Ex-combatente Dauda Bangura aponta entendimento como chave para progresso

O ex-combatente da luta de libertação da Guiné e Cabo Verde, Dauda Bangura, aos 84 anos de idade, defendeu a promoção da paz, unidade e reconciliação como fatores chaves para se atingir os anseios de Amílcar Lopes Cabral, que eram o cumprimento do programa maior.

Em entrevista ao Nô Pintcha, Dauda Bangura lembrou que Cabral incutia na mente dos guerrilheiros a palavra camarada, expressão comum que utilizavam como sinal de afeto entre eles na luta contra o colonialismo português, de que os objetivos da luta armada após a independência (construção da nossa terra que é o programa maior) eram mais difíceis de concretizar, e tornam-se ainda mais complicados quando os atores políticos não se entendem no campo político.

“Não me arrependi e nunca vou-me arrepender da minha contribuição para libertar este povo, do jugo colonial português. Não fui às matas buscar algo de material em recompensa mas sim lutei para a liberdade e consegui”, disse acrescentando “cabe agora ao poder político fazer a sua parte”.     

Bangura sublinhou que foi um dos comandantes das diferentes zonas no ataque ao Quartel de Tite, no sul do país, considerado na altura uma base militar bastante fortificado pelos tugas.

“As razões de iniciar a luta armada contra os colonialistas tinham a ver, por um lado, com os abusos dos tugas contra a população da zona sul e por outro, percebíamos que fragilizar o Quartel de Tite com os fracos meios de guerra que tínhamos seria um ato motivador para o começo da luta e foi exatamente o que aconteceu”, explicou.

Segundo o ex-combatente, o ataque à base militar colonialista de Tite foi graças aos apoios materiais da Rússia e de Marrocos enquanto a Guiné-Conacri servia de um canal de receção dos materiais que vinha de países amigos.

Tendo em conta a colaboração efetiva e estratégica da Guiné-Conacri, o ex-combatente é da opinião que, entre as ruas e escolas públicas batizadas com nomes de várias figuras de países africanos, mas também, Ahmed Sekou Touré e outras personalidades da vizinha República da Guinée merecia um reconhecimento das autoridades da Guiné-Bissau.

Bangura lamentou o facto de recebe ainda como major apesar de ter sido promovido por João Bernardo Vieira (Nino) ao patente de coronel. “Até aos dias de hoje aufiro o salário como major, apesar das diligências feitas”, apontou queixando-se dessa injustiça.   

Apesar da sua idade bastante avançada (84 anos), Bangura tem ainda uma capacidade impressionante de raciocínio e de lembrar os acontecimentos da luta com datas e lugares exatos o que o carateriza ser uma biblioteca humana viva ainda por aproveitar.

O ex-guerrilheiro exortou para que os guineenses tenham a cultura democrática e de tolerância, aceitando, respeitando e coabitando com partido político sufragado democraticamente pelo povo.

“Ninguém é eterno neste mundo, cada um tem a sua oportunidade que Deus lhe dá para dirigir destinos de um povo, pois temos só que exigir o cumprimento das razões da sua escolha. O povo terá sempre outras oportunidades para sancionar ou revalidar os políticos”, aconselhou.

Questionado sobre o aumento do número de combatentes ao invés da sua redução, Dauda Bangura  explicou que o recurso à folha de pagamento de salário de 1974 às Forças Armadas Local (FAL) pode ajudar a descobrir quem são os verdadeiros combatentes, pois ser combatente não significa ter idade elevada.

A título de exemplo, disse que atual geração assistiu à guerra de 1998/99 mas a esmagadora maioria não pegou em armas. 

Admitiu ser normal filho de um ex-combatente, enquanto menor de idade beneficiar dos direitos do pai ou da mãe mas não já na idade superior a 18 anos.

Aliu Baldé

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