Produção de batata-doce em queda livre no Setor de Bambadinca

O administrador do Setor de Bambadinca afirmou, em entrevista ao Nô Pintcha, que Bambadinca é tida como centro nacional de produção de batata-doce mas, nos últimos tempos, perdeu o prestígio devido à falta do mercado para a comercialização do produto.

Domingos Mutaro Baldé explicou que o Senegal é o único mercado de exportação desse produto, por isso rejeitam-no, à primeira, e só reagem quando o produto perder o valor comercial.

“Os senegaleses precisam de batata-doce guineense, mas por ser o único destino de exportação, disfarçam-se como se não estivessem interessados para que o preço possa cair, por se tratar de um produto difícil de conservar, porque não consegue aguentar mais de uma semana no saco”, esclareceu.

Relativamente à iniciativa do Presidente José Mário Vaz, que convenceu o Governo senegalês para vir comprar batata em Bambadinca, foi uma iniciativa louvável, mas foi sol de pouca dura, ou seja, não teve continuidade. Por isso, o Governo deve pensar na criação de pequenas unidades de transformação de batata ou apoiar pequenas iniciativas, podendo não só incentivar a sua produção, assim como criar postos de emprego para combate à pobreza.

Mutaro Baldé disse que se houver um projeto neste sentido, o Setor de Bambadinca poderá ser uma da cidade com nível de desenvolvimento aceitável, devido às condições naturais e de subsolo e a dinâmica agrícola.

“Não é apenas agricultura que se pratica nesa localidade, mas, na verdade, em Bambadinca existe quase todo o tipo de profissão, desde pesca, carpintaria, comércio, mecânica, serrilharia, construção civil, entre outras”, defendeu, acrescentando que o maior problema é a falta do mercado.

O administrador afirmou que o Setor de Bambadinca tem um potencial enorme para a produção do arroz, podendo produzir em todas as estações do ano e abastecer o mercado local sem qualquer problema, apesar da redução das chuvas.

Quanto às diligências para encontrar um mercado para a exportação dos produtos agrícolas, Domingos Mutaro Baldé anunciou ter iniciado alguns contactos para identificar unidades de transformação senegalesas interessadas em produtos nacionais, sobretudo de batata-doce.

Pesca

No que concerne à pesca, Domingos Mutaro Baldé afirmou que esta atividade é dominada pelos estrangeiros que têm mais condições económicas para adquirir redes autorizadas para a prática pesqueira, sobretudo depois da suspensão do uso da rede thias e os nacionais deparam com limitações para enfrentar o mercado de concorrência.

“A pesca é uma atividade rentável em Bambadinca, sobretudo durante o período da chuva, em que se verifica o aumento da especie esquilão, mas o problema é que os pescadores procuram outras cidades para proceder à venda, caso de Bissau, Bafatá, Gabu e zonas fronteiriças com o Senegal”, sublinhou.

Posse de terra e corte de madeira

Domingos Mutaro Baldé afirmou que o grande problema no Setor de Bambadinca é o conflito sobre posse de terra, porque os ocupantes  tradicionais da terra vendem espaços a mais de três interessados, o que acabam em conflitos e outras pessoas assumem vender terrenos que não lhes pertencem.

“Todos os casos que derem entrada no Comité de Estado são resolvidos amigavelmente, a maioria de negócios são feitos localmente sem o conhecimento das autoridades locais, e só quando precisam de fazer a transferências de documentos ou em caso de litígio é que recorrem à administração”, indicou Mutaro Baldé.

A corte de madeira persiste de forma clandestina, aliás, essa prática se verifica em diferentes comunidades, com fundamentos de abate de árvores para a exploração de carvão de cozinha, o que, na maioria dos casos, termina na exploração de madeira.

Coração da Guiné-Bissau

Apesar do Setor de Bambadinca situar no coração da Guiné-Bissau e por se considerar uma cidade em franco expansão, os dados sobre o consumo de estupefaciente apontam que a metrópole tem registado, nos últimos tempos, índice baixo do consumo de droga e criminalidade.

Mesmo assim, Domingos Mutaro Baldé afirmou que nenhuma sociedade vive livre destes males, mas o certo é que a situação não é tão preocupante como nos tempos pasados, graças a boa colaboração da população com as autoridades policiais.

Aliás, revelou existência de uma boa relação de trabalho entre as diferentes instituições sediadas no setor, incluindo a própria comunidade.

Eletricidade

O administrador disse que a divergência que envolve a antiga e atual direção da associação que gere a empresa Bambadinca Sta Claro está a transformar-se, cada vez, em Bambadinca Sta Sucuro, devido à má gestão, que resultou na realização de uma assembleia-geral. Desta reunião magna saiu uma direção que herdou séries de problemas técnicos e judiciais que condicionam até hoje a retoma do fornecimento da energia.

Questionado se o Comité de Estado não pode assumir a gestão provisória da empresa até ao seu relançamento, Mutaro Baldé explicou que houve uma tentativa por parte da Direção-Geral da Energia, mas não resultou, devido à posição da atual direção da associação.

Contudo, lamentou o facto de não terem conseguido, a tempo, repor a eletricidade aos citadinos de Bambadinca, uma vez que a maior atividade económica das mulheres consiste na produção de gelo e venda de produtos congelados.

Quanto à água canalizada, Mutaro Baldé afirmou que a população já se esqueceu deste luxo, afirmando que no setor só existe fontenários melhorados e bomba manual, que também são insuficientes em relação ao número da população.

Por outro lado, destacou a necessidade dos empresários nacionais e estrangeiros em apostar na criação de pequenas unidades de transformação, como forma de incentivar os agricultores a aumentar a sua produção.

Domingos Baldé apelou às autoridades nacionais, no sentido de prestar mais atenção aos populares de Bambadinca, por se tratar de um povo trabalhador, independentemente da fertilidade da terra. Perante isso, disse que apenas os faltam apoios técnicos, material e mercado para exposição dos seus produtos.

Autarquias

O desenvolvimento regional na Guiné-Bissau continuará a depender da realização das eleições regionais ou antárticas, caso contrário as regiões continuarão a “afundar-se” cada vez mais.

O facto é que cem por cento das receitas provenientes das cobranças do mercado e feiras populares são repartidas entre o Governo Regional que leva 50 por cento, Ministério da Administração Território do Poder Local arrecada 12,5%, e 37,5 ficam para o funcionamento local, incluindo pagamento do salário de funcionários.

“Não sei se esta realidade é a nível nacional, mas acontece na Região de Bafatá”, lamentou, afirmando que com isso não vai poder fazer nada para o desenvolvimento local.

O administrador revelou ainda que a parte da receita enviada para a sede regional e ao Ministério poderia ajudar bastante na melhoria de alguns serviços e realização de projetos para o benefício da comunidade, caso fosse gerido localmente.

Domingos Mutaro Baldé disse que após a sua nomeação, em 23 de agosto do ano passado, removeu o lixo que se encontrava amontoado à entrada da cidade.

De seguida, procurou aumentar a receita e fixar salário mínimo para 50 mil francos CFA. Procedeu ao recenseamento dos trabalhadores para depois descobrir a existência de funcionários fantasmas que recebiam salários.

“Com a dinâmica implementada na cobrança e boa gestão da receita, incluindo séries de reuniões realizadas com feirantes e pequenos comerciantes, registou melhoria substancial na cobrança da receita.

Quanto ao acesso à documentação, o administrador explicou que é um caso sério, sobretudo quando se trata do registo de nascimento de uma criança que perdeu um dos progenitores. “À luz da legislação em vigor, a ausência de um dos pais no ato do registo de nascimento da criança, o nome não deve constar no documento do menino, facto que não tranquiliza muitas famílias ao ponto de recusarem a registar os meninos nessas condições.

Finalmente, Domingos Mutaro Baldé disse ter apelado, durante uma reunião, aos farmacêuticos e proprietários de farmácias locais sobre a necessidade de imprimir maior rigor na observância do prazo de validade dos medicamentos.

Seco Baldé Vieira

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