A Região de Biombo é a grande produtora e simultaneamente uma das principais fornecedoras da cidade de Bissau, capital do país, de produtos agrícolas e marinhos. Depois da colheita do arroz, que os homens lavram nas bolanhas durante na época chuvosa, as mulheres ocupam-se de seguida com os trabalhos da horticultura, cultivando debaixo de sol ardente vastos espaços de legumes diversos, nomeadamente tomate, quiabo (candja), bringela, pimenta, malagueta, badjiki, djagatu, entre outros.
A vila de Biombo, banhada pelo oceano Atlântico é também uma das regiões que captura uma grande quantidade de pescado e outros produtos de mar e tem como mercado de escoamento, a cidade de Bissau, a mais populosa do país.
Para impulsionar essa dinâmica, o Fundo Mundial para o Ambiente (GEF, sigla em inglês), através do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) disponibilizou meios financeiros no quadro do Programa de Pequenas Subvenções (PPS) às mulheres horticultoras, visando ampliar o seu espaço de produção e tornar a sua atividade mais rentável.
Em visita de terreno aos campos de cultivo nas aldeias da Secção de Ondame, o representante residente do PNUD, Tjark Eggnhoff, manifestou a sua impressão quanto a área que está sendo cultivada e acrescentou que são poucas as pessoas que conhecem esse trabalho tão árduo.
“A força das mulheres guineenses aqui se vê manifestada no campo tanto no interesse económico, como no desenvolvimento social. A minha outra impressão, acho que tem que haver mais investimentos para essa comunidade, às forças que possam desenvolver essa comunidade, nomeadamente a Educação, a Saúde, mas também as oportunidades económicas da juventude”.
Tjark Eggnhoff, numa breve análise sobre a lastimável situação social visível em Biombo, exprimiu de que ele gostaria de ver, com as comunidades locais, como é que se poderia fazer para que essa riqueza produzida possa ser transformada para o desenvolvimento da Educação e da Saúde e seja uma oportunidades de emprego e de boa produção.
“Eu acho que é um bom começo. Agora temos que ver como é que conectamos esse ponto com essas áreas que fazem com que as comunidades sejam elas próprias a decidir o futuro do seu desenvolvimento”, sintetizou o diplomata.
Por sua vez, a presidente da Associação N´Delugan (empurra-me para frente, expressão em etnia pepel), Júlia Ié, da tabanca de Bidjali, disse ao Nô Pintcha que a produção nas hortas ajuda as mulheres da zona a resolverem as suas dificuldades económicas, pois, com elas conseguem dinheiro para pagar a escola dos seus filhos, comprar arroz para o sustento familiar, camas, assim como vacas e panos para as cerimónias de choro, entre outras coisas.
As mulheres horticultoras não só produzem no campo, mas são elas que levam os seus produtos para o mercado e vendem-nos em diferentes localidades. Nessa produção, as horticultoras precisam de apoios em arame farpado para a vedação das hortas, furos de água e motobombas para facilitar a atividade de rega. Toda a produção é feita de base natural, isto é, sem fertilizantes químicos.
Fábrica de gelo
Na vila de Ondame, as organizações financeiras internacionais apoiaram às mulheres na instalação de uma fábrica de gelo para ajuda-las na sua luta de dia-a-dia pela sobrevivência. Ali, o representante residente do PNUD participou na inauguração oficial da fábrica e exprimiu a sua satisfação pela receção.
“Senti-me muito honrado com vocês. Desde o início da COVID-19 nunca tive tantos abraços. Dá para ver que as mulheres são a força da Guiné-Bissau”.
Em relação as preocupações levantadas, o representante do PNUD retorquiu que a sua instituição está lá para ver o que se pode fazer mais com os seus parceiros, nomeadamente o Governo, as ONG e outras organizações para abrir as oportunidades de emprego e de ganhos para as mulheres de Ondame.
“Hoje estamos a falar do gelo, que é outra maneira de subsistir e de fazer negócio, é bom abrirmos essas oportunidades para os nossos filhos. Pensar que tipo de ensino para eles. E como é que nós podemos fazer para uma comunidade ter os serviços básicos, nomeadamente o acesso a justiça, a saúde, a Educação, a internet para permitir olhar para as oportunidades do mercado e de informação. Acho que ninguém vem cá para decidir para vocês. É preciso que vocês saibam o que querem para a vossa comunidade”, esclareceu Eggnhoff.
Na cerimónia, uma interveniente falou do maltrato que algumas mulheres sobrem em casa com os seus maridos e sobre esse ponto, o representante do PNUD, sem hesitar, referiu que numa sociedade onde não há igualdade entre o homem e a mulher é sempre um problema e ele entende que não há um trabalho só para o homem e outro só para a mulher. “A gente pode fazer tudo na vida para as mulheres fazerem qualquer trabalho. Eu acho que todos nós merecemos uma dignidade em termos de tratamento, de respeito mútuo”, disse e lembrou aos presentes que PNUD criou um espaço de diálogo para as comunidades, onde se fala sobre o papel da mulher na sociedade no sentido de “podermos respeitar um ao outro”.
Dina Gomes Có, coordenadora do projeto de N´Dabaplo, um projeto de Empoderamento Económico-social e Ambiental das Mulheres em Biombo, agradeceu ao PNUD, ao GEF e ao SGP pelo apoio e explicou que com ele sustentam as suas famílias e resolvem vários problemas sociais.
“Sabemos que o Estado não emprega toda a gente. Com o gelo que temos aqui os pescadores compram-no e conservam o seu pescado, algumas mulheres vendem água gelada e ganham dinheiro com o qual pagam a escola dos seus filhos, compram o vestuário, entre outras coisas”.
Num breve balanço sobre a produção da fábrica, a coordenadora do projeto, afirmou que de janeiro a esta data a fábrica produziu 12.185 pedras de gelo de um quilo, sendo consumido internamente 270. O resto foi vendido dando um rendimento de 1.190.600 francos CFA. O valor podia ser mais, mas houve sacos que se rasgaram e não foram contabilizados na venda. A maior produção da fábrica se realizou nos meses de março (3.710 pedras) e abril (2.825).
O empreendimento dispõe neste momento de três arcas-congeladoras em sistema de funcionamento por bateria, tendo cada uma um volume de 450 litros.
Enfim, capacitar as mulheres é capacitar toda a sociedade para vencer os desafios do dia-a-dia. Bem-haja!
Bacar Baldé