Voto útil à esquerda concentra votos no PS, que conquista a segunda maioria absoluta da sua história. Bloquistas e comunistas esmagados – mas os comunistas voltam a estar à frente do BE em número de deputados (seis contra cinco). PAN reduzido a um deputado e Livre reconquista reeleição, com Rui Tavares a superar os resultados de Joacine Katar Moreira. À direita, PSD não subiu nem desceu. CDS-PP desapareceu do Parlamento, engolido pelo forte crescimento do Chega (de um para 12 deputados) e da Iniciativa Liberal (de um para oito).
Aconteceu o que nenhuma sondagem antecipou: o PS venceu ontem as eleições legislativas com maioria absoluta. Pela segunda vez na história do partido – a primeira foi em 2005, com José Sócrates – os socialistas lograram eleger mais de 115 deputados (no mínimo 117, provavelmente 119, contando com os dois tradicionais eleitos socialistas nos círculos emigrantes).
António Costa sagrou-se como o grande vencedor da noite e agora pode formar Governo e fazer aprovar o seu Orçamento do Estado para 2022 sem ter de o negociar com ninguém, nem à esquerda nem à direita.
O resultado do PS obteve-se sobretudo por esmagamento do Bloco de Esquerda e da CDU. O voto útil à esquerda funcionou em pleno a favor de Costa. Foi “absolutamente esmagador”, reconheceria Rui Rio, quando pelas 23h20 admitia a derrota e parabenizava o líder do PS. Nessa mesma declaração, Rio admitiria que “o PSD não obteve nem de longe nem de perto” o resultado que pretendia e anunciaria que, tendo o PS maioria absoluta, não estava a ver como poderia continuar a ser útil ao PSD. “Eu não estou a ver como posso ser útil ao PSD, sinceramente não estou a ver.” Tudo indica que brevemente se iniciará no PSD o processo de sucessão.
António Costa fez o discurso da vitória pouco depois da meia-noite, no hotel do costume em Lisboa onde o PS organiza as suas noites eleitorais, o Altis.
Apesar de nessa altura os resultados oficiais ainda não o dizerem – o PS nessa altura só tinha 112 eleitos -, o líder do PS já assumia que o seu partido iria alcançar a maioria absoluta, “com 117 ou 118” eleitos, não contando com os (presumivelmente dois) eleitos pela emigração (a maioria faz-se a partir dos 116 deputados).
António Costa tentou dissuadir todos os medos associados à ideia de maioria absoluta. “Uma maioria absoluta não é o poder absoluto, não é governar sozinho, é uma responsabilidade acrescida”, prometeria. E até existe um “desafio”, que é o de “reconciliar os portugueses com a ideia de maioria absoluta”.
Portanto – acrescentou – esta será uma “maioria de diálogo com todas as forças políticas” e irá “promover os consensos necessários na Assembleia da República e com os parceiros sociais”. Assim, depois de ser indigitado primeiro-ministro pelo Presidente da República, irá reunir com os partidos parlamentar, exceto o Chega (“não faz sentido”).
Quando o líder do PS acabou de falar havia já a certeza que o partido venceria com maioria absoluta. Porém, os resultados definitivos não estavam apurados. Pelas 00h30 de hoje faltavam apurar 18 deputados: 14 no território nacional, dois pelo círculo da Europa e mais dois pelo círculo de Fora da Europa.
Tudo apontava nessa altura que o PSD ficaria com um score mais ou menos parecido – eventualmente um pouco superior – ao obtido em 2019 (27,9 por cento e 77 deputados eleitos). Às 00h30, o PSD tinha 72 deputados (mas, repete-se, estavam 18 deputados por atribuir).
DN