O diretor-geral da Agricultura disse que é necessário que o Governo invista fortemente no setor agrário, transformando a agricultura manual em mecanizada, como forma de garantir a autossuficiência alimentar e nutricional.
Em entrevista ao “Nô Pintcha”, Júlio Malam Injai informou que o país dispõe, neste momento, apenas de 79 tratores agrícolas, enquanto precisa, no mínimo, 300 máquinas para fazer face ao desafio de autossuficiência alimentar, maior soberania e dignidade de um povo – dar de comer a si mesmo.
“Temos que lutar para invertermos a situação atual da agricultura, ou seja, sair da agricultura de subsistência alimentar para mecanizada e comercia”, afirmou.
Malam Injai lembrou que, em janeiro último, uma delegação senegalesa que esteve em Bissau revelou aos técnicos nacionais que Senegal dispõe de dois mil tratores, embora tenha mais população e espaço territorial.
Para o diretor-geral da Agricultura, a insuficiência alimentar tem a ver, muitas vezes, com a falta de meios de produção, nomeadamente tratores e insumos agrícolas, daí o agricultor usa o meio a sua disposição mesmo sabendo que não lhe garanta o suficiente.
Êxodo rural
“O êxodo rural é o fator fundamental na queda brusca de produtividade nas zonas rurais. Atualmente, Bissau e capitais regionais transformaram-se em cidades de refugiu dos jovens, que constituem a mão-de-obra ativa no campo e quando não há essa força nos campos agrícolas, a produção baixa e, se baixar a economia das famílias acaba também por cair, colocando-se em zona chamada de ‘risco’ em termos de segurança alimentar e nutricional”, referiu.
Para fazer face aos desafios do setor agrário, Malam Injai anunciou que foi instituída uma comissão encarregue de criação de uma agência de mecanização agrícola no país, para a aquisição de maquinarias, visando o aumento da produção e produtividade.
Em relação ao ano agrícola, Júlio Malam Injai disse esperar uma boa campanha em termos de colheita, isto dependendo da regularidade das chuvas pelo menos até ao final do mês em curso.
Disse que, normalmente, a avaliação da campanha agrícola faz-se precisamente neste mês de outubro, com a participação de várias organizações, nomeadamente a Estatística Agrícola (estrutura governamental), Fundo das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e o Programa Alimentar Mundial (PAM), em conjunto, realizam uma missão de pré-avaliação do ano, mas no entanto ainda não se realizou.
“Neste momento é difícil falar da previsão do ano agrícola, pois só vamos ter informações completas a partir de fevereiro. Recordo que, em 2020, apesar da inundação de cerca de 25 mil hectares e consequente perda de 68 mil toneladas de arroz, conseguimos aumentar mais sete por cento da produção em relação ao ano 2019”, revelou.
Relativamente à plantação de caju, Injai considerou que essa cultura ajudou bastante para o crescimento da economia das famílias.
Afirmou que, apesar do seu rendimento robusto, o processo da cultura de caju foi mal aplicado, havendo agora a necessidade da sua revisão com vista a sua redinamização, visando maiores ganhos para todos os intervenientes da fileira.
“Graças à cultura de caju nota-se o melhoramento de habitações nas zonas rurais e até vê-se iluminação e outras condições mínimas nas casas dos agricultores, além de reduzir drasticamente o nível da pobreza, contrariamente ao que se verificava nos anos 70”, constatou.
Na verdade, a partir dos anos 70 a esta parte, a cultura de caju constituiu o maior peso da economia do país, sendo atualmente a fonte principal de rendimento do Governo por ser o produto básico de exportação da Guiné-Bissau.
Apoio aos agricultores
O diretor-geral da Agricultura disse que o ministério distribuiu aos agricultores cerca de dois mil toneladas de sementes de diferentes variedades, a saber, 800 toneladas de arroz, 250 de mancarra, 250 de feijão, além das sementes de gergelim, milho e outros produtos em pequenas quantidades.
Júlio Malam Injai esclareceu que uma parte do volume de insumos agrícolas foi adquirida pelo Governo e outra pelo executivo senegalês.
O técnico apelou aos agricultores a respeitarem as técnicas culturais, nomeadamente a monda dos lugares cultivados, evitando ervas daninhas que, também, se alimentam da fertilidade disponível no solo.
Aos lavradores de bolanhas com problemas de invasão de água salgada, o Diretor-Geral da Agricultura pediu que mantenham vigilantes às situações de calamidades naturais.
Aliu Baldé