Nhacra é a cidade do setor do mesmo nome, pertence administrativamente à Região de Oio, localizado a cerca de 32 quilómetros da capital Bissau, limitado ao norte pelo Rio Mansoa e sul pelo Rio Geba.
Segundo o censo demográfico de 2009, o setor possuía uma população de 20.639 habitantes, distribuídos numa área territorial de 265,3 quilómetro quadrados.
O setor é habitado maioritariamente por etnia balanta, um bocado de mandingas e fulas. As atividades económicas predominantes são agricultura e criação de gado e um pouco de comércio. O cultivo de arroz é tido como principal atividade, apesar de estar cercada de água salgada.
Nhacra é um setor próximo da capital Bissau, mas é conhecido como um dos mais atrasados em termos de desenvolvimento humano e de infraestruturas. Essa realidade deve-se aos fatores tradicionais e culturais da etnia predominante (Balanta), que é alérgico à cultura ocidental.
No passado, os homens grandes (anciões) impediam jovens de sair à procura de melhores condições de vida, porque para eles isso levaria aos rapazes a desvincular-se da cultura e da tradição, e para desencorajar a migração, suplicavam aos deuses, no sentido de castigar qualquer jovem ou individuo que tentasse desafiar, então esses com o medo de perder a vida ou de enlouquecer divorciam-se da ideia de deixar a aldeia/tabanca.
Essa situação tem repercutido negativamente na vida de população, sem escola, posto de saúde e muito menos centros multifuncionais para a diversão.
Entretanto, há uns anos, Nhacra foi considerado setor com mais casos de furtos, roubos e assaltos à mão-armada a nível do país, mas atualmente esta prática tende a diminuir, devido a forte envolvimento da juventude e da administração local nos trabalhos de sensibilização.
Segundo apurou jornal Nô Pintcha, essas atividades de sensibilizações estão a dar resultados positivos na mudança de atitude e de comportamento da maioria de jovens, que agora encaram a escola.
Durante essa reportagem, foi constado centenas de crianças e jovens a percorrerem quilómetros e quilómetros a procura de escola, facto que prova a importância que essa comunidade dá ao setor de educação.
Novo fenómeno
Seduzir mulheres casadas é o novo fenómeno que surgiu no Setor de Nhacra, prática que tem vindo a ganhar outros contornos nefastos na sociedade.
De acordo com uma fonte policial, os casos mais frequentes na esquadra neste momento estão relacionados com essa nova prática, que já provocou vários conflitos entre os maridos e sedutores, até mesmo entre tabancas.
Este fenómeno vem substituir uma prática secular, conhecida e aceitável no meio da comunidade balanta, denominada binangha (namoro em português).
Na explicação dessa fonte, no passado binangha funcionava de seguinte maneira: a mulher despede-se do marido para ir visitar um familiar, e quando lá chega, os jovens vão lá divertir, então no meio daquela diversão, um familiar encarrega-se de arrumar um namorado. Perante a situação, a mulher não tem opção, aliás, só tem que aceitar o homem que lhe foi indicado.
No entanto, o homem para agradecer o gesto, sacrifica um porco e compra vinho para animar a aldeia durante um dia, depois disso, mobiliza seus colegas para ajudar a nova namorada, através da extração de óleo de palma ou lavoura, dependendo do período em que se estabeleceu o relacionamento.
“Aqui em Nhacra esta tradição foi pura e simplesmente invertida. O rapaz quando cobiça uma mulher casada, logo começa a seduzí-la, prometendo mundos e fundos, e mulher acaba por abandonar o seu marido, de uma forma secreta para ir-se juntar ao novo namorado. Então, o marido fica a procura da sua esposa de um lado para outro”, esclareceu.
Essa situação começa já a preocupar as autoridades polícias, pelo que pedem a intervenção do governo para a resolução desse problema que poderá atingir escala nacional.
Alfredo Saminanco