Administrador de Contuboel defende desenvolvimento a partir das regiões

O administrador do Setor de Contuboel quer que o Ministério da Economia e Finanças retome a política de reembolso da parte de receitas para ajuda de custos e investimento nos setores, “tal como era a regra em tempos passados”. Sem isso, segundo ele, o país estará longe de atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030.

Falando ao repórter do Nô Pintcha, Alberto Djamam Baldé frisou que o desenvolvimento do país deve partir das regiões, e não da capital para o interior.

Nessa senda de desenvolvimento local, Baldéquer que seja revogado o despacho do então ministro da Administração Territorial e Poder Local, que ordena o envio de 12,5% de receitas angariadas nos setores para o pelouro, além dos 50 por cento de rendimentos que o setor transfere para a administração da região.

Alberto Baldé considerou que o referido despacho do então ministro Fernando Gomes é inédito e coloca os setores administrativos numa situação de pobreza e cria dificuldades na resolução dos problemas administrativos a nível local.

“Com as fracas receitas, perante os inúmeros problemas a resolver, o setor envia 50 por cento dos rendimentos para a administração regional e 12,5% para o Ministério Administração Territorial e Poder Local, assim, o setor nunca vai sair da situação miserável em que se encontra”, lamentou.

O administrador lembrou que, nos meados de 1975, após a coleta de receitas, o Ministério das Finanças reencaminhava para as regiões e setores certos valores monetários para ajuda de custos, assim como o  investimento local, procedimento esse que caiu em “desuso” há várias décadas.

Prioridades de Comité de Estado

O responsável pela administração do setor disse que se houver meios, o alcatroamento do troço que liga Tan-tan Cossé a Cambadju, ampliação do centro de saúde local e a instalação de estruturas sanitárias em algumas secções, nomeadamente em Ginane, bem como a extensão do mercado central de Contuboel são as suas prioridades de investimento.

Para impulsionar o desenvolvimento rural, segundo o administrador, o Ministério das Finanças, através da Direção-Geral das Alfândegas, deve reativar o reembolso monetário aos Comités de Estado regionais, pois a grande parte das mercadorias que entram em Bissau por via terrestre passam essencialmente pelas fronteiras de Cambadju e São Domingos.          

“Temos 13 funcionários do quadro privativo que as nossas receitas não conseguem cobrir os seus salários mensais, e neste momento acumulamos muitas dívidas, além de outras que herdamos dos nossos antecessores”, revelou.   

Alberto Baldé realizou recentemente a obra de vedação do recinto da administração do setor, trabalho que, segundo ele, custou muitos milhões de francos CFA, cujo maior parte do dinheiro proveio de ajudas de amigos, pessoas de boa vontade e alguns parceiros. 

Comité de Estado sem viatura

“Temos seis seções a nível do setor, sendo Saré Bacar a localidade com maiores problemas, nomeadamente a degradação da estrada de acesso e a falta de ambulância. Essa situação faz com que, muitas das vezes eu, enquanto administrador, disponibilizo a minha viatura privada para transportar pacientes em estados graves”, explicou Alberto Baldé.

O administrador disse ainda que a nível do setor, composto por seis seções, apenas Fajonquito dispõe de ambulância que fazia cobertura a todas as outras zonas. “Contuboel é o setor mais extenso vasto a nível da província leste, pois, não pode continuar nessa precaridade”.

O apelo do administrador às autoridades centrais para a criação de condições às comunidades foi particularmente dirigido ao Presidente da República e o Primeiro-Ministro.

Alberto Baldé defende sistematicamente que o desenvolvimento da Guiné-Bissau deve partir das regiões, justificando que governar é servir o povo e, como tal, a prioridade deve recair sobre as comunidades mais vulneráveis.

O administrador lembrou ter sido hábito que as nomeações, a partir da categoria de diretor-geral, as primeiras condições têm a var com afetação de viatura e equipamento do gabinete. “Essas necessidades são atendidas sem demora, mas porquê o tratamento desigual aos servidores de Estado”, questionou. 

 Boa campanha agrícola

Em relação à campanha agrícola, o administrador disse ter informações dos populares de que haverá uma boa colheita este ano, resultado de chuvas regulares. Disse que a zona tem condições para a prática regular e permanente de agricultura, isto é, tanto nas épocas chuva e seca.

Lembrou que, antigamente, o Projeto Agrícola Depa incentivava os jovens de capitais regionais a irem para Contuboel, porém, atualmente não há uma iniciativa atrativa do género, e agora se regista a fuga para Bissau.

As principais agriculturas praticadas no Setor de Contuboel são milho bacil e arroz, este último cultiva-se em todas as épocas do ano.  

Alberto Baldé terá sido dos administradores mais rotativos, tendo sido, de acordo com ele, nomeado administrador de Gabu e Pirada (por três vezes), Bafatá e Xitóle (uma vez).    

No que se refe à Saúde Pública, o responsável da área sanitária de Contuboel, Salifo Incaté, disse que o setor depara com falta de técnicos para corresponder às necessidades da sua zona de jurisdição e revelou que o setor está neste momento sem médico.

“Tínhamos apenas um médico disponível a nível do setor, mas que acabou por ser transferido para o Hospital Regional de Bafatá, no âmbito de vagas deixadas pelos técnicos que foram reforçar as suas capacidades profissionais no estrangeiro”, disse.

Aquele enfermeiro apelou ao Ministério da Saúde Pública para reforçar o Setor de Contuboel com técnicos, tendo em conta que a zona tem cinco áreas sanitárias de difíceis coberturas. E, acrescentou que todos os casos graves são evacuados para o Hospital Regional de Bafatá.

Falta de técnicos de saúde

Além de faltar médico, o Centro de Saúde de Contuboel tem apenas dois enfermeiros e uma parteira efetivos, além de duas outras parteiras que aparecem ao serviço quando quiserem pelo facto de não terem vínculo contratual com o Estado.

A este propósito, Incaté solicitou afetação de dois médicos e cinco enfermeiros para uma cobertura efetiva e eficaz das cinco áreas sanitárias de Contuboel e, no mínimo, três parteiras para cada centro de saúde.

Aquele responsável sanitário salientou que há muitos anos o setor estava sem ambulância para a evacuação de casos graves para o Hospital Regional, entretanto, na campanha das últimas eleições legislativas o Movimento para a Alternância Democrática (Madem-G15) afetou ao setor uma ambulância que neste momento está a socorrer as comunidades locais.

A degradação das estradas que ligam o entroncamento de Tan-tan Cossé a Cambadju e Saré Bacar a Contuboel são algumas das preocupações de Salifo Incaté e dos habitantes da zona. As reabilitações ocasionais da mesma em terra batida não têm sido suficientes para aguentar as correntes de água das chuva.

Doenças mais frequentes

De acordo com o responsável de saúde, apesar de tanto empenho para o seu combate no país, o paludismo continua a ser maior patologia que dá entrada nos hospitais e centros de saúde em todo território nacional, enquanto o gripe e diarreia ocupam, sucessivamente, a segunda e terceira posição.

Segundo Incaté, o Centro de Saúde de Contuboel recebe diariamente cerca de 50 casos, tendo apenas a capacidade de internar nove pacientes na área de medicina e três na maternidade.

“Apelamos às populações a dirigirem-se o mais rápido possível aos centros de saúde quando se sentem mal-estar. Atualmente, no mundo, o paludismo não deve ser a causa de morte de ninguém por ser uma patologia de fácil cura, mas no país existem pessoas que só recorrem ao hospital já na fase complicada que, por vezes, se encontra fora de capacidade de controlo médico”, alertou.

Para Salifo Incaté, é preciso fazer um novo recenseamento do povo para conhecer o número real da população, particularmente as crianças e mulheres, permitindo um melhor planeamento das instituições de saúde para fazer face às necessidades das áreas sanitárias.

O Agente da Saúde Comunitária (ASC), Cambai Baldé, disse estar desmoralizado quanto ao valor de subsídio pago no âmbito das ações de sensibilização das comunidades sobre a saúde.

“São apenas 6.000 francos CFA pagos mensalmente a cada ASC, não há como fazer, aceitamos, mas é muito pouco e este valor não incentiva a ninguém, porém, pela saúde das nossas comunidades, continuamos a colaborar com a estrutura sanitária”.

Registo civil

O delegado do Registo Civil de Contuboel, Mamadu Aliu Baldé, anunciou ao Nô Pintcha um plano de facilidade criado à população da zona, diminuindo dessa forma as dificuldades de acesso a essa peça de identificação.

Aliu Baldé disse que a delegacia do Registo Civil sediada em Contuboel vai abrir serviços nas seções de Fajonquito, Saré Bacar e Ginane.

As comunidades estão sempre interessadas em adquirir o registo civil, mas a distância e as dificuldades financeiras para suportar os custos de transporte levam, muitas vezes, os pais a abdicarem o registo dos filhos. 

Aliu Baldé

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