“Contribuição de remessas de emigrantes para o desenvolvimento do país”

“Contribuição de remessas de emigrantes para o desenvolvimento do país” é tema da tese de douramento do guineense Saico Djibril Baldé, atualmente investigador sénior no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, cuja apresentação pública foi feita nesta quarta-feira, dia 1 de junho, em Bissau.

Esta tese foi defendida em junho de 2020, em Lisboa, mas o autor quis partilhar o conteúdo com os conterrâneos, numa apresentação que contou com os comentários da Professora Doutora Clara de Carvalho, docente do Instituto Universitário de Lisboa, no qual Saico Baldé fez os seus estudos.

Falando aos jornalistas sobre o tema em questão, o académico afirmou que sendo ele emigrante durante quase 30 anos, era a forma de transmitir a sua própria experiência de vida, dar valor ao emigrante, que decide abandonar o seu país para tentar alcançar algo para si e a sua família.

O autor acrescentou que é também a maneira de tentar realçar a importância da emigração nos nossos dias. “Nalguns países, as remessas dos emigrantes são muito mais importantes do que as ajudas públicas para o desenvolvimento. Isso deve ser divulgado e valorizado”, considera.

Saico Djibril Baldé foi criança talibé durante cerca de 10 anos no Senegal, pelo que, disse, nunca queria ser emigrante outra vez. Mas o destino o levou a Portugal, onde chegou apenas com o nono ano de escolaridade, tendo feito aí o resto do percurso até ao doutoramento. 

Lembra da importante contribuição dos emigrantes para aliviar a pobreza nas famílias guineenses, ajudando não só para a formação dos filhos, irmãos e sobrinhos, mas também para o sustento da casa.

A seu ver, o desenvolvimento começa por pequenas coisas, como a educação, a saúde, a alimentação e, “só satisfazendo isso, podemos lutar por outros objetivos”. E não tem dúvidas que os investimentos que os emigrantes fazem, como as construções hoje são visíveis em todas as partes, tanto em Bissau como no interior.

Saico Baldé, que também é coordenador do Centro de Estudos e de Antropologia, indica que, atualmente, na Guiné-Bissau, mesmo que haja dados estatísticos sabe-se que os emigrantes contribuem com mais de 10 por cento do Produto Interno Bruto (PIB).

Na sua opinião, nenhum país do mundo consegue satisfazer as necessidades somente com os seus recursos, tanto assim que “os mais desenvolvidos são os mais emigrantes”.

Apontou o exemplo da vizinha República do Senegal, em que muitas empresas nasceram da cooperação entre o Estado, que tinha políticas bem elaboradas para apoiar os emigrantes a criar emprego, e a diáspora. “Não só valorizaram as poupanças dos emigrantes, mas também conseguiram arranjar outros financiamentos para os apoiar na criação de pequenas empresas para empregar outros senegaleses”. 

Questionado se os conteúdos desenvolvimentos com base nesse tema podem ser executados na Guiné-Bissau, de momento, tendo em conta a condição em que o país vive, o investigador respondeu positivamente: “A situação foi criada pelos guineenses e serão os mesmos a ultrapassá-la também, com vontade, seriedade, políticas claramente bem definidas. É um trabalho de todos, não somente dos políticos, porque esses provêm de nós mesmos. São nossos irmãos, filhos, tios, sobrinhos e primos. Se assim desejarmos, podemos e devemos mudar o rumo do país”.

Refira-se que a “Contribuição de remessas de emigrantes para o desenvolvimento do país” é um documento com mais de 300 páginas, retratando da importante contribuição dos emigrantes ao progresso da Guiné-Bissau. 

Ibraima Sori Baldé

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