Agricultores da Região de Gabu preveem boa colheita

Os agricultores da Região de Gabú preveem boa colheita da presente campanha agrícola. A expectativa foi manifestada à reportagem de Nô Pintcha pelos agricultores durante entrevistas separadas em diferentes comunidades, baseando na floração das culturas que aponta para um bom resultado em termos de produtividade.

De acordo com as informações apuradas pelo repórter de Nô Pintcha, que esteve no último fim-de-semana naquela região leste, os agricultores retomaram a produção de outrora, cultivando diversas culturas em campos integrados.

Entre as culturas cultivadas destacam-se os milhos cavalo, bacil e preto, assim como o arroz, mancara, mandioca, feijão, batata-doce, manfafa e abóbora, garantindo assim a diversificação de culturas com o propósito de não só garantir a segurança alimentar e nutricional, mas também aumentar o rendimento familiar.

A estratégia de renovação e/ou retoma do anterior ritmo da produção agrícola deveu-se, segundo os agricultores, a má campanha de comercialização da castanhas de caju registada este ano, o que deixou os camponeses de todo o país em descalabro económico e financeiro, com riscos de fome e pobreza.

Aliás, Aliu Seide, chefe tradicional da comunidade de Sintchã Iaia, arredores de Gabú, disse que o resultado da última campanha de comercialização de caju serviu de lição para os camponeses e convidou a todos a apostarem na diversificação de culturas e abandonar a monocultura de caju.

Seide disse que um povo não deve abandonar a sua cultura e tradição em todos os níveis, referindo-se o caso particular da produção agrícola que, na sua explicação, antigamente, antes da vulgarização de caju, os agricultores cultivavam diversos cereais e tubérculos, o que lhes davam bons rendimentos para garantir a segurança alimentar e comercializar os excedentes de produção para satisfazer outras necessidades.

Mas, o abandono dessa prática agrícola e aposta na produção de caju, para além de ter criado preguiça, prejudicou também a fertilidade de solos nos espaços produtivos e, consequentemente, colocou os agricultores em risco.

Contudo, Seide sublinhou a importância económica de caju e o impulso que este produto, até agora considerado de estratégico para o país, tem na elevação e melhoria de condições social e económica da população guineense.

Entre as melhorias obtidas com o caju, Aliu Seide destacou a aperfeiçoamento de habitações, elevação da economia familiar, diminuição de sobrecarga do trabalho, aquisição de meios de mobilidade (motorizadas e viaturas), iluminação solar e aquisição de mobiliários em todas as zonas rurais do país.

Disse que o caju tem resolvido as necessidades das famílias rurais, desde casamentos, batismos, festas de fanado, compra de roupas, enfim, foi o principal produto gerador de renda para a satisfação das necessidades básicas da população.

Porém, disse que cada coisa tem o seu momento. “O caju já contribuiu valiosamente na melhoria de condições de vida da população, mas chegou o momento para apostar noutras culturas de renda, e não depender só de caju, alertou.

Apelo aos camponeses

O chefe da tabanca de Sintchã Iaia exortou aos agricultores guineenses a apostarem na diversificação de culturas, como estratégia para garantir a segurança e soberania alimentar e combater a pobreza.

Aliu Seide disse que quando iniciou a época da chuva, convocou uma reunião da comunidade para debater sobre a campanha agrícola na altura e, saíram com uma decisão unânime de produzir todos tipos de cereais e tubérculos.

Segundo ele, essa decisão deu bons resultados na sua comunidade, na medida em que se pode ver, à volta da tabanca, uma evolução e floração das culturas, o que deixa os camponeses com esperança de ter boa colheita.

Por outro lado, disse que a chuva também tem comportado bem, facilitando o desenvolvimento das culturas que já estão na fase de amadurecimento.

Aliu Seide afirmou que se os camponeses produzirem culturas diversas, podem dar maior valor ao caju, na medida em que ninguém será chantageado pelos comerciantes para venderem a castanha a preço indesejável.

Também disse que o arroz comercializado no período da campanha de caju é prejudicial à saúde, sublinhando que as inúmeras doenças que hoje afetam a população devem-se ao consumo excessivo de produtos importados com forte teor de produtos químico. “Por isso, hoje em dia aumentou as doenças, como hipertensão arterial, diabete, entre outras”.

Apelo ao governo

O chefe da comunidade de Sintchã Iaia, Aliu Seide, lançou apelo ao governo no sentido de apoiar a dinâmica empreendida pelos agricultores do país, que decidiram retomar o ritmo de produção de outrora, fornecendo-lhes meios materiais necessários para poder desenvolver as suas atividades.

De acordo com aquele líder comunitário, a Guiné-Bissau não precisa de importar cereais, o arroz, pois, o país dispõe de condições naturais para produzir suficientemente, a fim de garantir a autossuficiência alimentar e vender os excedentes de produção para investir noutras necessidades.

Para ele, o governo deve apostar mais na agricultura se de facto quer combater a pobreza, fome, desnutrição e poupar dinheiro gasto na importação de cereais e outros produtos que possam ser produzidos localmente.

O chefe comunitário falou na necessidade de o governo promover a institucionalização de indústrias que, além de garantir o emprego, também possam ajudar na promoção da economia a partir de transformação local de produtos.

Fruticultura

Aliu Seide lembrou que o país dispõe de diversas frutas, tais como manga, laranja, banana, limão, cabaceira, veludo, farroba, fole, chabéu, ananás e próprio caju, produtos que, se forem bem aproveitadas, podem gerar riqueza para o país, melhorar as condições económicas, alimentar e nutricional da população.

Situação da comunidade

A comunidade de Sintchã Iaia, situada a poucos quilómetros ao sul da cidade Gabú, conta com uma população de cerca de 500 habitantes e é povoada totalmente pelos fulas, sendo que as crianças, jovens e adolescentes constituem a maioria.

As crianças da comunidade são obrigadas a percorrer mais de cinco quilómetros para frequentar escola em Gabú, assim como os doentes e as grávidas são também obrigados a andar a mesma distancia para acesso aos serviços de saúde.

Para já, Sintchã Iaia não tem escola, unidade de saúde de base e água potável. Os habitantes fazem recurso a água de poços tradicionais e/ou lagoas, correndo riscos de contaminação de doenças de origem hídricas.

Por isso, o chefe da tabanca aproveitou a ocasião para pedir ao governo, no sentido de apoiar a sua comunidade com escola, centro de saúde e água potável, a fim de minimizar o sofrimento da população.

Por outro lado, o chefe de tabanca condenou a prática da excisão feminina, e disse que a sua comunidade condena com veemência essa prática nociva à saúde da mulher criança, assim como o casamento precoce e forçado, pois, ambos os fenómenos atentam contra os direitos humanos e das crianças.

Djuldé Djaló

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