Centro de saúde de Caió sem capacidade de resposta aos desafios sanitário da zona

O Setor de Caió, Região de Cacheu, situa-se a noroeste de Canchungo com uma superfície de 664,3 km2 e população estimada em cerca de 10.297 habitantes. É composto por três secções, a saber, Cajugute, Jeta e Pexice.

A etnia maioritária é manjaca, com diferentes rituais culturais tradicionais, dentre os quais Cacau, Catchituram, Cauet-puboman, e Cansarai, que são realizados em diferentes períodos do ano.

A população dessa localidade vive essencialmente da agricultura, pesca, criação de gado bovino e um pouco de comércio. A sede setorial, Caió, que dista a 28 km da cidade de Canchungo, tem um liceu, batizado com o nome de Jovens Sem Fronteiras, que leciona até décimo ano, mas para este ano letivo a direção pretende introduzir o décimo primeiro ano.

A ideia visa diminuir a saída de jovens para outras cidades a procura de conhecimento científico e, por um lado, contribuir na redução do êxodo rural, fenómeno que tem ganhado força nos últimos anos naquela zona.

A falta de infraestruturas escolares leva os alunos a percorrerem, todos os dias, uma distância de quatro a cinco quilómetros a procura de conhecimentos, o mais dispendioso é que alunos fazem essa correria duas vezes por dia, devido às aulas da educação física.

Aquela zona era conhecida como “terras sagradas”, com uma riqueza cultural mas, hoje em dia, todos esses preconceitos estão a desaparecer devido a três fenómenos, nomeadamente a emigração (uma prática antiga), ausência de mercado de emprego para jovens e insuficiência de escolas do ensino secundário.

Essa situação fez surgir um novo fenómeno de roubo de gados, facto que está a refletir negativamente na economia das famílias. Para quem conhece o Caió, desde 1998 que não se verificava roubo, mas, atualmente, é uma das práticas que está constituir um Calcanhar de Aquiles para os populares.

Segundo as constatações de algumas pessoas, o furto de gados ganhou força a partir de Conflito Político Militar de 7 de Junho, tendo o setor sido invadido por pessoas vindas de outras regiões.

Há quem diga que tudo que se vive no setor, principalmente de furto de gado, tem colaboração direta de filhos do setor.

A população do Setor de Caio está votada ao esquecimento total devido a má condição da estrada que liga essa zona ao setor de Canchungo, facto que tem provocado a subida do preço de transporte de 500 para 1.000 francos CFA o custo de transporte para uma pessoa.

Centro de saúde em ruína

O centro de saúde local está em péssimas condições, porque carece quase de tudo, o edifício num estado avançado de degradação, teto esburacado e com a cobertura escancarada.

O referido estabelecimento sanitário dispõe de duas viaturas – um duplo cabine, doado pela República Federativa da Nigéria e uma ambulância que neste momento está avariada. Além dessa carência, também depara com a falta de energia elétrica e água canalizada. Casas de banho só servem para urina.

De acordo com as informações que o repórter apurou no terreno, o referido centro de saúde não tem farmácia própria e única que existe pertence a um cidadão, para atender as necessidades de 10297 habitantes.

Esta situação foi lamentada pela médica Lúcia Francisco Cá, que considera triste ver um centro naquelas condições em que se encontra. O mais caricato de tudo é que os partos são assistidos com a luz de vela, telemóvel ou de lâmpadas caseiras (luz de mão), facto que até pode levar perdas de vidas.

O centro é de tipo C, com capacidade de internamento de 16 camas. No entanto, para atender as necessidades da população é urgente transformá-lo num tipo B, para que possa responder aos desafios sanitários da zona, porque espaço não falta para sua ampliação.

As doenças mais frequentes são diarreia e gripe, com maior incidência na época seca, enquanto paludismo na época de chuva, atingindo mais os homens que, como é óbvio, permanecem mais tempo na rua em relação às mulheres, , principalmente no período da noite.

Preocupada com a situação do centro, a Lúcia Francisco Cá lançou um SOS ao governo e as organizações internacionais parceiras da Guiné-Bissau, para ajudar a população do setor de Caió a sair da situação que se encontra.

Quanto ao pessoal, o centro não tem falta, até ao momento funciona com três serventes, uma médica, parteira, um técnico de laboratório e cinco enfermeiros que, às vezes, fazem papel de parteiras.

Pesca artesanal

O Setor de Caió, um dos maiores da Região de Cacheu, fornece o pescado para diferentes mercados da região e outras cidades do país, nomeadamente Bissau, Bafatá, Gabu, entre outras.

Apesar da importância que esse setor tem na economia de famílias, o porto cais encontra-se em péssimas condições que, muitas vezes, não facilita o atracar de canoas de pescas e pirogas de transporte que fazem ligação entre as ilhas.

Esta situação cria transtorno para os pescadores e as mulheres vendedeiras. Perante esta situação, as “bideiras” são obrigadas a descer às canoas de pescadores, para pegar o pescado. Às vezes, nesse vaivém sofrem acidente.

O presidente da Associação dos Pescadores, Ire Mon Fati, vulgo Imbunde, disse que o Porto de Caió não beneficiou de manutenção por parte das autoridades administrativas do setor muito menos das entidades gestoras de portos. E em tempos foram os filhos da secção da Jeta que fizeram alguns trabalhos de manutenção.

Porém, os pescadores continuam a pagar os seus direitos às autoridades locais que nunca dignaram em fazer qualquer tipo de intervenção.

Fati mostrou que a prioridade de seus associados é de abastecer o mercado local, mas como todos sabem que a população que vive naquela zona não dispõe de poder de compra, então são obrigados a recorrer outros mercados do país.

Para além desses obstáculos, ainda estão com muitas dificuldades de materiais, desde aquisição de redes de pesca, câmara de conservação de pescado e outros equipamentos.

O representante de pescadores esclareceu que nunca chegaram de receber apoio das autoridades locais muito menos do Estado da Guiné-Bissau. Para conseguir materiais de pesca recorrem ao estrangeiro, Senegal, Gâmbia ou Guiné Conacri, situação que os prejudica bastantes.

Também sofrem furto de motores, aliás, “recentemente foram roubados cinco motores no porto e fizeram denúncia junto da capitania, como autoridade máxima, no sentido dessa ajudar na identificação de ladrões e, lamentavelmente, até neste momento nada foi feito”.

Entretanto, são conjunto dessas situações que levou alguns associados a abandonarem devido à falta de segurança. Esta situação fez com que alguns deles decidirem voltar a proveniência.

O presidente denunciou que o relacionamento com a população de setor de Caió não é saudável, porque não gostam tanto da presença de pessoas estranhas na comunidade.

Quanto ao relacionamento de sua associação com a direção da capitania e da FISCAP, também disse não são de melhores devido à falta de clareza na atribuição e no pagamento dos documentos.

Disse que várias vezes perdem canoas de pesca na tentativa de fuga ao fisco, acabando por esconder as canoas nas rotas usadas pelos ladrões de gado, que aproveitam as mesmas para seus benefícios.

Há meses atrás, os populares fizeram uma patrulha contra os ladrões e, durante a operação, descobriram canoas escondidas, pensando que pertenciam os malfeitores, então tiveram que incendiá-las e só depois que vieram a saber que, finalmente, são de pescadores.    

Afirmou que o assunto já está sob alçada das autoridades competentes, mas até então não se sabe o desfecho final, não obstante à intervenção do deputado eleito no setor.

“Tempos atrás, os pescadores foram reiterados motores de canoas no alto mar por agentes da capitania dos portos sem se importar do perigo de vida que podem correr”, lembrou.

Entretanto, Ire Mon Fati disse que o período de maior captura é novembro a maio, principalmente bagre, qualidade mais capturada na zona.

Vendedeiras do pescado

A presidente da Associação das Mulheres “Bideiras” (vendedeiras), Cândida Sá, subscreve às denúncias do responsável de pescadores sobre as barreiras criadas no dia-a-dia dos que lidam com as atividades de pesca.

Segundo ela, os seus associados deparam com dificuldades de materiais de fumagem do pescado, como é o caso de forno melhorado e lenhas e que, muitas vezes, são obrigadas alugar carros a preços altos, o que reflete na redução dos seus rendimentos.

Lembrou que chegaram a receber apoio de um projeto para a construção de fornos de fumagem e segundo apoio foi do PAIGC, mas mesmo com essas ajudas ainda continuam enfrentar dificuldade em vários domínios.

Repudiou o comportamento dos pescadores em relação a seus associados que, segunda ela, não abona em nada.

“Continuamos a atravessar dificuldades para o transporte de pescado de porto para casa. Durante o percurso sofremos injúrias, calúnias, defumações da parte de filhos de Caió, com pretexto de que aquela “terra”  só pertença aos nativos de lá, convidando-as assim a abandonar o setor”, revelou.

Cândida Sá disse que trabalhar no setor de Caió é difícil, porque os obstáculos são enormes. Além de perturbação psicológica, enfrentam dificuldades de transporte no escoamento de peixe do porto para mercados.

As razões que as levam a não aceitar vender o pescado no mercado de Caió tem a ver com a falta do poder de compra e a imposição de preço. “Lá os habitantes são eles que enquanto compradores que fixam os preços, que não podem ultrapassar os quinhentos francos CFA ao quilo.

Perante essa imposição e para evitar a confusão são obrigadas a deslocar para Canchungo, Bissau, Bafatá, Gabu, Mansoa, entre outras localidades, para vender em melhores condições e obter mais lucros.

Texto e fotos: Francisco Gomes (estagiário)

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