Enfim, a elevação da Guiné-Bissau

O Estado guineense acaba de, pela primeira vez, ser elevado à Presidência da Conferência dos Chefes de Estado e do Governo da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), 47 anos depois da criação da CEDEAO, em 1975 – e note-se – sendo a Guiné-Bissau um estado-membro nato, passe a redundância, que é estado-membro da CEDEAO desde a primeira hora.

É claro que não é um mandato permanente, perpétuo, vitalício, enfim, que fosse temporalmente ilimitado, irrestrito, não, isso nunca foi e jamais será nem para nós nem para qualquer outra entidade estatal. Sendo assim, a menos que fosse por uma curiosa motivação pedagógica, era completamente escusado vir salientar algo que, de princípio e de facto, é intrínseco, consubstancial à própria ordem das coisas, e que ninguém desconhece: a transitoriedade desta como de todas as presidências… Coeficiente presidencial, coeficiente pessoal.

Mas pode até perceber-se – porque faz parte da natureza humana – o constrangimento íntimo, o ciúme, a inveja, enfim, todo esse insondável substrato emocional ‘muito humano’ que todos nós conhecemos e que, não raras vezes, torna difícil assumir dignamente e reconhecer sinceramente o sucesso do ‘outro’, o sucesso alheio mesmo quando – na atual circunstância – esse “sucesso” tem aquela projeção nacional que fez dele um verdadeiro “bem comum”. Que fazer? É a vida, paciência… E, no caso em apreço, realmente era muito difícil para algumas pessoas aceitar que este feito inédito ficaria a dever-se quase inteiramente ao coeficiente pessoal do Presidente da República Úmaro Sissoco Embaló. De facto a reviravolta diplomática positiva, pacientemente preparada e conduzida no decurso de um período tão breve, de pouco mais de dois anos, é indiscutivelmente uma obra dele.

De um adulto-jovem, que irrompeu na política guineense vindo “quase do nada”, um “quase desconhecido” e que, por tudo isso, não gozava de nenhum favoritismo nem de antigos nem de novos políticos, nem sequer dos cientistas políticos e menos ainda da comunicação social profissional. Alguém que – parafraseando um dito muito antigo e célebre – “chegou, viu e venceu” contra todas as sondagens e expectativas, contra todos os prognósticos eleitorais muito ‘sábios’.

“Arrombar” a porta

Estão completamente enganados aqueles que, cínicamente, procuraram desvalorizar o sucesso diplomático alcançado na última cimeira da CEDEAO, alegadamente porque, segundo eles, ‘mais ninguém’ queria presidir a CEDEAO no novo ciclo político regional que se iria iniciar. Nada disso.

Ao contrário, o que aconteceu em Accra – a ascensão político-diplomática da Guiné-Bissau – foi, literalmente, uma vitória, um feito que resultou de um combate acérrimo, persistente, convincente pela dignidade da Guiné-Bissau. Não. O Presidente Úmaro Sissoco Embaló não encontrou, já aberta, nenhuma porta de acesso da Guiné-Bissau à presidência da CEDEAO, antes pelo contrário. Foi preciso conduzir um “combate” diplomático que não era nada fácil. E fê-lo com muita convicção, coragem surpreendente, persistência inabalável, enfim, retoricamente fazendo valer uma persuasão que se revelaria convincente, irrebatível. Depois de décadas de “apagão” diplomático, é caso para dizer: a Guiné-Bissau, enfim, levantou-se do chão. É verdade, mesmo que, para algumas pessoas, seja difícil de reconhecer.

Fernando Delfim da Silva

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