Nos últimos anos, a greve tornou-se “endémica” no setor de ensino guineense. As paralisações têm sido sistemáticas nas escolas públicas, com reflexos negativos na aprendizagem dos alunos, situação que tem contribuído no crescimento de iniciativas privadas, apesar das suas limitações (maioria de escolas) em termos estruturais, organização e de conteúdo curricular.
Durante todos esses anos não tem faltado o diálogo entre o governo e as estruturas sindicais, mas o grande ausente nesta problemática é a solução duradoira para estancar a greve que tem afetado a espinha dorsal do sistema de ensino.
Porém, tem surgido, nos últimos tempos, iniciativas isoladas em alguns estabelecimentos de ensino público, para frenar greve. O Liceu Regional Hô Chi Minh/ Canchungo é uma evidência dessas diligências, que desde Ano Letivo 2021/2022 não tem dado ouvido a nenhum apelo à paralisação de aulas.
Aliás, nesse estabelecimento de ensino a greve já era, segundo confirmou o secretário da escola, Evaristo Mamudo Gomes. A iniciativa de combate partiu dos próprios pais e encarregados de educação dos alunos, movidos pela inércia do sistema, sobretudo dos dois anos letivos frustrados (2019/2020 e 2020/2021), respetivamente com as paralisações sistemáticas registadas no setor de ensino e o surgimento da pandemia de Covid-19.
Esses anos perdidos inquietaram os pais, que se reuniram para a busca de solução ao problema, tendo eles mesmos comprometido em pagar mensalmente dois mil francos CFA por cada aluno.
Por seu lado, a direção do liceu, responsável pela gestão do fundo, estipulou um subsídio de 35.000 a cada professor. Como resultado, o Liceu Hô Chi Minh não tem aderido uma única greve decretada pelos sindicatos dos professores já lá vão dois anos.
Alias, durante a vigência da recente greve sentenciada pela Frente Social (sindicatos nacionais de educação e saúde), o Nô Pintcha visitou o Liceu Hô Chi Minh, em Canchungo, tendo testemunhado as aulas a funcionarem plenamente sem quaisquer restrições, como se nunca tivessem ouvido o apelo à interrupção de aulas. De acordo com Evaristo Gomes, esse estabelecimento de ensino agora funciona quase em regime de autogestão.
Grande barreira
A grande barreira ao funcionamento do Liceu de Canchungo tem a ver com o fornecimento de corrente elétrica. Segundo o secretário, luz pública é bastante cara nessa cidade nortenha, e assim sendo, a direção da escola não está em condições de poder suportar essa despesa.
Porém, o liceu tem um grupo de geradores que está a funcionar, apesar de preço de combustível estar alto. Mas com o empenho da direção, através do dinheiro proveniente do pagamento das propinas e da emissão de certificados, a corrente elétrica está presente pelo menos no primeiro e terceiro turnos.
Importa referir que a escola não tem beneficiado de nenhum apoio específico de Estado ou de outro parceiro. Todas as despesas de funcionamento são financiadas a partir de fundos provenientes da percentagem de matrículas, propinas e outros serviços internos. Essas verbas são também aplicadas no pagamento do chamado pessoal menor (serventes) e guarda noturna.
Igualmente, através do esforço interno, o liceu já acabou com todas as barracas, tendo sido construídos novos pavilhões, faltando apenas portas, janelas e grelhas, trabalho esse que, de acordo com Evaristo Gomes, vai ser concluído brevemente, assim que forem pagas as propinas do terceiro trimestre.
Capacidade da escola
O Liceu Regional Hô Chi Minh/Canchungo tem capacidade para três mil alunos, mas no ano letivo anterior não foi possível atingir este número, devido às situações que culminaram com a perda de dois anos letivos, o que de certa forma provocou descrédito ao ensino público.
Nesses dois últimos anos a escola está em “retoma”, e com a iniciativa de autogestão, os alunos estão a voltar pouco a pouco. Por exemplo, no primeiro ano de implementação da iniciativa dos pais contra a greve (2021/2022) a escola não conseguiu atingir nem mil alunos. Neste ano letivo, “felizmente” foram inscritos um total de 1877 alunos, sendo masculinos 947 e femininos 930.
Adulai Djaló