“Urge debater violência no exercício da medicina”

O Jornal Nô Pintcha quis previamente auscultar o Dr. José Manuel Paiva, presidente da Comunidade Médica dos Países da Língua Portuguesa, para uma análise sobre o X congresso dessa organização, a ter lugar na primeira semana de maio, em Bissau. O médico português, bastante experimentado, avançou que assuntos, tais como a violência no exercício da medicina e a capacitação do capital humano serão temas a debater com profundeza pelos médicos lusofonos.

Siga o conteúdo da entrevista.

Qual é a sua expetativa sobre a realização desse congresso em Bissau?

A minha expectativa é que possa ser um congresso muito participado e seja testemunho de que os países que falam a mesma língua, e recordo a propósito o nome desta comunidade, possam ser um exemplo de convivência e de solidariedade entre os que mais e os que menos possuem. Aproveito desde já para dizer que se tratava de um projeto há muito tempo pensado e que agora, felizmente, vai ser concretizado.

Quais os assuntos que vão dominar os debates durante o congresso?

O lema do X Congresso da CMLP trata a Saúde Lusófono na pós-pandemia, esse não poderia deixar de ser o tema central dado estarmos após dois anos de uma grave crise de saúde pública que atingiu todos os sistemas sanitários, com grande impacto social e económico nas sociedades. Outros assuntos que serão abordados são o da violência no exercício da medicina, aliás, um tema que esta comunidade tem sempre o cuidado de refletir e ouvir as opiniões dos seus representantes. A capacitação e o desenvolvimento do capital humano em saúde é também para nós, a par d mobilidade, uma prioridade, e por a Guiné-Bissau receber tantas missões de cooperação não podíamos deixar de aqui o falar. Por último e porque este congresso acontece no dia da celebração da língua portuguesa, teremos uma sessão do dedicado ao tema da língua como fator de coesão entre povos irmãos.

Quando foi realizado o último congresso e em que país?

O último congresso, o IX, foi realizado na cidade capital Maputo, setembro de 2018, em colaboração com a Ordem dos Médicos de Moçambique e o seu tema central versou sobre os Desafios da medicina na era da globalização.

Quais são os desafios e perspetivas da organização nos próximos tempos?

Convém registar que a crise sanitária que durante dois anos afetou o mundo impediu que houvesse, entretanto, outro congresso e os encontros presenciais desta comunidade. Ora, como na reunião de Bissau vai ter lugar uma Assembleia Geral, será eleita uma nova direção e secretário permanente a quem compete dar cumprimento aos objetivos estatutários.

Quais são as principais dificuldades da organização.

À organização compete em princípio às entidades do país, onde se realiza o evento. No caso em apreço e por óbvias razões de funcionalidade e eficácia, cumpriu ao secretário executivo os contactos com a CPLP, Instituo Camões que responderam as nossas solicitações.

Convém registar que igual contacto foi feito atempadamente com a Fundação Calouste Gulbenkian, instituição que muito tem promovido a língua portuguesa, mas que até ao presente não deu qualquer resposta.

O evento tem patrocínio de outras organizações para além da CPLP?

Em termos gerais os patrocínios da CPLP e do Camões I.P., são meramente institucionais.

Em termos práticos essas organizações têm prestado apoio material à Ordem dos Médicos de cada país, resguardados pelos ministérios da saúde consoante os casos de cada país. No caso presente da Guiné-Bissau, por uma questão de justiça devemos mencionar o apoio prestado pelo titular do Ministério da Saúde, Dr. Dionísio Cumba, e ainda da Fundação Ricardo Sanhá que muito se empenhou nos contactos necessários a uma boa organização.

Como conciliares os três modelos de tratamentos mundiais (cura médica) medicina tradicional, acupuntura e produtos químicos?

Entendemos que essa pergunta não está no âmbito do congresso nem cumpre à organização referir especificidades clinicas.

Todas as condições já estão reunidas para o arranque do congresso?

Sendo certo que nas grandes organizações há sempre um ponto que possa falhar, pensamos estarem reunidas as condições para que este congresso possa avançar e esperamos que o mesmo possa ser um marco importante a fortalecer as relações entre as comunidades médicas destes países e a deixar abertos alguns caminhos que contribuam para o avanço e modernização do país onde se realiza.

Quem é que vai subsidiar a vinda, regresso e alojamento dos congressistas em Bissau?

Todas os gastos inerentes às viagens, hotelaria e restauração são da responsabilidade de cada país aqui representado. Todavia nada impede que num clima de franca fraternidade algum país possa ajudar os representantes de um país irmão com menos possibilidades. Nesta matéria e segundo os usos e costumes universais cumpre ao país anfitrião proporcionar um programa de cariz social, tendo em vista dar a conhecer as potencialidades, turísticas, culturais e artes.

As conclusões e recomendações do congresso vão ser expedidas aquém, em particular?

Num congresso como este que agora se realiza em Bissau e tendo em conta os objetivos estatuários no final, haverá sempre conclusões assumidas por todos os representantes e que como é boa prática são dadas a conhecer às entidades do país anfitrião e aos órgãos de comunicação social.

Quais são os mecanismos ou vias de alguém que queira tomar parte nesse congresso?

Uma nota aos interessados em participar no congresso, devem enviar um correio eletrónico com nome, contato e profissão para o geral.cmlp@gmail.com até ao dia 1 de maio.

Abduramane Djaló

About The Author

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *