O país apresenta o mais baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) a nível da sub-região, no período entre 2005 a 2019 e coloca-se na 175.ª posição entre os 189 países e territórios reconhecidos pelas Nações Unidas. Os dados constam do relatório anual do PNUD, tornado público no dia 15 deste mês pelo presidente do organismo mundial na Guiné-Bissau, Tjark Engenhoff.
Segundo o relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o valor do IDH da Guiné-Bissau para o ano de 2019 é de 0,480 – o que deixa o país na categoria de desenvolvimento humano baixo – colocando-o no 175.° lugar entre 189 países e territórios. Tem a mesma classificação que o Congo (RDC) e a Libéria. Entre 2005 e 2019, o valor do IDH do país subiu de 0,403 a 0,480, o que corresponde a um aumento de 19,1 por cento.
Entre 1990 e 2019, no país, a esperança de vida ao nascer aumentou em 11,2 anos, a escolaridade média aumentou em 1,3 anos e os anos esperados de estudo aumentaram em 7,0 anos. Enquanto o Rendimento Nacional Bruto per capita da Guiné-Bissau aumentou em cerca de 17,9 por cento entre 1990 e 2019.
O IDH é um indicador sumário para avaliar o progresso de longo prazo em três dimensões fundamentais do desenvolvimento humano: uma vida longa e saudável, acesso ao conhecimento e um padrão de vida digno. Uma vida longa e saudável é aferida com base na esperança de vida.
O nível de conhecimento é medido com base nos anos médios de estudo entre a população adulta, que é o número médio de anos de estudo frequentado ao longo da vida pelas pessoas com 25 anos de idade ou mais; e o acesso à aprendizagem e conhecimento, por anos de escolaridade esperados para as crianças em idade escolar, refere o relatório.
O IDH da Guiné-Bissau de 2019, calculado em 0,480, encontra-se abaixo da média de 0,513 dos países do grupo de baixo desenvolvimento humano e abaixo da média de 0,547 dos países da África subsariana. Na África subsariana, a Guiné-Bissau anda próxima do Benim e da Libéria, cujas classificações no IDH foram de 158 e 175.
No entanto, com a desigualdade descontada do valor, o IDH cai para 0,300, uma perda de 37,5 por cento devido à desigualdade na distribuição dos índices da dimensão do IDH. O Benim e a Libéria apresentam perdas devido às desigualdades de 37,1 e de 32,3 por cento, respetivamente. A perda média devido à desigualdade nos países de índice baixo é de 31,4 por cento e, para a África subsariana, é de 30,5 por cento. O coeficiente de desigualdade humana para a Guiné-Bissau é de 37,4 por cento.
“Nenhuma nação alcançou ainda altos níveis de desenvolvimento humano sem pressionar, prejudicialmente o planeta, entretanto, é a hora de todos os países redesenharem os seus caminhos para o progresso”, afirma o relatório.
A organização ajustou o IDH que mede a saúde, a educação e os padrões de vida de uma nação. O relatório identifica três blocos de construção para criar mudanças reais e duradouras: trabalhar com – e não contra – a natureza, melhorar os incentivos e mudar as normas sociais.
O relatório aponta que, apesar do papel central que os governos possuem para reverter as pressões planetárias, o setor privado e os cidadãos também devem ser atuantes.
O PNUD é a principal organização das Nações Unidas que luta para acabar com a injustiça, pobreza, desigualdades e mudança de clima. A trabalhar com a nossa ampla rede de especialistas e parceiros em 170 países, ajudamos as nações a construir soluções integradas e duradouras para as pessoas e o planeta.
Há muito que os cientistas têm vindo a alertar sobre fenómenos climáticos extremos e surtos virais a serem transmitidos da natureza para o homem. Todos estes eventos recordam-nos de que entrámos numa nova era geológica – o Antropoceno, ou a Era dos Humanos.
A fome está a aumentar – após décadas de progresso, o número de pessoas afetadas pela fome aumentou em 60 milhões ao longo de cinco anos que terminaram em 2019 (FAO).
Ao longo dos últimos 20 anos, o número de catástrofes ligadas a desastres naturais aumentou 75 por cento. Em termos cumulativos, estas catástrofes afetaram mais de quatro mil milhões de pessoas, ceifando 1,23 milhões de vidas e causando perdas económicas na ordem dos três mil milhões de dólares.
Três elementos para uma mudança real
O relatório identifica três elementos de base para a criação de uma mudança real e duradoura: trabalhar com a natureza e não contra ela, melhorar os incentivos e mudar as normas sociais.
- Soluções baseadas na natureza: A natureza é a base do nosso progresso e não um entrave ao mesmo. Temos de reconhecer que fazemos parte da natureza, não estamos separados dela. E que soluções que trabalhem com a natureza – e não contra ela – podem ajudar tanto as pessoas como o planeta a prosperar.
Globalmente, o relatório identifica 20 soluções baseadas na natureza que poderiam vir a ser responsáveis por 37 por cento das reduções de emissões necessárias até 2030, para manter o aquecimento abaixo dos 2C. Cerca de dois terços dessa redução estão ligados a soluções florestais, sobretudo a reflorestação e uma gestão melhorada das matas. - Incentivos: demasiadas vezes, incentivos e regulamentos que influenciam a nossa tomada de decisões promovem a destruição do planeta em vez de a impedirem.
A título de exemplo, o custo total para as sociedades de subsídios publicamente financiados aos combustíveis fósseis – incluindo os custos indiretos – é avaliado em mais de 5 bilhões de USD por ano, ou seja, 6,5 por cento do PIB global, de acordo com os números do FMI citados no relatório.
O estabelecimento acertado do preço do carbono é um elemento crítico de um pacote abrangente de medidas para a redução das emissões, a fim de estas se manterem dentro dos limites suportáveis para o planeta.
Assegurar o acesso a uma educação de qualidade com a sustentabilidade profundamente embutida nos currículos escolares. Oportunidades de aprendizagem ao longo da vida são igualmente cruciais para melhorar o conhecimento sobre o planeta e o valor da natureza.
Exemplos: com as energias renováveis mais baratas que os combustíveis fósseis, um futuro alimentado com energia limpa não é ficção científica – é uma escolha ética e financeira racional. Investir em energias renováveis é uma forma de (literalmente) dar poder (energia) às pessoas e democratizar o abastecimento energético.
O representante do PNUD disse que este relatório deve servir de elemento base para qualquer país do mundo, a fim de os seus governantes corrigirem o que for necessário e focalizar ainda mais nos setores em que já registam progressos.
Texto e fotos: Aliu Baldé