Iniciativa “Nha Lua” promove educação menstrual

A diretora da Iniciativa “Nha Lua” assegurou que as mulheres e meninas merecem uma dignidade de estarem seguras quanto à higiene nos momentos inesperados dos seus períodos menstruais.

Em entrevista ao jornal Nô Pintcha, Haua Embaló falou dos aspetos relacionados à higiene menstrual e a principal missão da sua organização, que é a promoção da dignidade menstrual nas instituições públicas e privadas, com vista a proporcionar informações sobre essa matéria em concreto.

De seguida, o conteúdo da entrevista.

Qual é o objetivo da Iniciativa “Nha Lua”?

 A iniciativa “Nha Lua” trabalha no sentido de permitir as mulheres e meninas terem acesso à informação sobre a saúde menstrual, assim como fornecer produtos sustentáveis de higiene, ajudando essas camadas e a sociedade em geral.

A menstruação sempre foi encarrada como um tabu na sociedade guineense, assim como noutras partes do mundo. Porém, as pessoas não estão bem informadas sobre o assunto, pois ainda existem certas limitações e preconceitos sobre a decência menstrual.

Por isso, a iniciativa “Nha Lua” acha que é necessário fazer com que as pessoas percebam essa matéria, tirando nas suas mentes aquelas ideias erradas que têm em relação à menstruação, considerando-a como uma coisa natural e muito normal na vida de uma mulher.

O que é dignidade menstrual?

 A dignidade menstrual pressupõe que todas as meninas e mulheres nas fases de menstruação tenham nas suas posses produtos menstruais necessários, que lhes permitam estar na sociedade de forma natural, sem constrangimentos ou limitações que as levam a ficarem isoladas de lugares públicos.

Por exemplo, os lugares públicos onde não devem faltar condições, nomeadamente casa de banho e água para fazer higiene nas situações de aparecimento repentino do período menstrual, e esses lugares são as escolas, ministérios, mercados, entre outros.

Como sustenta essa iniciativa?

Em termos de financiamento, até bem pouco tempo a nossa iniciativa sobrevivia dos fundos de serviços de educação menstrual que prestamos em algumas escolas, sobretudo com as meninas adolescentes em que as direções dos estabelecimentos escolares pagam pelo trabalho que fazemos.

Outros fundos provêm da comercialização dos pensos de tecido e outros produtos como copo menstrual e cuecas menstruais.

Entretanto, foi assim que a iniciativa tem conseguido suportar os encargos financeiros. Porém, recentemente conseguimos um fundo através de um projeto de PNUD chamado “Nô Firmanta”, que agora ajuda a disseminar as nossas atividades.

Existem condições nas escolas para uma dignidade menstrual?

 Considero que maior parte das escolas do país não têm condições para tal, tanto privadas assim como públicas não estão preparados para garantir às meninas uma dignidade menstrual seguro e saudável. Portanto, podemos notar que os próprios banheiros, mesmo que não seja para higiene menstrual, não têm mínimas condições, aliás, outros estão danificados e sem portas.

Hoje em dia, há meninas que não usam banheiros da escola, por estarem danificados ou com falta de higiene. No entanto, é necessário que um banheiro se reúna todas as condições em termos de limpeza, com balde de lixo, água, papel higiénico, entre outros produtos.

Como é que a Iniciativa “Nha Lua” contribui para a dignidade menstrual?

A Iniciativa “Nha Lua” contribui através de uma sessão de aulas de educação menstrual que costumamos dar nas escolas, sobretudo com meninas adolescentes, com as quais conversamos sobre etapas da puberdade e primeiras mudanças do corpo até chegar a fase da menstruação.

Também, falamos sobre os produtos adequados e disponíveis para manter a higiene menstrual, e é aí que acabamos por referir um pouco a educação sexual também, pois, sabemos que a gravidez tem a ver com a ovulação.

Trabalhamos no sentido de dar acesso às raparigas e mulheres a outros produtos menstruais mais acessíveis financeiramente e de menos impacto degradante sobre o meio ambiente, porque, na verdade, há pessoas que não têm condições financeiras para comprar penso higiénico nas farmácias.

O penso de pano que costuramos pode durar até dois anos em vez de comprar os descartáveis em cada mês. Para isso, trabalhamos com escolas públicas, privadas e projetos que fazem encomendas aos nossos produtos.

Tem ideia de quantas mulheres e meninas beneficiam da Iniciativa “Nha Lua”?

  Não tenho um número exato das meninas que já conseguimos atingir com a nossa formação sobre a educação menstrual, mas no mínimo sensibilizamos entre 500 a 600 raparigas.

Os métodos que utilizamos são palestras e outras ações de sensibilização nas escolas. Em termos de distribuição de produtos menstruais, acho que beneficiamos um número considerável, porque trabalhamos com as organizações nacionais e internacionais que compram os nossos produtos, e depois distribuem para as escolas.

A sociedade guineense ainda encara o ciclo menstrual como um tabu. Como é que a Iniciativa “Nha Lua” trabalha para combater esse preconceito?

Para lutar contra esse preconceito, procuramos sempre promover debates radiofónicos e televisivos sobre a menstruação em todas as oportunidades.

Acredito que só quando começarmos a falar sobre a menstruação é que podemos acabar com tabus, criando programas de sensibilização, formar e informar as pessoas.

O que aconselharia pais e encarregados de educação sobre esse tabu?

Nesse caso, gostaria de dizer que é necessário que os pais e encarregados de educação conversem com as suas filhas, orientando-as a prepararem-se para a fase de puberdade.

Entretanto, muitas vezes verifica-se famílias que não têm conhecimentos sólidos em relação à menstruação, para poder transmitir conselhos às meninas antes de aparecimento do primeiro ciclo menstrual.

A experiencia que acumulei hoje é que os pais não falam com as meninas em casa, divido aos preconceitos em relação a essa matéria e, geralmente, na maioria dos casos só se falam com as crianças no momento em que começam a menstruar e aconselham-nas de uma forma assustadora.

Algumas mães falam dessa forma: “agora estás a menstruar, saiba que se tiveres relação sexual podes engravidar-se e se isso acontecer vais assumir as consequências”. Na verdade, o aconselhamento deve ser pedagógico e de forma suave.

O que devemos fazer é ter paciência de explicar bem o que é a menstruação, como cuidar para não cometer erros, pois, em alguns casos, há crianças que a partir de 10 anos já começam a menstruar. Assim, elas precisam de educação menstrual segura e não instruções que as amedrontam.

Qual é o engajamento do Governo na educação menstrual?

Se verificarmos rigorosamente, há pouco engajamento do Governo nesta matéria sensível. Digo isso, porque no Ministério da Saúde Pública não se encontra nenhum departamento que fala da dignidade menstrual, só existe o serviço de Saúde Sexual Reprodutiva, que tem a ver com a gravidez, e não exatamente a parte da educação menstrual e nem da sua dignidade.

Uma vez tentamos trabalhar com o Ministério da Educação no sentido de incluir este tema no currículo escolar, mas no momento não foi o caso, porém, existem algumas escolas que tentaram e não conseguiram, porque até os professores não estão preparados e muitos deles ainda encaram isso como um tabu e passam informações erradas.

Acho que o Governo não está a fazer o suficiente para a promoção da dignidade menstrual no seu todo. Falando da preparação dos professores, vejo que nas escolas de formação dos docentes os seus currículos precisam de estarem reforços com matéria de educação menstrual, sobretudo professores de Ciências Naturais.

Aliás, esses necessitam de um currículo específico, não falo só da educação menstrual, mas também da saúde sexual reprodutiva como tema amplo, para que possam ter conhecimentos sólidos.

Quer deixar últimas considerações sobre a dignidade menstrual?

 As minhas últimas considerações vão no sentido de reforçar as meninas e mulheres sobre a questão de pensos de higiene descartáveis, que não são saudáveis. Como já disse, a Iniciativa “Nha Lua” está a promover a utilização de produtos menstruais sustentáveis.

Tenho feito sensibilização às meninas, incentivando-lhes a utilizarem produtos reutilizáveis, no sentido de proteger o meio ambiente, pois, podemos reduzir o uso de pensos descartáveis evitando a poluição ambiental.

Acho que a melhor alternativa para o bem-estar de saúde de todos nós é o uso de pensos reutilizáveis, feitos de camadas de diferentes tecidos em que o sangue menstrual não se vê a olho nu.

Os pensos reutilizáveis que estou a referir, podem ser usados em quatro horas de tempo. “Nha Lua” tem vários tamanhos e cores de pensos, assim como cuecas e copos menstruais, esses últimos são introduzido na vagina para recolher o sangue menstrual e pode ser usado também por várias horas.

Os produtos reutilizáveis da Iniciativa “Nha Lua” são todos naturais e sem produtos químicos que podem prejudicar a saúde menstrual das mulheres e meninas.

Termino apelando às meninas e mulheres, no sentido de contribuírem para a redução de quantidade de lixo no meio ambiente com uso de pensos descartáveis.

De referir que a Iniciativa “Nha Lua” é fundada em 28 de maio de 2022, vocacionada na promoção da educação menstrual.

 Cadidjatu Bá 

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