Comunidade de Waquilare corre risco de insegurança alimentar

Waquilare que, no dialeto fula, significa “esforço”, é uma comunidade situada no leste da Guiné-Bissau, composta de 9 tabancas, nomeadamente Waquilare, Contuboel, Cam-Santim, Sambacunda, Sintchã Aliu Sare Iéro, Candjai, Sare Biro e Mode Uri. Jurídica e administrativamente pertence ao setor de Contuboel, Região de Bafatá, habitada maioritariamente por fulas. Waquilare propriamente dita, conta com uma população de 246 habitantes muito comprometida com o seu desenvolvimento.

A denominação da comunidade resulta do dinamismo dos seus habitantes, situada numa área potencialmente agrícola com vastas superfícies de terras aráveis, banhada pelo Rio Caianga.

Waquilara foi no passado o celeiro da zona em termos de produção orizícola, sustentando muitas comunidades vizinhas da zona no abastecimento do arroz e outros produtos agrícolas e hortícolas.

Mas, para a presente campanha agrícola, apesar dessas potencialidades, os resultados, comparativamente ao ano anterior, não foram melhores.

Aliás, abordado pelo repórter d Nô Pintcha que esteve na zona para avaliar os resultados das colheitas, o presidente da AAFAW – Associação dos Agricultores, Filhos e Amigos de Waquilare que orienta as ações do desenvolvimento local, Mamadjam Djaló, disse que, na presente campanha, a comunidade conseguiu coletar 39,5 toneladas de arroz, contra as 40,4 toneladas de ano transato.

Uma situação que mostra ligeira diminuição em relação à anterior campanha, o que, de certa forma, preocupa a população, temendo uma insegurança alimentar na comunidade.

De acordo com Mamadjam Djaló, essa diferença de resultados em termos de rendimento deve-se ao facto de que, no ano 2021, a comunidade teve apoio do Governo, através do Ministério da Agricultura, o que permitiu à comunidade produzir mais.

Mas, para a presente campanha 2022, apesar dos levantamentos feitos pelos serviços agrários durante a época da seca, com promessa de apoiar os agricultores com combustível e outros apoios, isso não aconteceu a tempo, levando a comunidade diligenciar-se internamente, através de quotização para a compra do combustível para avançar com a produção.

Segundo Mamadjam Djaló, quando chegou o apoio do Governo já quase era tardio, aliada ainda à inundação dos espaços de produção, devido à enorme quantidade de chuvas que caíram este ano e fizeram com que a comunidade não conseguisse produzir de forma como planeou.

Plano para atenuar os riscos de insegurança alimentar

Como estratégia para atenuar eventuais riscos de insegurança alimentar, Mamadjam Djaló disse que a comunidade já realizou duas reuniões de concertação para a produção durante a época da seca para colmatar as lacunas da campanha em termos de resultados.

Desta feita, o presidente da AAFAW disse que a comunidade solicitou os técnicos do Instituto Nacional da Pesquisa Agrária, INPA,  de Contuboel para elaborarem o orçamento necessário para a produção nos 18 hectares, durante a época seca. Mamadjam Djaló disse que assim que receberem a previsão orçamental, a comunidade vai reunir para tomar as disposições para avançar com a produção.

O presidente da AAFAW disse que a sua organização vai promover um novo encontro no decurso do mês de Dezembro para a comunidade discutir sobre o plano de trabalho durante a época seca e, igualmente, proceder à inscrição dos agricultores interessados em trabalhar, Até a altura desta entrevista, já tinham 70 inscritos. Mas, esse número poderá crescer proximamente devido as crescentes necessidades manifestadas por novos interessados. E isso poderá levar ao aumento da área de produção em função das necessidades da população, sublinhou Mamadjam Djaló.

Outras atividades económicas

Além da agricultura diversa, a comunidade de Waquilare desenvolve também a horticultura, cria de animais, pesca e pequeno comércio. Mas, depara-se com a falta de meios de produção e de infra-estruturas de apoio como maiores dificuldades que estrangulam o desenvolvimento da atividade agrícola.

As mulheres da comunidade dedicam-se à produção hortícola num contexto de enormes dificuldades, devido a falta da água para irrigação, associada às problemáticas de falta de vedação dos campos hortícolas que ficam expostos aos animais daninhos. Uma situação que leva as produtoras obterem fracos rendimentos, apesar do solo ser muito apropriado.

Para a irrigação das parcelas, as horticultoras fazem recurso aos poços tradicionais construídos por elas mesmas no interior dos campos, o que, além de destruir o solo, secam-se rapidamente, deixando as hortaliças à mercê do sol e, sendo que a zona é muito quente, prejudicando assim as culturas.

Os homens dedicam-se mais à agricultura, cria de gado e pesca artesanal no rio local, mas sem meios adequados. Graças à pesca, conseguem garantir, em certa medida, mafé para a família e os excedentes do pescado são vendidos as tabancas vizinhas e, por vezes, comercializados até a sede do setor em Contuboel, que dista 7 quilómetros.

Apesar destas potencialidades, os habitantes da comunidade vivem na miséria e pobreza extrema, devido à falta de meios materiais para desenvolverem atividades produtivas para o aproveitamento dessas potencialidades existentes.

Segundo informações apuradas pela reportagem do Nô Pintcha, a comunidade de Waquilare é muito dedicada ao seu desenvolvimento. Criou em Abril de 2018 uma estrutura local de apoio, denominada AAFAW – Associação dos Agricultores, Filhos e Amigos de Waquilare, para orientar o seu desenvolvimento.

Esta associação, com um total de 62 membros, dos quais 52 mulheres e 10 homens, conta com um plano estratégico que espelha as diretrizes do desenvolvimento comunitário, servindo de instrumento de negociação com os parceiros que desejarem apoiar a comunidade. O plano em referência, descreve, em grandes linhas, a visão estratégica da comunidade assente em eixos de desenvolvimento local detalhados em ações específicas.

Devido ao dinamismo e empenho da comunidade, no quadro de emergência das rádios comunitárias, foi criada uma rádio local sita na sede setorial em Contuboel, batizada com o nome de “Rádio Waquilare”, mas que se encontra atualmente inoperacional. 

Infraestruturas sociais

Em termos de infra-estruturas, a comunidade de Waquilare conta com 1 poço tradicional que não consegue satisfazer a necessidade da população, pois, durante o período de Abril a Junho, este poço seca-se e nesse período as mulheres são obrigadas a deslocarem-se para as tabancas vizinhas na procura da água e a fazerem também recurso a água do rio Caianga, que dista 6 quilómetro da tabanca. Esta situação torna a população mais vulnerável aos riscos de contaminação.

A comunidade não dispõe de escola, obrigando as crianças a deslocarem numa distância de 7 quilómetros para irem a escola na sede setorial em Contuboel. Por isso, a juventude local tomou a iniciativa de construir uma escola local, minimizando assim o sofrimento das crianças.

Saúde comunitária

Waquilare não dispõe de nenhuma infra-estrutura sanitária, sendo que as doenças mais frequentes na comunidade são o paludismo, a diarreia, vómitos e infeções respiratórias, em que os maiores afetados são as mulheres e crianças. A comunidade, em caso de enfermidades faz recurso ao centro de saúde de Contuboel à 7 quilómetros, mas também com fraca capacidade de atendimento, sendo que os casos mais graves são encaminhados para o hospital regional de Bafatá que dista 40 quilómetros.

Poder local

Além da administração oficial do setor, a comunidade de Waquilare é dirigida por um chefe tradicional, denominado “djarga”, na pessoa de Mode Baldé, que resolve os conflitos internos da comunidade e, quando a dimensão do conflito ultrapassa a sua competência, é encaminhado para autoridades administrativas em Contuboel. E, na hierarquia tradicional, ele responde diretamente ao Régulo de Mancrosi, regulado da zona.

Projetos de desenvolvimento

De acordo com o presidente da AAFAW e testemunhado pela população local, a comunidade de Waquilare tem recebido apoio em termos de reforço de capacidades e de pequenos materiais, através do Projeto DEPA na altura, da  ONG senegalesa baseada em Kolda, denominada 7A – Marewé e da ONG DIVUTEC, assim como da Direção Regional da Agricultura de Bafatá.

Importante salientar que atualmente o desenvolvimento está a ser pilotado por projetos de cooperação para o desenvolvimento que contribuem na luta contra a pobreza no seio das comunidades rurais e periurbanas em todo o mundo, particularmente nos países subdesenvolvidos como o nosso. Pois, os financiamentos são direcionados às organizações da sociedade civil para gerirem e implementarem ações de acordo com as necessidades identificadas em cada zona, através de diagnósticos participativos realizados com as comunidades.

Apesar destes enormes financiamentos despendidos pelos doadores, ainda há muitas comunidades que estão descobertas destes apoios de que tanto precisam, como é o caso da comunidade de Waquilare aqui referenciada nesta reportagem.

Várias outras comunidades rurais da Guiné-Bissau estão nas mesmas condições, vivendo em extrema pobreza e sem apoios de projetos. perante uma incapacidade do Governo em dar respostas às inúmeras dificuldades e necessidades da população.

Djulde Djaló

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