Sindicato de base dos Correios avisa que situação vai de mal a pior

“Cerca de 200 dos 276 funcionários dos Correios da Guiné-Bissau morreram por causa de estresse e os restantes sem esperança de um dia verem resolvidas as suas situações de vida e laboral”.

A revelação foi feita pelo presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios da Guiné-Bissau (Sitracorreios), em entrevista exclusiva ao Nô pintcha, no dia 20 de setembro, na sequência da vigília realizada no mesmo dia, à frente do Ministério dos Transportes e Comunicações, motivada pela não assinatura da Carta de Conforto (garantia), por parte do ministro da tutela, “Aristides Ocante da Silva”, com o Ecobank, para desbloqueamento de três bilhões de francos CFA, com vista ao relançamento da empresa, “uma vez que o banco já manifestou repetidas vezes a sua disponibilidade”.

De acordo com aquele sindicalista, esse empréstimo que o Ecobank vai disponibilizar, enquadra-se no Projeto de Restruturação e Relançamento dos Correios, para voltar ao mercado e procurar parcerias para a sua digitalização.

Tefna Tambá lembrou que na base desse programa, trabalham fortemente no sentido de conseguir o financiamento do banco e que este disponibilizou prontamente, desde Janeiro de 2020 a financiar.

Tambá acrescentou que os funcionários dos Correios não recebem os seus salários há 149 meses, incluindo dívidas com segurança social e Contribuições e Impostos.

Segundo ele, na base dessas dificuldades, o Ministério das Finanças vinha concedendo, mensalmente, aos funcionários dos Correios uns subsídios no valor de 16 milhões, que correspondem 60 por cento dos ordenados, para a implementação do referido projeto.

“A partir do mês de janeiro de 2022, o Ministério das Finanças suspendeu esse subsídio, justificando que houve o atraso do arranque do projeto em causa, a não desbloqueamento da verba por parte do Ecobank, por causa de não assinatura da referida carta do conforto”, revelou Tefna Tambá.

O presidente do Sitracorreios considera de viável o Projeto de Restruturação e Relançamento dos Correios para sua Reposição no Mercado.

Nesse sentido, Tambá pediu à intervenção urgente do Presidente da Republica e o Primeiro-ministro, no sentido de instruir o ministro dos Transportes e Comunicações, para produzir e assinar aquela carta de garantia. Por outro lado, o sindicalista advertiu que se o ministro não cumprir com a sua responsabilidade em assinar o tal acordo, os trabalhadores dos Correios, a empresa e o próprio país, vão perder.

Situação de “penúria”

O presidente do Sitracorreios disse que se os trabalhadores continuarem nessa situação de “penúria”, estão sujeitos serem despejados, como tem acontecido, por falta do pagamento de arrendamento, e os seus filhos vão continuar a ser expulsos na escola por incumprimento dos pagamentos das propinas e vão continuar a serem abandonados pelas suas esposas, por motivo de dificuldades.

“Esse desespero levou muitos dos nossos colegas a serem albergados pelos seus familiares e até ao ponto de alguns irem aos terminais de transportes, onde prestam serviços de apoio aos condutores “, lamentou Tefna Tambá.

No entender daquele funcionário dos Correios, é uma situação desumana para um chefe da família. Segundo ele, não há patriotismo e nem nacionalismo nessa realidade, senão vejamos: “como que é possível, um guineense colocar o seu irmão na situação de pedinte”.

Tefna Tambá lembrou do último acontecimento, onde os dirigentes do Sindicato dos Correios deslocaram à Presidência da República, para pedir o primeiro Magistrado da Nação, no sentido de usar a sua influência junto do Governo, para que a situação dos Correios seja resolvido.

“Quando chegamos no recinto do Palácio, uma das nossas colegas caio e desmaiou-se, aí, um dos seguranças do Presidente da República pegou numa viatura para levar a essa senhora ao Hospital Nacional Simão Mendes. Perante o facto, dissemos a esse senhor que não é preciso transportar a senhora, porque os funcionários dos Correios nunca morrem no hospital, mas sim em casa”.

De acordo com Tambá, o socorrista da Presidência acatou as nossas orientações e foi a um boutique próximo do palácio onde comprou uma lata de leite para nossa colega.

“Quando a paciente tomou esse leite, imediatamente começou a transpirar, recuperando-se da crise, e o próprio segurança diz-nos que a colega estava com falta de boa alimentação”, referiu Tefna Tambá.

Entretanto, Tambá voltou a pedir ao Presidente da República, Sissoco Embaló, no sentido de obrigar o ministro dos Transportes e Comunicações a assinar a carta de conforto. Segundo ele, é uma grande oportunidade para fazer com que a empresa retome a sua atividade normal como no passado.

“Todos os países no mundo têm correios a funcionar normalmente, e só o Estado da Guiné-Bissau que não é capaz de fazer funcionar os seus correios”, lamentou o Tefna Tambá.

De recordar que os trabalhadores dos Correios promoveram uma vigília à frente do Ministério dos Transportes, vestidos de uniforme preto, com velas acesas nas mediações da instituição tutela, exibindo cartazes com slogan onde se pode ler: “queremos que a Carta do Conforto seja assinada”.

A vigília que iniciou às 7h30 terminou às 11h30 minutos, sem terem sido recebidos pelo titular dos Transportes e Comunicações. 

Importa destacar que sobre essa vigília, o Nô Pintcha contatou, sem sucesso, o ministro para registar a sua versão dos factos.

Fulgêncio Mendes Borges

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