Em Gabu, apesar de esforços dos serviços concernentes, a situação de desnutrição aumenta na região, sobretudo nesta época da chuva, período em que se propagam as doenças como o paludismo, diarreia, vómito, infeções respiratórias e anemia, com maior incidência nas crianças e grávidas.
Muita das vezes, segundo a responsável do Centro de Recuperação Nutricional e Casa das Mães, a situação escapa o controlo das mães, obrigando-as a recorrer os serviços sanitários, onde acabam por internar para receber assistência. De seguida, os pacientes são enviados ao centro de recuperação para continuar o tratamento.
De acordo com a irmã Florinda da Costa e Sá, esta situação agudiza-se ainda mais com a fraca produtividade de caju registada este ano, com reflexos direto na economia da população, diminuindo assim o poder de compra e qualidade da dieta alimentar das famílias.
Esta problemática, acrescenta irmã Florinda, tem ainda causado fome nas tabancas, aumentando a taxa de desnutrição nas comunidades, devido à insuficiência de alimentos em quantidade e qualidade.
Causas de desnutrição
De acordo com a responsável do Centro de Recuperação Nutricional, Gabu está entre as regiões com maior taxa de desnutrição, motivada, em parte, pelos preconceitos culturais da população local, associada ao desconhecimento de técnicas de variação de alimentos para uma dieta mais saudável e nutritiva.
Também, segundo ela, a população da região tem fraca preparação/instrução e conhecimentos técnicos de preparação de alimentos, apesar da região dispor de enormes potencialidades em termos de produção de cereais, tubérculos, carne e leite.
Aliás, disse que as raparigas vão ao casamento com idade menor e sem preparação básica, gerando crianças, o que, em parte, coloca a Região de Gabu num lugar desfavorável em termos de desnutrição.
Outras causas de desnutrição apontadas pela irmã Florinda da Costa tem a ver com o facto de as mães quando param de amamentar, as crianças passam a alimentar-se diretamente como adultos, quando deviam ainda nutrir papa (milho por exemplo), sopa e outros produtos que contém mais nutrientes.
Mas, disse, isso não tem sido assim, devido ao desconhecimento das técnicas de preparação de alimentos mais adequados para as crianças, levando-as em situação de desnutrição aguda.
Comunidades com maior taxa de desnutrição
De acordo com as informações avançadas pela responsável do Centro de Recuperação Nutricional, Djaimam e Bambadinca, Setor de Gabu, Samacunda, Setor de Sonaco, são comunidades com mais alta taxa de desnutrição na região.
Além de pessoas que procuram os serviços nutricionais, Irmã Florinda disse que o Centro realiza visitas semanais às comunidades dos diferentes setores administrativos da região, para dar assistência, fazendo rastreio, e quando encontrar casos graves que requerem cuidados mais especializados, encaminha-os para o centro em Gabú.
Estratégias de atenuação
Perante a tendência do aumento da taxa de desnutrição nessa época da chuva, Irmã Florinda disse que os seus serviços adotaram uma estratégia que consiste em deslocar às comunidades, para encontro com as famílias, realizando rastreio com vista a detetar atempadamente os casos de desnutrição moderada e encaminhar para o Centro onde são submetidos assistência ambulatória, recebendo quinzenalmente géneros alimentares, nomeadamente papa, leite e arroz.
Os mais graves, segundo a irmã, são internados, beneficiando de nutrientes como F 75, F100, Plantinud, e outros géneros. Atualmente, acrescenta, o centro de Gabu regista 13 internamentos, tendo transferido outros para os serviços de Pediatria do Hospital Regional, por necessitarem de tratamento especializado.
Parcerias
Para os serviços de rastreio, a irmã Florinda disse que o Centro de Recuperação Nutricional de Gabu conta com o apoio dos parceiros, nomeadamente Banco Mundial, Unicef e PAM, sendo a gestão do centro assegurada pela Caritas de Bafatá. O centro conta ainda com ajuda de irmãs que se encontram no exterior, através da Missão Central Alemã (franciscanas), no âmbito de projetos elaborados pelo centro e submetidos aos parceiros.
Apelo
O apelo da irmã Florinda está mais direcionado aos Agentes de Saúde Comunitária (ASC), para que estejam mais atentos no acompanhamento das mães e crianças. “Assim que detetarem qualquer caso de desnutrição que ultrapassa solução local, encaminhá-lo ao Centro de Recuperação em Gabu”.
Disse que esses são parceiros incontornáveis do centro junto das comunidades, e conhecem melhor a realidade.
Óbitos
De acordo com a responsável do Centro de Recuperação Nutricional, por vezes, registam-se óbitos que resultam de alguns casos que chegam com complicações, nomeadamente diarreias severas nas crianças e bronquites, embora não são frequentes. Os casos de bronquites devem-se, maioria das vezes, à falta de cuidados das mães que, após terem dado banho às crianças, não as vestem devidamente.
Também, disse que há mulheres grávidas que acabam por sucumbir, sobretudo aquelas que chegam com problemas de parto prima gesta, motivada pela gravidez precoce (entre 15 e 16 anos, quando os órgãos ainda não estão maduros.
Essas gravidas, confirma irmã, são assistidas aqui na Casa das Mães e são acompanhadas diariamente por médicos, o que também minimiza os riscos de partos complicados.
Por outro lado, a irmã evocou outro problema que tem a ver com a insuficiência de médicos no Hospital Regional de Gabu, aliás, um médico faz consulta durante uma semana consecutiva.
Colaboração com o Governo
O Centro de Recuperação Nutricional é uma estrutura de apoio, mas, a partir de Caritas, procurou-se uma colaboração com o Governo, através do Ministério de Saúde.
Inicialmente, disse a irmã Florinda, o Centro teve dificuldades, devido à falta de médico para fazer acompanhamento de crianças, e depois de tantas insistências, foi disponibilizado médicos para acompanhar tanto as crianças como as mães, e isso minimizou os riscos. “Agora temos boa colaboração com o Governo, o que está também a contribuir na melhoria do desempenho do centro, dando resposta às demandas dos utentes.
Comportamento das mães
No que concerne ao comportamento das utentes, a responsável do Centro disse que por serem mães novas e sem preparação, não têm comportamento sadio. “Nós exigimo-las maior colaboração, porque o centro é cem por cento gratuito, desde medicamento, alimentação, entre outros”.
Explicou que as mães são treinadas em técnicas de preparação de alimentos nutritivos em que, diariamente são apoiadas pelos animadores do centro, para assim que regressarem às suas comunidades poder multiplicar esses conhecimentos, criando capacidades locais.
Irmã Florinda disse que o centro possui três animadores que dão assistência e apoio, e um deles é um inspetor de saúde, mas está a trabalhar como animador.
Igualmente, o centro realiza sessões de formação e sensibilização semanais, mas mesmo assim, nota-se a negligência por parte das mães que nem levam em conta que os conhecimentos que estão a adquirir poderão lhes servir nas suas comunidades, sobretudo dar primeiros socorros em caso de diarreia ou vómitos.
“Durante a formação, as mães são mostradas que podem tratar diarreia com folhas de goiaba que, além de travar a diarreia, ajuda reconstruir a flora intestinal. São ensinadas também a preparação e uso de soro caseiro. Só que não é fácil, pois, elas são mesmo difíceis”, disse a Irma, acrescentando que “elas têm dificuldade mesmo de cuidar com a criança, além de cuidados higiénicos que, por vezes, são causas de doenças.
Contudo, a Irmã Florinda da Costa disse que o centro está ao serviço da população, e muito comprometido com a causa das crianças e mães desnutridas, contando sempre com o apoio dos parceiros doadores e do Governo, para cumprir com a sua responsabilidade.
A finalizar, disse que com a colaboração de todos, a situação de desnutrição no país, particularmente na Região de Gabu, vai melhorar, na base de ações concertadas, aproveitando as potencialidades existentes, como sendo uma região com recursos e produtos que compõe os três grupos de alimentos, nomeadamente construtores, protetores e energéticos.
Djuldé Djaló