecessor um plano de contingência de um milhão de dólares, com o qual trabalhou para chegar aos 14 milhões da moeda norte-americana. Adiantou que o mesmo foi submetido e aprovado pela comunidade internacional, que já o financiou num valor superior ao esperado.

“Portanto, este governo está a trabalhar com os seus parceiros nacionais e internacionais para fazer face ao Covid-19, que obriga a que haja mais solidariedade internacional. Isso demonstra que os países têm de investir nos seus sistemas de saúde para os tornar mais fortes. Hoje em dia não há aviões para se ir fazer tratamento no estrangeiro, à imagem do que acontecia anteriormente. Por isso, temos de investir mais, capacitar os técnicos da área para fazer face a este tipo de pandemia”, alertou, afirmando que, afinal, não é tão verdade o conceito de globalização de que se fala.   

Condições de transporte

Um dos parceiros do governo que trabalham de forma voluntária no mercado é a Rempsecao. A sua coordenadora, Elisa Pinto, faz um balanço relativamente positivo dos primeiros três dias, indicando que vai havendo mais aderência paulatinamente, através da sensibilização no terreno, com mensagem de que o mercado foi improvisado no local por questões da saúde pública, permitindo que haja cumprimento das regras estabelecidas, nomeadamente o uso de máscaras, lavagem constante das mãos e distanciamento social.

Ela referiu que a sua organização está a trabalhar para que isso aconteça e colocou baldes de água com sabão e lixívia para a lavagem das mãos. Adiantou que muitas pessoas rejeitam usar máscaras, apesar da oferta, pois mudança de comportamento são sempre tem resistência. 

Elisa Pinto apelou às autoridades a criar condições para as vendedeiras, procurando meios de transporte para o local e formas como conservar os seus produtos. Informou que as mesmas estão a reclamar pelo facto de ainda algumas das suas colegas encontrarem em Caracol e Chapa, exigindo tratamento igual.

Exortou à CMB a assumir as suas responsabilidades de garantir segurança aos utentes do mercado e os seus respetivos produtos.

José António da Costa Júnior, morador do Bairro da Ajuda (membro de um dos grupos voluntários) afirmou que estão a trabalhar com muitas dificuldades, porque a CMB não está a ajudar. Disse que, diariamente, gastam mais de 30 mil francos CFA em subsídios de incentivo aos jovens que fazem parte da organização do mercado.

Afirmou que trabalham com o apoio dos emigrantes que nasceram ou cresceram no bairro, a maioria dos quais a viver na Europa, adiantando que até aqui não receberam nenhuma ajuda do Estado.

Acusou alguns funcionários da CMB de serem os maiores violadores das regras elaboradas para o funcionamento do mercado, apontando como exemplo o respeito pelas entradas e saídas.

Funcionamento

O mercado improvisado do Bairro da Ajuda começou a funcionar no sábado passado, dia 18 deste mês. Foi aberto em virtude da desativação temporária dos mercados de Caracol e Chapa de Bissau, no quadro da prevenção e combate ao novo coronavírus, tendo sido procurado um lugar mais adequado.

Está divido em três zonas: parte de venda de peixe e carne; legumes e outros produtos de primeira necessidade. Em cada uma dessas áreas estão indicados, através de um dístico, os principais produtos à venda.

O local está muito bem estruturado, com estradas e saídas bem controladas, não só pelos agentes da Câmara Municipal de Bissau mas também por grupos de voluntários. Entre estes destacam-se os 10 elementos da Cruz Vermelha, 50 moradores do Bairro da Ajuda e 54 animadores da Rempsecao, (incluindo seis supervisores).

Este grupo de voluntários tem contribuído bastante para o melhor funcionamento da feira. Colocam bdiões de água nas portas de entrada e saída, sensibilizando aos utentes a lavarem constantemente as mãos, uso de máscara e a observarem o distanciamento social. No entanto, verifica-se um fraco uso de máscaras, mesmo a nível de vendedores. 

Em colaboração com a CMB, estes voluntários procederam à reparação de duas casas de banho, cada uma com duas portas, uma para uso de mulheres e outra para homens.

Em conversa tida com algumas vendeiras, estas queixaram-se da escassez de negócios. “Incomparável com o mercado de Caracol”, desabafou ao “Nô Pintcha” uma idosa de mais de 60 anos de idade que vende legumes.

Quase em cada mesa ouvem-se sons de altifalantes, com os vendedores a promoverem os seus produtos. Em cada uma das zonas estão montadas colunas onde passam “spots” publicitários, gravados pela Cruz Vermelha e com mensagens de prevenção e combate ao novo coronavírus.

Texto e fotos: Ibraima Sori Baldé

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