“País registou mais retrocesso do que progresso”

O Presidente do Instituto da Juventude considera que ao longo dos 51 anos de independência, o país registou mais retrocesso do que progresso, e que o legado de Amílcar Cabral não tem sido cumprido.

Em entrevista ao Nô Pintcha, que continua a ouvir diferentes personalidades, no quadro das comemorações de mais um aniversário da independência e do centenário de Amílcar Cabral, Ussumane Sadjo justificou que o Chefe da Revolução sempre almejou transformação e investimento no setor agrário, o que não está a acontecer. Segundo ele, a Guiné-Bissau não tinha necessidades de estar a depender-se de importação de produtos alimentícios, por ter um solo rico para produzir, até porque era exportador.

No entanto, referiu que o retrocesso é provocado por falta de vontade política, razão pela qual, após 51 anos de independência, continuamos sem universidade pública, nem educação de qualidade. “No cômputo geral, concluímos que há muito por fazer para alcançarmos o avanço que pretendemos”.

Apesar de falar em recuos, assinalou que houve “progresso significativo” nalguns setores, não obstante instabilidade política.

Sadjo disse que a situação do tecido social evoluiu, nomeadamente nos setores de cultura, desportos, educação, saúde (abertura de novos centros), e que o multipartidarismo é um ganho importante, embora não se tenha conseguido conservá-lo bem, isto é, as autoridades nem sempre satisfazem as necessidades do povo.

Na sua opinião, a juventude igualmente cresceu bastante com os jovens a assumirem altas funções no aparelho de Estado, embora haja ainda um nível elevado de desemprego.

Por outro lado, fez votos que haja paz e a estabilidade política e governativa, que têm sido irregular, tendo em conta as “guerrilhas políticas que não têm interesse para o povo, porque de nada o servem”.

30 Anos de democracia

Entretanto, prosseguindo na senda de instabilidade, o líder juvenil lembrou que ao longo dos 30 anos da democracia, nenhum governo conseguiu chegar o fim da legislatura. Uma situação que deixa o processo em altos e baixos, visto que o povo faz o seu trabalho (recenseia, vota e participa em diferentes fases do sistema), mas a classe política acaba por deitar quase tudo a baixo, pois vai contra a vontade popular.

Por isso, Ussumane Sadjo defende reformas não só no setor de defesa e segurança, mas também do âmbito político, porque sem as quais não podemos chegar ao destino.

Criticou todos os presidentes da República que passaram desde 1994 a esta parte, pelo facto de não se pautarem pela revisão constitucional.

A seu ver, nos últimos cinco anos, o país “cresceu bastante” a nível diplomático, que o devolveu o prestígio na senda internacional, apontando como exemplo as várias visitas de chefes de Estado de outros países.

Outro facto que levou Ussumane Sadjo a apontar para evolução em tempos mais recentes, tem a ver com “a infraestruturação progressiva” de algumas partes de Bissau, sobretudo a zona baixa da cidade. Isto, apesar de diversas práticas de desestabilização política e social, marcadas por tentativas de golpes de Estado.

Ibraima Sori Baldé

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