As autoridades sanitárias da Região de Cacheu estão preocupadas com a saúde dos utentes do mercado de Canchungo, que não respeitam a regra de distanciamento exigida perante a propagação do novo coronavírus. Os vendedores e compradores convivem sem o uso devido de máscaras ou colocam-nas por baixo do nariz, com a agravante de a administração setorial “não apoiar” com produtos de higiene para colocar naquele espaço comercial.
Em entrevista exclusiva concedida ao jornal “Nô Pintcha” na semana passada, em Canchungo, acerca da propagação desta doença na zona Norte do país, o adjunto do delegado regional da Saúde na Região de Cacheu apontou os perigos que a sobrelotação de tal mercado pode causar.
Erickson Duarte Falcão disse que as medidas de distanciamento físico não estão a ser respeitadas e as autoridades não exigem com firmeza o seu cumprimento.
“Vamos fazer a nossa parte, que é sensibilizar as pessoas sobre os perigos que representam esta doença, juntamente com as associações de base comunitária com as quais estamos a trabalhar neste sentido.”
Relativamente ao aumento ou não da covid-19 na Região de Cacheu, este profissional de saúde disse que há uma tendência para uma subida desta doença mas não de forma rápida. Duarte Falcão justificou que, por causa da demora na entrega de resultados dos testes, os pacientes ficam muito tempo à espera destes resultados.
“Como exemplo, disse que “uma paciente foi sujeita a análise em Bissau mas que, perante a demora na entrega dos resultados, ela procurou os serviços de um curandeiro tradicional em Cacheu. Este, invocando razões de saúde, mostrou a sua indisponibilidade mas recomendou à paciente um outro colega de profissão que o substituísse.”
“Como já se fazia tarde e não dava para regressar a Bissau, essa mulher decidiu dormir em casa do curandeiro e, no dia seguinte, de manhã, dirigiu-se ao Hospital Regional de Canchungo e explicou ao médico os seus sintomas, tendo o médico recomendado tratamentos paliativos.”
De acordo com Erickson Falcão, na altura em que a paciente se encontrava no consultório, telefonou para ela a fim de lhe informar sobre o resultado da análise a que fora submetida em Bissau. Porém, ela respondeu que se encontrava no hospital de Canchungo, ao que Falcão lhe pediu para passar o telemóvel ao médico. Ao falar com o médico, informou ao médico que a paciente que se encontrava na sua frente acusara positivo na análise realizada em Bissau. De imediato realizámos testes ao médico e aos enfermeiros de serviço, tendo todos acusado positivo.
Este responsável da saúde na Região de Cacheu revelou que, neste momento, sete pessoas ligadas à estrutura regional da saúde estão infetadas e sob cuidados médicos.
Cura tradicional
Questionado sobre o estado da saúde pública na região, o adjunto do delegado regional da Saúde na Região de Cacheu disse que, aparentemente, está tudo normal e que não se observam situações como as existentes noutras regiões como as populações de São Domingos, Barros, Bigene e Ingoré, que procuram o centro de saúde a tempo e horas, enquanto as de Bula, Cacheu, Canchungo e Calequisse procuram tratamentos ligados a usos e costumes, isto é, os curandeiros tradicionais. Só depois, quando estiverem em situação crítica, é que decidem procurar os postos sanitários.
“Mas com o apoio dos agentes da saúde comunitária, estamos a tentar acabar com o hábito de irem primeiro aos curandeiros tradicionais e só depois ao posto de saúde.”
Este técnico de saúde explicou, ainda, que este preconceito obriga-os a manter-se em contacto permanente com estes curandeiros tradicionais, a fim de lhes explicar os sintomas das doenças transmissíveis tais como a tuberculose, VIH/sida e a covid-19.
Aproveitou a ocasião para pedir a toda a gente que se una numa frente de luta contra esta pandemia que assola o país, não cabendo esta tarefa apenas ao Ministério de Saúde, mas também a todas as instituições do Estado.
Falcão pediu aos técnicos dos laboratórios para que deem o seu máximo a fim de que as regiões possam obter resultados das análises em tempo recorde. Se assim não acontecer, as populações deixam de acreditar no perigo que representa esta doença.
Retoma de vida normal à força
Quanto à preocupação das autoridades sanitárias desta região nortenha, o administrador do setor de Canchungo informa que as populações deste setor querem retomar a sua vida normal sem ter em conta os estragos que esta doença pode causar na sociedade.
Humberto Tavares explicou que as pessoas não seguem as recomendações das autoridades sanitárias e do poder setorial, o que obriga os agentes da Polícia de Ordem Pública a intervir, mas sem fazer uso da força.
Tavares afirmou que há sempre resistência das populações, sobretudo das tabancas, como das Conhob, Bará e Djol, pois ninguém usa máscaras. Só o fazem quando notam a presença de polícias.
Reabilitação do mercado
No que toca à sobrelotação do mercado de Canchungo, o administrador deste setor, Humberto Tavares confirmou que este espaço comercial não tem capacidade para albergar o número elevado de pessoas que o frequentam.
A terminar, disse que a sua administração está em contato com uma ONG francesa, a GDR, em Canchungo, como forma de elaborar um projeto e entregar a um financiador como, PNUD ou União Europeia.
Por: Fulgêncio Mendes Borges