Da última Cimeira da CEDEAO (Acra, 19 de junho) a RTP-África, na sua edição de 21 de junho (segunda-feira) não viu o que deveria ter visto, o que era relevante. Preferiu, ao contrário, dar gás a guineenses cujo sentido patriótico é, no mínimo, bastante duvidoso. E, assim, prestou um mau serviço à Guiné-Bissau e à CPLP, o que autoriza a perguntar se a RTP-África, de facto, já perdeu a cabeça!
Antes de “entrar” propriamente na última “Cimeira de Acra”, convém recordar – como se ainda fosse necessário -, de algumas coisas básicas que, de facto, estão a consolidar um paradigma novo: de resgate da dignidade do Estado guineense que, há décadas, se deixou perder.
E não se esperava que fosse, lamentavelmente, a RTP-África a não saber captar os sinais destes novos tempos, de facto, da mudança que se operou na prática diplomática guineense. Se assim não fosse, a RTP-Africa já teria percebido o seguinte:
1. Que este Presidente da República – Úmaro Sissocó Embaló – não se põe de cócoras perante ninguém, porque o seu patriotismo apurado, simplesmente, não o consente;
2. Que este Presidente de todos os guineenses conseguiu, em pouco mais de um ano de mandato, resgatar a Guiné-Bissau da posição degradante para que tinha sido atirado há́ décadas;
3. Que na CEDEAO todos os seus pares sabem muito bem que não podem desrespeitar a Guiné-Bissau porque o Presidente guineense jamais o permitiria;
Vamos agora à última cimeira da CEDEAO (de Acra). O que é que, realmente, importava a RTP-África relevar, dar importância, se esta televisão pública portuguesa não tivesse já perdido a cabeça:
1. Que depois da criação da CPLP – em 1997, com Nino Vieira à frente da Guiné-Bissau – ninguém, até hoje, se bateu tanto – e com sucesso – para valorizar a CPLP como tem feito o Presidente da República da Guiné-Bissau Úmaro Sissocó Embaló. E daí a pergunta que vem a seguir:
2. Como é que a RTP-África, na sua desastrada edição de 21 de junho, permitiu-se silenciar a voz forte, digna, do Presidente guineense que, na Cimeira, ressoou, firme, nos seguintes termos: “como se percebe que os Estados-membros ‘lusófonos’ assumam as mais altas responsabilidades na SADC e aqui na CEDEAO, a Guiné-Bissau e a Cabo Verde, continuem praticamente marginalizados das posições cimeiras?
3. Não seria essa a mais decente, a mais significativa frase/posição diplomática para fazer a manchete da RTP-África na sua edição de 21 de junho? Daí a conclusão legítima:
4. A indecente emissão de 21 de junho da RTP-África, privilegiou enfatizar algo completamente irrelevante, aliás, falso, de que o Presidente ganês “cortou a palavra” ao Presidente Guineense.
O que, de facto, ali se passou foi que o Chefe de Estado do Gana pediu, respeitosamente, ao Presidente guineense para deixar aquele assunto para “depois:”, para “mais tarde”, para evitar, naquele preciso momento, abrir debate sobre a posição arbitrária, sem motivo, nunca justificada, de encerramento das fronteiras da República da Guiné (Conacri) com o Senegal e com a Guiné-Bissau. Foi isso, apenas isso: uma mera gestão das intervenções.
Ora, para a RTP-África, o mais importante que aconteceu na Cimeira de Acra foi que o Presidente do Gana “cortou a palavra” ao Presidente da Guiné-Bissau. Miserável!
5. Enfim a RTP-Africa, com a cabeça completamente perdida, decidiu dar gás ao antipatriotismo de muitos guineenses perdendo a sua seriedade e traindo o espírito de solidariedade da CPLP.
Por Jorge Herbert