O diretor do Serviço da Saúde Sexual Reprodutiva manifestou-se preocupado com elevado índice da mortalidade materno-neonatal e infantil na Guiné-Bissau, superando todos os países da sub-região.
Por isso, há toda uma necessidade do Governo redobrar esforço, no sentido de inverter a tendência. A preocupação de Elísio Júnior Baldé Ferreira foi manifestada em entrevista exclusiva ao Nô Pintcha, cujo conteúdo passamos na íntegra.
Como avalia a situação laboral da sua direção?
O Serviço da Saúde Sexual Reprodutiva é uma das direções que compõem a Direção-Geral de Saúde Materna infantil, uma entidade encarregue pela elaboração de políticas e planos direcionados a prestação de cuidados a todas as crianças, adolescentes, mulheres grávidas e não grávidas.
Por outro lado, supervisiona e participa na sua execução no terreno por intermédio da Direção de Serviço da Saúde Sexual Reprodutiva, que faz com que todas orientações superiores fossem implementadas pelos médicos e demais técnicos de saúde.
Portanto, a Saúde Materna Infantil é sempre prioridade de todas as outras, e isso não significa que é mais importante, mas sim, por se tratar da problemática da mulher grávida e criança enquanto camadas mais sensíveis.
O problema de saúde a nível do país é uma realidade, e nessa área em concreto constitui preocupação, porque os dados revelam que o nível da mortalidade materna, neonatal e infantil na Guiné-Bissau superou todos os países da sub-região. Por isso, há toda uma necessidade de Governo redobrar esforços, no sentido de atender maior número de utentes.
Qual é o nível de afluência das pessoas atualmente ao vosso serviço comparativamente aos tempos recuados?
O nível de afluência das pessoas as nossas estruturas sanitárias aumenta a medida que a população guineense cresce, pelo menos são estas informações que recebemos dos técnicos colocados nos diferentes centros de saúde e hospitais.
Portanto, a Direção de Serviço da Saúde Sexual Reprodutiva, enquanto responsável pelos trabalhos administrativos e técnicos, zela pela mobilização de meios junto do Governo, colocando-os à disposição do pessoal médico, razão pela qual os técnicos que trabalham nessa área respondem diretamente a minha direção e seguem de forma rigorosa o plano laboral, feito por nós no terreno.
Quais são os maiores obstáculos a nível do vosso serviço de atendimento? E como são superam?
Os obstáculos que nos deparamos são resolvidos com uma certa diplomacia, devido ao protocolo de trabalho dos parceiros financeiros totalmente diferente do nosso.
Aliás, o Orçamento Geral do Estado não contempla a saúde da mulher e da criança, e o Governo suporta apenas salários de alguns técnicos, tendo os parceiros assegurado grande parte de verbas, a começar pelo fornecimento de quase todos os materiais médico e contracetivos usados pelos pacientes.
Qual é a política de aquisição dos contracetivos?
Na verdade, a Direção de Serviço da Saúde Sexual Reprodutiva costuma receber 100 por cento de financiamento dos contracetivos, por meio de duas entidades, nomeadamente Fundo das Nações Unidas para População (UNFPA) e a Organização Oeste Africana para Saúde (OOAS), enquanto parceiros do Governo.
Em 2022, o Governo e o UNFPA rubricaram um acordo, segundo o qual, dentro de um prazo limite, o executivo guineense passará a assumir de forma progressiva os financiamentos dos contracetivos. Mas até a data presente, o Governo não está a honrar o compromisso, o que está a dificultar a execução das atividades.
De acordo com vários estudos feitos no campo da saúde materna infantil, a maioria da gravidez registada na Costa Ocidental da África é indesejável, o que leva a sérias complicações no momento de parto ou antes.
Nesta ordem de ideia, se existir métodos contracetivos disponíveis e acessível a toda a população, podia-se reduzir até 30 por cento de mortes das mulheres grávidas durante o parto e pós parto.
Daí que, é fundamental que o Estado invista mais nessa área em específico, com o propósito de salvar vidas de muitas mulheres e, consequentemente, economizar muitos milhões aplicados no tratamento dos bebés.
Qual é a queixa mais recorrente que recebe da parte dos subordinados?
Os técnicos de saúde, no seu todo, estão desanimados por causa do salário magro e que não compensa a rotina dos trabalhos. Também, temos aqueles que não recebem salario, portanto, essa situação leva alguns dos nossos colegas a emigrar ou procurar outros serviços com melhores condições.
Além do encorajamento que dirigimos aos nossos técnicos, envidamos esforços no sentido de cumprir minimamente com a nossa responsabilidade perante eles.
Provas disso é o facto de o Governo celebrar um convénio com o Banco Mundial para o retorno de número significativo de técnicos de saúde que no passado haviam sido retirados do Sistema de Saúde e, consequentemente, reciclar mais técnicos.
Dispõe de um serviço de aconselhamento? Como funciona?
Sim, dispomos de serviço de aconselhamento, destinado a orientar pessoas a planear melhor sobre quando e como pretendem formar família. Portanto, esse serviço não existe só para ministrar métodos contracetivos, mas também orientar os utentes a tomarem melhores decisões, dependendo das condições de saúde.
Qual é a faixa etária que mais procura o vosso serviço?
O nosso serviço cinge na saúde sexual reprodutiva, isto é, trabalhamos com mulheres que atingirem a idade da puberdade e até as que entraram na fase da menopausa.
Tem verificado algum impacto do vosso trabalho sobretudo nas pessoas que têm procurado os vossos serviços?
Sim, contudo, quando as melhorias são pequenas muitas pessoas ignoram-nas, mas os números indicam isso. Aliás, hoje em dia, muitas grávidas sabem como agir em caso de sentirem qualquer diferença no corpo, facto que, outrora, era desconhecido pela maioria de mulheres.
Que balanço faz do desempenho dos vossos serviços em relação à prevenção e tratamento do VIH-Sida?
De momento, estamos preocupados com o crescimento da transmissão vertical, isto é, de mãe para filho, razão pela qual, a Direção de Serviço da Saúde Sexual Reprodutiva está a trabalhar em conjunto com o programa do VIH, no sentido de elaborar estratégias para sua redução.
Nesse campo de VIH, hoje em dia, regista-se grandes melhorias, devido à redução da carga viral, resultado de as pessoas infetadas aceitarem medicar. Aliás, agora já iniciamos o tratamento Pret de VIH, isto é, quando um dos casais tem o VIH, tudo isso visa essencialmente reduzir os riscos de contração do vírus.
Que leitura faz do nível de estigmatização de portadores do vírus do VIH?
Infelizmente, é visível na nossa sociedade, razão pela qual muitas pessoas preferem esconder os diagnósticos, o que não devia acontecer, pois, o doente de Sida precisa de ajuda e não de discriminação.
Em que nível está a taxa de mortalidade materna infantil?
A taxa de mortalidade materna infantil ainda é muito alta na Guiné-Bissau, tendo em conta os objetivos da Organização Mundial da Saúde (OMS) de reduzi-la a menos de 70 por cento em cada 100 mil bebés nascidos em todo mundo, dentro de 15 anos, isto é, de 2015 à 2030. Portanto, a Guiné-Bissau está muito longe dessa meta.
Como lidam com a problemática da morte materna infantil?
Sinceramente, de ponto vista pessoal e profissional, gera trauma ao próprio técnico de saúde, porque a morte de um paciente no turno de qualquer médico acaba com seu dia. Mas, tendo a responsabilidade de salvar os restantes pacientes, somos obrigados a voltar para nossos postos.
Nesta Perspetiva, vai-se retomar a reunião do comité médico, de forma avaliar as causas da morte de cada mulher nos centros de saúde e hospitais. Tudo isso, visa proceder as devidas correções.
Qual é principal causa da mortalidade materno-infantil?
A causa da mortalidade materna infantil tem mais a ver com hemorragia durante gravidez, as doenças hipertensivas e problemas de infeção, resultantes de abortos clandestinos.
Julciano Baldé