Novo diretor do Laboratório Nacional promete mais dinamismo

O novo diretor do Laboratório Nacional da Saúde Pública promete redinamizar os trabalhos na instituição, de forma a elevar o nível de atendimento, para que possa corresponder às expetativas que nortearam a sua criação, mas lamentou o estado atual em que se encontra.

Em entrevista ao Nô Pintcha, Bacar Demba Embaló fala na possibilidade de uma reestruturação, começando com a criação de uma equipa para elaboração de um programa estratégico, através do qual delinear linhas mestras e arranjar parcerias que possam ajudar a cumprir as metas estabelecidas.

Referiu também a necessidade de controlo de qualidade de água e alimentos, até porque a maioria dos produtos que consumimos (arroz, óleo, farinha, manteiga, maionese, frango, carnes) é importada. “Antes do consumo, esses géneros devem ser controlados laboratorialmente, o que não é o caso”, disse, adiantando que a mesma situação se verifica a nível dos medicamentos, numa altura em que há proliferação de farmácias por todo o país, mas que ninguém averigua a qualidade dos remédios administrados a nível interno.

Em relação a esse assunto, aponta os produtos produzidos internamente, como é o caso de água, que tem várias fábricas no país. “A nossa saúde depende daquilo que consumimos”.

Aquele responsável indicou que o Laboratório Nacional da Saúde Pública (LNPS) é o único de referência e de investigação e é também uma escola. Fez saber que todos os técnicos de análises clínicas, exceto os que estão a estudar na Universidade Jean Piaget ou que se formaram no estrangeiro, fizeram aí a sua formação básica. “Portanto, não só faz exames clínicos, mas também de investigação e estudos, único com esse carater”.

Demba Embaló lembrou que, no passado, o laboratório estabeleceu parcerias com congéneres estrangeiros, com destaque para o Instituto Karolinska da Suécia (universidade pública sueca, uma das maiores faculdades de medicina da Europa).

Disse que neste momento, está a trabalhar em colaboração com o Projeto Bandim, “uma instituição por excelência” de estudos em saúde pública, tendo o LNSP sido o ponto de referência nessa matéria. Os seus técnicos é que são contratados para a realização de tais exames, sendo os outros trabalhos, como a observação das lâminas e certas amostras biológicas feitos no Laboratório Nacional.

“Estado muito delicado”

Sendo técnico da área, o diretor revelou que já tinha a noção da real situação do laboratório que, atualmente, se encontra num “estado muito delicado”, com insuficiência de equipamentos, sem reagentes e falta de manutenção de alguns aparelhos avariados. As dificuldades acrescem ainda, levando em conta que o LNSP não está contemplado no Orçamento Geral do Estado.

Ora, excluído do OGE, o LNSP funciona com fundos próprios, provenientes das análises clínicas. Mas apenas três secções cobram exames, na base de preços “muito simbólicos”, estipulados pelo Ministério da Saúde Publica.

Como exemplo dos obstáculos, apontou a secção de Química, Água e Alimentos, que deve também fazer análise de medicamentos, mas que não funciona há dois anos por falta de reagentes, não obstante a existência de equipamentos. Daí, disse que aquele departamento será uma das prioridades. 

“O Laboratório Nacional precisa ainda de fazer controlo de qualidade interno e externo a nível dos laboratórios regionais, bem como o envio de amostras para outros congéneres da sub-região, o que não se verifica. Outra aposta será reativação desse trabalho para aumentar a qualidade dos serviços, igualmente a nível de todos os laboratórios do país”, explicou.

Além disso, afirmou que as infraestruturas estão muito degradadas e precisam de reparação, pelo que vai bater portas a quem de direito para ver se consegue apoios para a instituição, com vista a sua reestruturação.

Introdução de novos exames

No entanto, o diretor deu conta que, em termos de quadros, o Laboratório Nacional “está bem apetrechado”, embora precise de formações especializadas para poder introduzir novos exames, que ainda não se fazem no país.

A seu ver, não é aceitável que até hoje a Guiné-Bissau tenha de mandar análises de biopsia ou outras, por exemplo, para Portugal ou Senegal, para efeitos de confirmação, uma situação que se deve inverter, formando pessoas nessa área.

Em termos de parcerias, informou que através do INASA (Instituto Nacional de Saúde), recebem ajuda do Fundo Mundial e o Fundo Global, que têm dado apoios direcionados especificamente para as secções de Tuberculose e VIH, dando formação e oferecendo reagentes. As outras secções, como Bioquímica, Bacteriologia, Parasitologia, Hemoparasitologia são asseguradas com fundos internos.   

Mais atenção

O novo diretor aproveitou os microfones do Nô Pintcha para pedir ao governo, no sentido de prestar mais atenção ao Laboratório Nacional por ser o único no país em termos de investigação, tendo referido que “qualquer missão que chega ao país, ligado à saúde, primeira coisa a perguntar é sobre a funcionalidade do laboratório. Vendo o nosso, fica incrédulo, porque sabe como funciona em outros países”.

Na sua opinião, sem a investigação não se pode ter um sistema de saúde funcional e “sem laboratório à altura das suas responsabilidades, bem equipado e com pessoal bem treinado, com meios materiais eficazes”, não podemos ter sistema de saúde que corresponda à aspiração das populações.

Entretanto, Bacar Demba Embaló foi nomeado ao cargo, no passado dia 25 de outubro, através de um despacho do ministro da tutela, sob proposta do presidente do INASA, e empossado no dia 1 deste mês. É mestrado em Parasitologia Médica pela Universidade Nova de Lisboa. Foi bastonário da Ordem dos Profissionais Biomédicos da Guiné-Bissau e ainda supervisor regional dos laboratórios de Biombo. Atualmente, é docente universitário.

Ibraima Sori Baldé

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