A má campanha de comercialização da castanhas de caju este ano serviu de experiência para os agricultores nacionais que decidiram retomar o sistema de produção agrícola de outrora, apostando na diversificação das culturas para atenuar os riscos de insegurança alimentar e económica.
Os agricultores decidiram retomar a produção de culturas variadas, tais como arroz, milho bacil, sorgo, amendoin, feijão, mandioca, gergelim e bata-doce como culturas de segurança alimentar, nutricional e de geração de renda, visando colmatar os prejuízos causados pela má campanha de caju.
Aliás, a reportagem de Nô Pintcha que esteve no último fim de semana na Região de Oio, concretamente no setor de Mansaba, povoação de Djalicunda, constatou essa realidade através de visitas aos diferentes campos de produção e entrevista com os produtores associados na Federação Camponesa (KAFO), assim como os responsáveis do centro.
Segundo o responsável do Centro Camponês de Djalicunda, Belomi Camará, a KAFO tem apostado, ao longo de anos, na sensibilização dos produtores no sentido de diversificarem as culturas e evitar a monocultura de caju.
Hoje em dia, disse, as mensagens e conselhos transmitidos pela sua organização já estão bem abraçadas pela população da região, que tomou a consciência da importância de diversificação de culturas como estratégia de garantir a segurança alimentar e promover a economia familiar.
De acordo com Aquele responsável, doravante, o caju não constitui prioridade para os agricultores, sobretudo os membros da Federação Camponesa (KAFO) que já dotaram nova atitude, retomando o sistema de produção de outrora.
Apoio aos camponeses
Segundo Belomi Camará, para a presente campanha agrícola, a KAFO, no âmbito do Projeto REDE, financiado pelo FIDA, Fundo Abudabi, entre outros, apoiou 448 agricultores membros da federação, distribuídos em cinco tabancas, sendo quatro de setor de Mansaba, nomeadamente Ualia, Manhau, Demba Só, Câ-Quebo e uma de setor de Bissorã (Maqué) com sementes diversas e utensílios.
As sementes distribuídas comportam 22.928 quilogramas de arroz, 8.194,5 de mancara, 1.264 de milho bacil, 1.564,5 de feijão, 420 quilogramas de milho cavalo e 685 quilogramas de milho preto.
O lote de utensílios distribuídos aos agricultores está composto de pás, enxadas, ancinhos, picaretas, catanas, sacho e cordas, explicou Belomi Camará.
Em termos de áreas cultivadas, segundo o responsável do Centro KAFO, previa-se inicialmente valorização de 279,35 hectares, sendo 186,23 de planalto e 96, 12 hectares de bas-fond, mas com perspetiva dessa área cultivada aumentar.
“A par da distribuição das sementes e utensílios agrícolas, o centro acompanha os agricultores nas suas atividades de produção, através de orientação técnica para as diferentes culturas”, explicou Belomi Camará.
Paralelamente, a KAFO sensibiliza a população local sobre a importância da preservação da mata, evitando assim devastação das florestas para a prática da agricultura, isto é, diversificar produtos através de campos integradas de culturas.
Nessas ações de sensibilização, são explicadas a importância da proteção das florestas face ao ambiente, saúde humana, riscos de alterações climáticas e redução das chuvas.
De acordo com Belomi Camará, a KAFO, no quadro da sua parceria com o PAM, implementa também um projeto de compra local de produtos e possui uma componente de sensibilização aos camponeses sobre a necessidade de diversificar as culturas e aumentarem a produção e produtividade como estratégia de geração de ingressos económicos. Pois, com esse projeto de compra de produtos locais, os produtores têm um mercado garantido de absorção dos seus produtos.
Com isso, os camponeses podem ter mais ingressos económicos para financiar a educação e saúde dos filhos, assim como garantir alimentação à família e, também, investir nas outras necessidades sociais como habitação.
Horticultura
Entretanto, o responsável do centro anunciou que a KAFO perspetiva também apoiar as mulheres horticultoras para produzirem hortaliças e legumes, a fim de poder gerar rendimentos e melhorar as suas condições financeiras e, consequentemente, a dieta alimentar.
Revelou que, depois da época da chuva, o projeto vai disponibilizar apoios necessários em termos de sementes hortícolas e equipamentos, para permitir as horticultoras produzirem nos seus campos a partir de outubro próximo.
Rádio
As ações de sensibilização são feitas de forma direta, através dos animadores no terreno e, também, via rádio local que constitui um veículo fundamental na difusão das mensagens de sensibilização, atingindo maior número da população da região, além dos membros da federação.
De acordo com Belomi Camará, a rádio tem contribuído, e de que maneira, na consciencialização da população local, influenciando na mudança de comportamento, atitudes e práticas face aos vários aspetos de vida quotidiana.
Com os vários programas informativos, educativos em temáticas diferentes e conteúdos sociais, culturais e económicas difundidos, ajudam a população adquirir novos conhecimentos e adotar novas atitudes que ajudam na melhoria das condições de vida dos habitantes locais, assim como na aprendizagem de novos conhecimentos.
Reforço de capacidades
Entretanto, no quadro de apoio aos camponeses, Belomi Camará disse que a KAFO está atualmente a formar nove jovens em técnicas de mecanização agrícola no Centro Agrícola de COAJOQ, em Canchungo, que virão dar continuidade das ações do projeto no terreno.
Já em setembro, informou, a KAFO enviará mais 11 jovens para a formação no mesmo domínio, totalizando 20 jovens que serão formados em mecanização agrícola para apoiar os agricultores.
Relacionamento
Questionado sobre a relação da sua organização com os serviços regionais da agricultura de Oio, Belomi Camará disse que é excelente, na medida em que tudo que a KAFO faz informa a tutela, através da Direção Regional da Agricultura de Oio, que, por sua vez, faz a reciprocidade em tudo que for necessário.
“Portanto, existe uma boa colaboração institucional entre a KAFO e os serviços regionais da agricultura, assim como as estruturas do Estado instaladas na região”, disse Camará.
Essa colaboração, segundo ele, é cada vez reforçada com partilha de informações, pois, enquanto a entidade da tutela do setor agrícola, a KAFO não faz nada sem a testemunhar.
Impressão dos agricultores
A reportagem de Nô Pintcha ouviu ainda quatro agricultores membros da KAFO sobre suas impressões face à campanha agrícola e apoios recebidos da federação.
Entre os entrevistados destacam-se duas mulheres (Djari Candé, responsável da associação de mulheres de Djalicunda e Maimuna Candé, tesoureira da associação de horticultoras) e dois homens (Moró Turé e Aliu Turé, ambos produtores e membros associados da KAFO).
Unanimemente, todos lamentaram a difícil situação em que vivem os camponeses atualmente, motivado pela má campanha de comercialização da castanha de caju. Segundo eles, a população atravessa uma difícil situação, falta de géneros alimentares, crise financeira e dificuldade de contratação de mão de obra para os trabalhos do campo.
Sublinharam, igualmente, a necessidade da diversificação das culturas como estratégia salutar para garantir a segurança alimentar e aumentar o rendimento económico, e dizem ter consciência clara sobre os riscos da monocultura de caju.
Aliás, segundo eles, a federação KAFO tem vindo a sensibilizar os camponeses ao longo de vários anos, alertando sobre os riscos de monocultura de caju e a importância de diversificação de culturas como garante da segurança e soberania alimentar.
Disseram ainda que a fome e a falta de recursos financeiros constituem, este ano, um grande problema às comunidades. Dizem mesmo que não conseguiram matricular os filhos, correndo o risco de tê-los fora do sistema este ano letivo.
Os riscos de saúde aumentaram, na medida em que o acesso aos serviços básicos de saúde tornou mais difícil, devido à falta de recursos financeiros, aliás, a fome fragiliza a saúde da população e aumenta índice de desnutrição particularmente nas crianças e mulheres grávidas.
Face à difícil situação, exortam o novo Governo, no sentido de apoiar a população a possibilidade de produzir e por cobro a esta crise alimentar.
Igualmente, saudaram a decisão do Governo em reduzir os preços do arroz e pedem que a medida seja extensiva a todos os produtos de primeira necessidade e, de seguida, criar condições para o desenvolvimento do setor agrícola, que é a base da economia nacional.
De acordo com esses agricultores membros da KAFO, para combater a pobreza, fome e desnutrição, tem que desenvolver a agricultura. Com isso, poderá criar riquezas e alicerces rumo ao desenvolvimento. “Pois, um povo esfomeado não pode ter saúde e sem saúde não haverá mão de obra ativa para produção e quando diminui a produção, automaticamente a economia cai e a pobreza fala mais alto”.
Elogio à KAFO
Os produtores e membros associados elogiaram e agradeceram o apoio da KAFO ao longo dos anos, que hoje permitiu criar competências internas nas comunidades.
Relativamente à presente campanha agricola, os entrevistados realçaram o apoio significativo que receberam da KAFO em termos de sementes diversas e utensílios agrícolas.
Para eles, apesar dos mesmos apoios chegarem pouco tardio, mas colmataram grande vazio e permitiu os beneficiários a produzirem e com expetativas de vir a obter bons resultados nas colheitas.
De salientar que mais de 60 por cento dos membros da Federação Camponesa-KAFO são mulheres que vivem em diferentes tabancas da sua zona de intervenção na Região de Oio.
Djuldé Djaló