População e feirantes ganham lado a lado no “lumo” de Bissorã

A feira popular, expressão vulgarmente conhecida no crioulo guineense por “Lumu”, realiza-se na cidade de Bissorã em cada sexta-feira e perante uma enorme aglomeração, onde juntam comerciantes ambulantes provenientes, inclusive, de outras cidades e do vizinho Senegal, camponeses e vários cidadãos comuns.

Ali, como vemos nesta rodada de canto a canto, os feirantes vendem produtos do seu alcance. Alguns trazem consigo produtos manufaturados, importados da Europa ou da Ásia, outros vendem produtos agrícolas do seu próprio calor. Da categoria campesina, aqui destaca-se nesta aglomeração, a presença de uma maioria de mulheres que expõem a rente-chão diversos produtos, nomeadamente mandioca, tomate, cebolinha, manfafa, batatas-doce, bringelas, pimentas, cenouras, amendoin (mancarra), quiabos, malaguetas e demais outros, como peixe seco e calabaceira em bacios grandes.

Dando volta de lés-a-lés, eis que me cruzo com a feirante Teresa Indeque, habitante da cidade de Ziguinchor, na República do Senegal. Ela está a coser um enorme saco que contém muita calabaceira, com a qual irá confeccionar sorvetes para vender as crianças nas escolas. É esse o jeito que ela encontrou para suportar a sobrevivência da família, depois do falecimento do marido. “O meu marido faleceu há quatro anos e agora não tenho como fazer para garantir a sobrevivência das crianças”, lamentou Indeque, que fixa em mim um olhar de muita preocupação.

“Como comprei grande quantidade de calabaceira, essa dá-me jeito de confeccionar sorvetes por um longo tempo. Tenho muitas crianças. Significa que eu tenho de pegar mais teso, caso contrário será difícil para nós”.

Teresa prefere dizer toda a verdade. Com o dinheiro que ela consegue nesta venda sai também a parte para a compra de géneros alimentícios, medicamentos roupa, e material escolar.

Indeque confessa, perante as suas colegas, que frequenta esta feira popular de Bissorã há dois anos. Ela entende que os produtos estão a tornar-se mais caros em relação a tempos passados. “Se comprar o produto aqui, consigo ter um bocado de lucro”, disse e depois sentenciou emocionada, transparecendo amarguras: “Se o meu marido estivesse vivo, de certeza, não teria tantas dificuldades”.

Outra importância da feira

Dafá Nab é funcionário auxiliar de administração do Setor de Bissorã. Na conversa que travamos no seu gabinete, ele explicou que esta feira popular tem muita importância. Ela ajuda no escoamento dos produtos agrícolas de campo para a cidade e facilita muita gente a ter acesso aos produtos, pelo menos semanalmente.

O funcionário revela que muitos camponeses vendem aqui os produtos da sua lavoura e, com o dinheiro obtido, eles resolvem vários problemas em casa e criam um fundo para a temporada agrícola seguinte. O dinheiro serve também para a compra de medicamentos para combater as doenças.

“Essa feira ajuda o Governo local, regional e nacional a resolver vários problemas”, disse e elencou, a título de exemplo, que o dinheiro proveniente da cobrança das vendas dá para pagar o pessoal de limpeza da cidade de Bissorã, o pagamento do salário mensal do pessoal contratado pela administração local, aluguer de camiões para evacuação do lixo,  etc.

A feira se realiza quatro vezes por mês e, assim sendo, uma parte do dinheiro cobrado vai também para o Governo Regional, em Farim, e outra para o Ministério da Administração Territorial e Poder Local, em Bissau.

A grande dificuldade existente é a limpeza da praça de Bissorã depois da feira popular. Faltam meios materiais. Para fazer face, a essa situação, a administração setorial diligenciou um novo local onde a feira popular passará a ser realizada à partir da próxima sexta-feira, dia 10 de fevereiro. Esse local é o campo de Madina, na periferia da cidade de Bissorã. Tem melhores condições de higiene. São construídas casas de banho, tem água e em termos de espaço é maior, pois tem cerca de 300 metros quadrados.

Oxalá, que ali haja mais feirantes e mais negócios!

Bacar Baldé

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