As organizações femininas do país exigem do Governo o respeito e cumprimento dos compromissos nacionais e internacionais relativos à defesa dos direitos da mulher que o país adotou. A exigência é quase unânime para várias estruturas de mulheres que o Nô Pintcha ouviu no âmbito do Dia Internacional da Mulher, 8 de março.
A efeméride ficou marcada no país com atividades de “djumbai” (palestras) de diversas organizações e grupos de mulheres trabalhadoras de instituições públicas e privadas defensoras de direitos das senhoras.
A data de 8 de março não apenas foi assinalada com encontros de reflecção mas também as iniciativas de confraternização entre senhoras foram notadas um pouco por todo o país.
A efeméride foi instituída pelas Nações Unidas em 1975, porém, a data consta entre as extinguidas dalista de feriados nacionais na Guiné-Bissau, através de um Decreto do Governo. Todavia, para esse dia, o Executivo emitiu um comunicado na véspera que deu tolerância de ponto para os funcionários públicos.
Na sua mensagem alusiva à data, a presidente da Associação das Mulheres Profissionais dos Órgãos da Comunicação Social (AMPROCS), Paula Silva de Melo, disse ao Nô Pintcha que, na Guiné-Bissau, a nível dos órgãos públicos da comunicação social a representação feminina nas direções é bastante ínfima comparada com a presença dos homens na esfera de tomada de decisão.
“Há 50 anos desde a criação dos quatro órgãos públicos nomeadamente a Agencia Noticiosa da Guiné (ANG), o Jornal Nô Pintcha (JNP), a Televisão da Guiné-Bissau (TGB) e a Rádio Difusão Nacional (RDN) com mais de uma centena de nomeações, apenas duas mulheres chegaram a dirigir a TGB e RDN mas o facto não tem nada a ver com falta de quadros femininos, mas simplesmente é uma discriminação”, disse Paula Melo.
A presidente da AMPROCS lembra que a organização foi criada em 2015 e visa defender os diretos, a formação e a promoção de mulheres profissionais aos órgãos de decisão no setor.
A jornalista disse esperar que o Governo reconsidere a sua posição de extinguir a data de 8 de março como feriado nacional, considerando ser uma efeméride mundial. “Pessoalmente estou contra a medida tomada e acho que a esmagadora maioria das associadas da AMPROCS estão contra a decisão governamental”, admitiu.
Paula Melo sublinhou que, “quando se pede a igualdade de oportunidades entre o homem e a mulher é apenas por uma questão de justiça social, pois não é um favor que está-se a reclamar”.
Melo deixou um alerta às profissionais de comunicação social para a permanente autoformação como forma de garantir a superação das competências na carreira profissional sem que haja necessidade de pedir favores.
Conquista de mulheres
A Plataforma Política de Mulheres da Guiné-Bissau (PPM-GB) é uma organização feminina muito atuante a nível do poder político. Num passado recente, apresentou a proposta da Lei de Paridade na Assembleia Nacional Popular, na qual defendeu a presença, no mínimo 40 por cento de mulheres do total de parlamentares, entretanto conseguiu atingir 36 por cento, considerado razoável.
A REMPSECAO, Rede Paz e Segurança para as Mulheres no Espaço da Comunidade Económica dos Estados da Africa Ocidental (CEDEAO), é a estrutura vocacionada a promover a paz e segurança dentro do espaço comunitário dos países oeste africanos. Participou e promoveu vários seminários sub-regionais, promovendo a paz e segurança enquanto pressupostos básicos que garantem o regular funcionamento de um Estado de direito democrático.
A Rede Nacional de Luta contra a Violência Baseada no Género (Renluv) está preocupada com a progressão de atos de violência no país. A presidente da organização, Aissatu Indjai, é da opinião que só uma justiça célere e bem administrada pode desencorajar atos criminosos públicos que muitas vezes são impunes.
Dados estatísticos apontam para cerca de 52 por cento de mulheres no país, daí Indjai apelou o aproveitamento no sentido positivo para as senhoras se unirem em torno dos seus direitos enquanto maioria da sociedade.
Sofrimentos
Ainda sobre dados estatísticos, o sofrimento da mulher guineense é enorme. A nível da saúde, informações dão conta que, em cada 100 mil mulheres que vão dar a luz 900 perdem a vida, taxa de mortalidade considerada a mais alta do mundo.
Na ausência da garantia da água potável a população, a mulher acaba por ser “escrava da família”. Diariamente perdem sono a procura desse líquido indissociável à vida humana, em algumas localidades percorrem muitos quilómetros sob o sol ardente.
Entretanto, salienta-se que são três datas excluídas no calendário para feriados nacionais, nomeadamente: 23 de janeiro (início de luta armada pela independência), 8 de março (Dia Internacional da Mulher) e 3 de agosto (Dia do Trabalhador Guineense).
O Governo fundamentou no decreto que “a crise financeira e alimentar que tem sacudido o mundo impõe uma nova dinâmica e abre novas perspetivas que assentam na cultura de produção e da produtividade, o que seria contraproducente com tantos feriados nacionais para um país em vias de desenvolvimento como o nosso”.
Aliu Balde