As crianças na África Subsariana estão em maior risco num mundo em rápida mudança, afetado por crises climáticas extremas, dinâmicas populacionais em mutação e lacunas tecnológicas crescentes, de acordo com o principal relatório do Unicef, divulgado no Dia Mundial da Criança.
Um comunicado de imprensa, a que o Nô Pintcha teve acesso, mostra que, até a década de 2050, as pressões climáticas e demográficas vão apresentar desafios profundos para as crianças em todo o continente.
Segundo o documento, o crescimento populacional permanecerá elevado, esperando-se que a percentagem de crianças em comparação com os adultos diminua de 50% na década de 2000 para menos de 35% na de 2050.
“À medida que avançamos para o século 21, o futuro da infância estará cada vez mais em África: em 2100, haverá mais crianças no continente africano do que em qualquer outro lugar do mundo”, lê-se no comunicado.
O relatório descreve três grandes megatendências globais, a saber, alterações demográficas, crises climáticas, ambientais e tecnologias de fronteira, com um impacto desproporcionado em regiões vulneráveis como a África Subsariana.
Entretanto, a diretora-executiva do Unicef, Catherine Russell, disse que as crianças estão a passar por uma miríade de crises, desde choques climáticos. “As projeções deste relatório demonstram que as decisões que os líderes mundiais tomam hoje – ou deixam de tomar – definem o mundo que as crianças herdarão. Criar um futuro melhor em 2050 exige mais do que imaginação, exige ação. Décadas de progresso, especialmente para as raparigas, que estão ameaçadas”.
Ainda segundo o documento, a África obteve ganhos importantes para as crianças nas últimas décadas, mas persistem problemas importantes, particularmente a crise de aprendizagem e, para isso, é necessário desenvolver as competências de menores e jovens.
Adianta que a crise climática representa ameaças imediatas, com previsões de que até 2050 as crianças na África Subsariana estarão cada vez mais expostas a condições meteorológicas extremas, incluindo ondas de calor extremas e inundações fluviais.
“Os riscos climáticos afetarão desproporcionadamente as crianças com acesso limitado a abrigos resistentes às alterações climáticas, infraestruturas de refrigeração, cuidados de saúde, água potável e educação”.
Considera o relatório que a África Subsariana é também uma das regiões com maior fratura digital. Em 2024, o acesso à internet é quase universal em países de alta renda, enquanto apenas 26% das pessoas estão conectadas em países de baixo rendimento.
Esta disparidade, acrescenta, restringe o acesso das crianças a competências digitais essenciais e prejudica as oportunidades futuras, uma vez que as os mais novos têm dificuldade em utilizar eficazmente as ferramentas digitais na educação e no emprego. Até 2030, mais de 230 milhões de postos de trabalho na África Subsariana exigirão competências digitais.
Apesar destes desafios, com o aumento do investimento na educação, prevê-se que a esperança de vida e o acesso à educação na África Subsariana melhorem.
O relatório referencia que quase 96% das crianças em todo o mundo terão pelo menos educação primária até a década de 2050 – uma tendência que o Unicef está a apoiar em toda a África.
No entanto, o Unicef apela a medidas urgentes para navegar nas três megatendências, nomeadamente investir em cidades sustentáveis e resilientes e em serviços essenciais para as crianças; expandir a resiliência climática em infraestruturas, tecnologia e sistemas sociais em toda a África Subsariana e providenciar conetividade e tecnologia segura e acessível para todas as crianças.
Este ano, o Dia Mundial da Criança, subordinado ao tema “Ouvir o Futuro”, destaca as vozes das crianças de todo o mundo, incluindo da África Subsariana, onde expressam as suas esperanças de segurança, educação e proteção contra os perigos climáticos.
“O Dia Mundial da Criança é um momento para os líderes demonstrarem o seu compromisso com os direitos e o bem-estar de todas as crianças”, afirmou Russell, tendo mostrado que para moldar um futuro melhor para as crianças de amanhã, temos de começar hoje.
Alfredo Saminanco