A mudança de clima no mar, os parques naturais e a insuficiência de meios por parte dos pescadores nacionais são alguns dos motivos apontados pelos intervenientes do setor que terão estado na origem da escassez de peixe no mercado, nos últimos tempos.
Junta-se a esses fatores, segundo os pescadores, o elevado preço de gasolina e gelo. “Enquanto esses custos não baixarem, dificilmente se poderá falar da redução dos valores desse produto do mar”.
O jornal Nô Pintcha apurou que as recentes apreensões de canoas perpetradas pela Fiscap (Serviço Nacional de Controlo e Fiscalização das Atividades de Pesca) contribuíram bastante para a situação vigente.
As nossas fontes informaram que há morosidade nos processos de soltura de pirogas, mesmo depois do pagamento de multas. Por isso, os pescadores e os proprietários pedem aceleração dos procedimentos.
Nas últimas semanas, dezenas de canoas de pesca foram apreendidas pela Fiscap, alegadamente por falta de documentação, diminuindo assim o número de pirogas em atividade e, consequentemente, a quantidade do pescado no mercado.
Não havendo meios suficientes para competir com outros profissionais, nomeadamente os senegaleses, os pescadores nacionais sentem-se incapacitados de abastecer o mercado suficientemente para fazer face à situação.
Aliás, queixam-se da discriminação em relação aos senegaleses, pois, denunciam que esses são permitidos a pescar na zona abrangida pelos parques.
Pedido de apoio
Em entrevista com os dirigentes da Associação Nacional dos Armadores da Pesca Artesanal (ANAPA), esses disseram não querer entrar em pormenores por ainda estarem decorrer as negociações com o governo, com vista a solucionar a questão da redução dos preços de peixe.
No entanto, o presidente do Conselho Fiscal da organização, Francisco Ampa, pede apoio das autoridades nacionais no sentido de apetrechar os pescadores de meios que lhes permitam competir com os colegas senegaleses (e outros), que recebem muitas ajudas no exercício das suas atividades.
Relativamente aos preços, Ampa é da opinião que o mercado acaba por regular os custos, lembrando o fraco poder de compra dos guineenses, tendo em conta o salário “miserável” que auferem.
Outro pescador que juntou a sua voz aos dirigentes da ANAPA é o João Preto Djú, proprietário de canoa, que aproveitou a oportunidade para apelar à baixa dos preços de combustível, para permitir a redução dos preços de pescado. Explicou que compram um bidão de 25 litros de gasolina a 19.500 francos nas mãos dos vendedores ocasionais.
Por outro lado, disse que o gelo que anteriormente custava 1.500 francos cfa passou para 2.750 a 3.000 mil francos, adiantando que as despesas da pesca acabam quase a não ser compensadas com a venda do pescado.
João Preto considera que, levando em conta todas as despesas, as mulheres vendedeiras (peixeiras) acabam ganhando mais, pois duplicam os preços.
Por seu lado, as peixeiras refutam tais acusações, explicando que vendem de acordo com a compra ao pescador (a grosso), buscando uma pequena margem de lucro.
Sabina Fernandes Bai, uma das peixeiras no Porto de Bandim, comparou o preço de alguns anos atrás a esta parte, exemplificando: “peixe que comprávamos a 750 FCFA, hoje compramos a 1.750 francos”.
A problemática de gelo constitui uma dor de cabeça para as peixeiras. Por isso, Sabina Fernandes apela para o funcionamento da câmara colocada no Porto de Bandim, inaugurada há mais de seis meses, mas que ainda não funciona.
Portanto, a falta de gelo tem causado prejuízos às mulheres bideras, como são também conhecidas no país.
Queixas de vendedeiras e consumidores
Entretanto, outras vendedeiras de peixe com quem falamos lamentam a escassez do produto, porque a mesma acaba por levá-las a comprar mais caro, sendo assim obrigadas a vender a preço elevado, para poderem obter margem de lucros.
No entanto, todas as manhãs, a maioria delas desloca-se ao Porto de Bandim para comprar pescado, com vista a revender em diferentes mercados de Bissau.
Foi por isso mesmo que o jornal Nô Pintcha deu uma volta aos diferentes mercados da capital para verificar in loco a situação de venda, tendo confirmado que há mesmo escassez do produto.
Em contacto com as peixeiras de alguns bairros periféricos, essas não param de lamentar a falta de peixe, elas que são obrigadas a se deslocar vários quilómetros até chegar ao Porto de Bandim ou centro de cidade para encontrar peixe.
Quando não há peixe no Porto de Bandim, as mulheres compram no Projeto de Pesca, ficando o produto mais caro. Às vezes movimentam-se até antigo Serviço Material para arranjar pescado.
Informações dão conta que a espécie Djafal, uma das mais abundantes na capital, é vendida em grades pelos chineses, devido às dificuldades que se verificam atualmente.
Assim, as vendedeiras pedem à intervenção das autoridades competentes no sentido de se baixar o preço de peixe. Segundo dizem, o obstáculo sobre vendas aumenta as dificuldades quotidianas, pois é através desse negócio que conseguem o sustento da família, incluindo o pagamento de estudos para os filhos.
Por sua vez, as compradoras também se alinham pelo mesmo diapasão, acrescentando que agora é difícil comprar mafé com 1.500 ou 2.000 francos CFA. “Quando compras peixe de mil francos, nem dá para partilhar em casa. Nós estamos a passar por muitas dificuldades, tendo em conta a situação de falta de dinheiro com que vivemos neste momento”, lamentou uma mulher, que saía do mercado e com uma cara triste.
Esta semana, o ministro das Pescas e Economia Marítima anunciou que todos os processos tendentes à baixa de preços já estão concluídos, faltando apenas o chefe do governo fazer o anúncio oficial da nova tabela.
Ibraima Sori Baldé