O novo régulo de Forreá, no setor de Quebo, elegeu como principal prioridade promover encontros de auscultação com os anciões para juntos delinearem estratégias que irão servir de linhas de orientação durante o seu mandato.
Bocar Baldé, que falava aos jornalistas momentos após a sua investidura, no domingo, dia 5 de novembro, garantiu que vai trabalhar em estreita colaboração e orientação dos mais velhos. “Os anciões têm maior tarefa na unificação de Forreá, porque sou singular e a população é plural”, disse, assegurando dar o seu máximo para que haja organização e se acabe com “todas as contradições” existentes na área, sendo isso um dos seus “maiores desejos”.
Pediu a todos os filhos de Forreá, sobretudo aos “Danfábhes” (a família real) que promovam a paz e união, visto que a desunião não leva a lado nenhum. Por isso, afiançou que ele próprio será um apaziguador dos ânimos, deixando a contradição de lado e fortificar os laços de amizade no seio das famílias e comunidades.
“Hoje é um dia especial, porque há muito tempo que não havia entendimento no nosso regulado, mas acho que estou em condições de pôr fim a essa situação, contando com a colaboração de todos”, sublinhou o novo “monarca”.
O chefe tradicional de Forreá disse que a população pode esperar muito de si, uma vez que pretende trabalhar com todos, lembrando que na sua família não há pessoas superiores nem inferiores, todos têm os mesmos direitos, sendo “o melhor de todos aquele que trabalha para unir os filhos” daquele território.
Aproveitou o ensejo para endereçar mensagem de agradecimento ao Presidente da República pela sua contribuição, não só na qualidade do Chefe de Estado, mas também de familiar, pois Umaro Sissoco Embaló “é sobrinho da família Danfábhe”.
Por outro lado, apelou aos guineenses em geral no sentido de “baixarem as armas” para procurar a paz, única via que pode salvaguardar as conquistas já alcançadas
Em nome da população, pediu paz e deixou palavras de apreço às autoridades administrativas do setor de Quebo e da Região de Tombali, que contribuíram bastante para que esse dia tornasse numa realidade.
Aos filhos de Forreá na diáspora, o chefe tradicional agradeceu os seus esforços na materialização desta cerimónia, apelando para se esforçarem mais com vista a atingir os objetivos para os quais emigraram.
Entretanto, para que Bocar Baldé chegasse ao trono, houve uma puxa-puxa com o seu primo Ussumane. Na cerimónia oficial, os dois cumprimentaram-se e abraçaram-se à frente da multidão, mostrando que não há ódio nenhum entre eles.
Nesta ordem de ideias, o régulo garantiu que vai trabalhar também em estreita colaboração com o seu ex-opositor, referindo que não pode haver lugar para contradições no seio da família Danfábhe. “É bom que fique claro que não há problema nenhum dentro da nossa família. Alguém pegou problema pessoal e foi tentar hipotecar noutro lado por interesses pessoais. Mas isso acabou de vez! Todos os filhos aqui são iguais”, esclareceu.
Tolerância, humidade e apaziguamento
A governadora da Região de Tombali espera já ter um colaborador direto das autoridades políticas, pois as partes têm obrigação de trabalhar em colaboração. Aminata Sila disse que muitos problemas, antes de chegarem às autoridades passam pelo poder tradicional.
Foi nesse sentido que aconselhou ao novo régulo a ser um apaziguador, pessoa que sofre mais perante a sua população, tolerar tudo e todos, ser mais humildade, não ter cor partidária e ouvir todas as partes para tirar ilações. “Bocar é hoje o pai de Forreá”.
Aquela responsável manifestou a sua satisfação pelo facto de a “paz ter voltado” a Forreá depois de algum desentendimento dentro da família Danfábhe.
Tranquilidade para reinar
O régulo central de Gabu considerou que a cerimónia de investidura “correu muito bem”, e referiu que o chefe tradicional é aquele que consegue unir as pessoas e não o contrário, tendo em conta que ele precisa de paz, sossego e tranquilidade para melhor poder exercer as suas funções.
Saico Embaló apelou também à população de Forreá a continuar com a unidade vista nesse evento.
A seu ver, o poder tradicional faz parte do aparelho de Estado, pelo que advertiu às autoridades políticas a prestá-lo uma atenção especial.
Em nome dos homólogos, aproveitou a ocasião para felicitar à população de Forreá pelo acolhimento e ambiente vivido durante a investidura do seu novo chefe.
Na opinião de Saico Embaló, o Reino de Forreá é também dos “Embalocundas” (chefes tradicionais de Gabu), que o conquistaram nos séculos dos impérios.
“Quando os colonialistas portugueses chegaram à Guiné-Bissau, encontraram os Embalocundas já com Estado organizado e bem estruturado, através das conquistas conseguidas em Forreá, antes das de Gabu. Alguns dos nossos bisavôs estão enterrados nesta terra, concretamente na localidade de Guidali”, referiu.
Por outro lado, aconselhou o seu novo homólogo a seguir o seu exemplo, trabalhando com todos os seus irmãos. “O senhor régulo não deve guardar ódios para nenhum dos seus irmãos e vice-versa, porque são da mesma família. Se entrarem em desentendimentos, outras pessoas estranhas à família real vão roubar o que é vosso, conquistado com suor e sangue pelos nossos antepassados”, avisou.
A investidura de Bocar Baldé como XI régulo em Forreá foi marcada com um ambiente de festa jamais vista na zona. A localidade de Tchemmara foi a anfitriã do evento, que contou com a presença do presidente da Associação dos Régulos da Guiné-Bissau, autoridades administrativas e de um “banho” de multidão, acompanhada de aparato de segurança.
Dezenas de carros e motorizadas quase ensurdeceram a multidão, com buzinas a serem ouvidas um pouco por todo o lado, misturado com sons das músicas moderna e tradicional.
Ibraima Sori Baldé